Origem

‘Hobbit da Indonésia’ é um marco misterioso da ciência

Evidências sugerem que o indivíduo teria nascido com síndrome de Down

Por Da Redação
Publicado em 15 de agosto de 2014 | 03:00
 
 
Escavação. Trabalhos de pesquisa são realizados na caverna de Liang Bua, na ilha indonésia de Flores Foto: COMMONS/WIKIPEDIA

Nova York, EUA. Uma descoberta numa caverna da ilha indonésia de Flores, relatada há dez anos, fez um cientista classificá-la como “a descoberta mais importante da evolução humana nos últimos cem anos”. Os ossos fragmentados e apenas um crânio completo de diversos indivíduos levaram os descobridores a concluir que aqueles eram os restos mortais de uma espécie extinta, e anteriormente desconhecida, de seres humanos.
 

Os cientistas australianos e indonésios batizaram a espécie de Homo floresiensis. Alguns passaram a chamar esses seres anormalmente pequenos, que aparentemente viveram na ilha há cerca de 15 mil anos, de “hobbits”. Parecia incrível que pessoas com cérebros do tamanho do de chimpanzés, com um terço daquele do Homo sapiens moderno, tenham conseguido criar as ferramentas de pedra encontradas na caverna ao seu redor.

Quase desde o início, alguns céticos levantaram bandeiras de alerta. Será que o único crânio poderia representar evidência suficiente de uma espécie humana distinta? Aquelas pessoas eram pequenas, sim, mas como o crânio de Flores poderia ser comprovado como normal, e não aquele de um humano moderno com qualquer problema de crescimento que altere o tamanho da cabeça e do cérebro?

Agora os céticos retomaram o debate com dois artigos publicados recentemente no periódico “The Proceedings of the National Academy of Sciences”. Um deles aponta o que são consideradas falhas na pesquisa original. O segundo descreve evidências sugerindo que o indivíduo teria nascido com síndrome de Down.

Entre as falhas, segundo os críticos, estavam subavaliações da estatura e do tamanho do cérebro do esqueleto mais completo, designado como LB1, da caverna Liang Bua. Em sua visão, a estatura do LB1 seria pouco superior a 120 cm, e não 90 cm como na estimativa original. Novas medições do possível tamanho do cérebro foram igualmente maiores.

Os autores do primeiro artigo publicado – Robert B. Eckhardt e Alex S. Weller da Universidade Estadual da Pennsylvania, Maciej Henneberg da Universidade de Adelaide, na Austrália, e Kenneth J. Hsu do National Institute of Earth Sciences, em Pequim – concluíram que os traços cruciais do espécime, conforme descritos originalmente, “não estabelecem a singularidade ou a normalidade necessárias para atender os critérios formais de uma nova espécie”.

Hipótese. O principal autor do segundo artigo sobre a hipótese da síndrome de Down foi Henneberg, professor de anatomia e patologia, com Eckhardt, professor de genética de desenvolvimento e evolução, como coautor.

Com base em um novo exame das evidências disponíveis, os pesquisadores afirmaram que as dimensões revistas do crânio e do fêmur do LB1 entram na faixa prevista para um indivíduo com síndrome de Down naquela região da Indonésia. A estimativa de maior tamanho também se encaixa com algumas pessoas de hoje em Flores e outras ilhas do Pacífico.

Os cientistas também citaram a assimetria do crânio, uma incompatibilidade entre direita e esquerda dos traços faciais, como característica de pessoas com síndrome de Down, uma das alterações genéticas mais comuns em seres humanos. Eles apontaram que ela ocorre em mais de um nascimento humano em cada mil.