Educação

Ioga é aplicada em sala de aula

Metodologia criada por francesa estimula o desenvolvimento e a formação plena do aluno

Ter, 26/02/19 - 03h00

Os benefícios da ioga para o corpo, a mente e o espírito já são comprovados, e a metodologia vem conquistando os profissionais da educação. Em várias partes do mundo, a ioga está sendo levada para as salas de aula. O Ministério da Educação da França, por exemplo, renovou por mais cinco anos o contrato com a Associação RYE (Recherche sur le Yoga dans l’Education) para a formação continuada de professores em várias cidades do país.

Essa abordagem foi criada em 1979 pela então professora de inglês Micheline Flak, que passou a incorporar as práticas de ioga em suas aulas, combinando o currículo escolar padrão com exercícios adaptados da tradição milenar para desenvolver a concentração, a atenção e o relaxamento.

As técnicas do RYE são especialmente adaptadas para sala de aula e incorporadas às matérias ensinadas. Os exercícios são incluídos no processo de aprendizagem, como parte integrante de cada lição, ajudando os alunos a permanecer atentos, relaxados e receptivos, reduzindo significativamente os níveis de estresse do professor e dos estudantes, desenvolvendo a atenção, a memória e a confiança.

Psicóloga e especialista em educação infantil, meditação e ioga na educação, Mariângela Maia propôs, por meio da Associação Mentes Libertas, a prática do RYE na Escola Estadual José Mendes Corrêa, no bairro Salgado Filho, com a intenção de trabalhar a prevenção da violência.

“Minha proposta é contribuir para a cultura de paz por meio da harmonia entre professor e aluno e no processo de aprendizado e desenvolvimento pleno das crianças. A ioga traz para o indivíduo uma dimensão corporal e sensível do mundo a sua volta e reabilita o silêncio no espaço acadêmico”, diz Mariângela.

O RYE é uma técnica baseada na integração de pequenas sequências de exercícios físicos e mentais, que contribuem para a qualidade da aprendizagem, o autocontrole, a flexibilidade e a coordenação.

“A técnica é aplicada na própria sala de aula e oferece uma série de passos que preparam o aluno para aprender. As atividades podem ser executadas antes, durante e entre as aulas. As técnicas de ioga na educação são ferramentas preciosas e simples que ajudam o professor a captar a atenção do aluno, a introduzir tempos de pausas, a ensinar os estudantes a viver juntos, a relaxar, concentrar e criar uma atmosfera de leveza e harmonia no ambiente e no processo do ensino e do aprendizado”, comenta a psicóloga.

A diretora da escola, Carmem Luíza de Oliveira Fonseca Malta, revela que, desde 2016, a ioga na educação já beneficiou 2.000 alunos, do primeiro ao quinto ano, na faixa etária de 6 a 11 anos, que participam do projeto de educação integrada.

“Os resultados são muito gratificantes e têm ajudado nossas crianças que vêm de uma área de grande vulnerabilidade social e violência familiar. Elas chegam à escola com a autoestima muito baixa, mas em pouco tempo passam a descobrir e a acreditar em seu potencial, melhoram seu nível de concentração, aprendem a gerenciar melhor os conflitos, passam a ter consciência de suas atitudes intempestivas com mais facilidade e acatam melhor as orientações dos professores. Os resultados acadêmicos melhoraram muito”, avalia a diretora.

 

Alunos aprovam a metodologia

Com apenas 8 anos, Melissa Pereira Maia, aluna da Associação Querubins, já assimilou o princípio da ioga: “Namastê para mim, namastê para você, namastê para todos”, repete enquanto descreve o que sente quando participa do projeto ioga da escola: “Gosto de praticar porque me deixa mais relaxada. Toda a raiva vai embora. É tão bom que até ensinei para minha mãe, que faz em casa e diz que alivia seu estresse”.

Melissa é uma das alunas que têm se beneficiado do método RYE de ioga na educação, implantado na instituição no ano passado.

A Associação Querubins é uma entidade sem fins lucrativos, criada há 24 anos, que atende crianças e adolescentes da Vila Acaba Mundo, Morro do Papagaio, barragem Santa Lúcia e Olhos D’ Água, por meio da arte.

Os depoimentos dos alunos da Escola Estadual José Mendes Corrêa revelam que praticar ioga em sala de aula pode ser uma experiência transformadora.

Daniel Felipe Santos Vieira, 10, acha a aula muito divertida e legal. “Ajuda a gente a ter concentração e mais atenção no cérebro”. Já Ana Flávia Dias de Paula, 10, destaca: “O projeto de ioga é muito bom porque a gente chega aqui cansado, mas logo fica com atenção e foco nas atividades. Fico mais descansada também”. Para Sarah Victoria dos Santos Batista, 9, o projeto a ajuda a pensar, a concentrar. “Tem dias que eu chego aqui cansada, estressada, nervosa. Com a ioga eu acalmo”, revela. E o que dizer do sentimento poético de Cristofer Daniel da Silva, 10?: “Esse trabalho me ajudou muito. Ele me traz amor, amizade e coisas lindas”.

 

Prática estimula a apreciação do outro

Em 2018, 64 crianças, de 6 a 12 anos, participaram da ioga na educação na Associação Querubins. “A prática trabalha o crescimento harmonioso, incorporando a ioga no dia a dia em pequenas pausas de um a dois minutos antes do dever de casa, na hora de dormir, na hora de acordar, a fim de estimular o desenvolvimento equilibrado da personalidade psicofísica e a melhoria das relações com o próximo”, avalia Mércia Corrêa de Oliveira, coordenadora pedagógica da Associação Querubins.

Atualmente, quatro professoras estão fazendo a formação no RYE e aplicando a técnica nos alunos. São trabalhadas atitudes como: viver juntos, sentir-se parte do todo, eliminar toxinas e pensamentos negativos, adotar uma postura que gere a autoconfiança, respirar bem para acalmar-se, relaxar para manter um bom nível de energia e concentrar-se.

“Essa abordagem estimula a boa convivência e apreciação do outro. A respiração consciente altera padrões cerebrais para sair das emoções desgastantes, libera tensões e traumas do inconsciente e ainda utiliza a meditação como meio de pausa inteligente e autoaprendizado”, finaliza.

 

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