Comportamento

Obra de Regina Navarro Lins explora histórias e tabus sobre sexo

Em formato de pílulas, livro mergulha na história do mundo, explorando como as noções sobre o tema foram se transformando ao longo do tempo

Por Da Redação
Publicado em 02 de dezembro de 2022 | 06:30
 
 
Sexo ainda é uma conversa difícil para muitas pessoas; dica é mudar a mentalidade para se livrar de moralismos e preconceitos Foto: Freepik

“A exclusividade do parceiro ou parceira é uma grande preocupação de homens e mulheres. Ninguém deveria ficar preocupado se há relacionamento sexual fora do casamento. Homens e mulheres só deveriam se preocupar em responder a duas perguntas: Sinto-me amado(a)? Sinto-me desejado(a)? Se a resposta for ‘sim’ para as duas, o que o outro faz quando não está comigo não me diz respeito. Sem dúvida as pessoas viveriam bem mais satisfeitas”. O trecho, que pode parecer polêmico para muita gente, faz parte do livro “Sexo na Vitrine” (Best Seller), obra da psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, que mergulha na história do mundo, explorando, de forma didática e por meio de pílulas, como as noções de sexo e prazer foram sendo transformadas pelas novas descobertas e pelos valores morais e culturais de cada época.  

Lançando-se ao futuro, o livro também mapeia as tendências que se desenham e concretizam em torno do sexo. Uma das expectativas da autora, inclusive, tem forte relação com o trecho citado e diz respeito ao enfraquecimento da compreensão sobre o amor atual. “O amor romântico, aquele que prega que duas pessoas vão se transformar em uma só, está dando sinais de que está saindo de cena. O que é ótimo, porque, assim, ele vai levando com ele a exigência da exclusividade. Por isso a gente assiste hoje a várias novas formas de se relacionar no amor e no sexo”, afirma a psicanalista.  

Segundo a autora, a própria forma como falamos sobre o sexo também deve ser transformada. “Não tenho dúvidas de que daqui a algumas décadas ele será encarado como algo normal, que faz parte da vida”, diz ela, reconhecendo que há, ainda, uma dificuldade ao se falar sobre o tema – tudo isso, fruto de mudanças acontecidas há muito tempo. “Há 2.000 anos, desde que o cristianismo se instaurou, o sexo é visto como algo sujo, feio, perigoso. Não foi à toa que a Igreja criou uma história de danação eterna, de que qualquer pessoa que tivesse pensamentos e desejos sexuais seria condenada à danação eterna. Surgiu um fenômeno, entre o século III e o V, chamado ‘fuga para o deserto’, em que milhares de pessoas foram massacrar os seus corpos para se libertar da danação eterna”, explica. 

Segundo Regina Navarro Lins, o século XIX também teve influência na dificuldade em conversar sobre sexo, principalmente porque foi uma época de muita repressão. “Existia uma ideia de que a mulher não podia gostar de sexo. Os homens, mais ou menos. Eles podiam ir aos bordéis. O sexo para mulheres era exclusivamente para a procriação”, conta. 

Conforme a psicanalista, as coisas começaram a mudar com a pílula anticoncepcional, período em que o sexo se dissociou da procriação e se aliou ao prazer. “A partir daí, surgiram os movimentos de contracultura, movimento feminista, movimento gay, movimento hippie, toda a revolução sexual. Nós estamos em um processo de mudança das mentalidades desde os anos 1960, estamos no meio desse processo. Hoje ninguém diz mais que o sexo é sujo, feio, perigoso, mas no inconsciente esses valores ainda continuam para muita gente e se manifestam com essa dificuldade de conversar sobre o assunto, de falar sobre ele”, afirma.  

Falar sobre sexo ainda gera receio 

A vendedora Pâmela Perucci, 22, reconhece que ainda existe dificuldade ao se falar sobre sexo. Ela mesma diz que a conversa pode se tornar mais fácil dependendo da pessoa com quem se está falando. “Hoje ficou mais fácil o acesso às informações, contudo muita gente tem certo receio de conversar sobre. Mas não acho que tenha razão (para se evitar o tema). Quanto mais a gente conversar, melhor vai ser, porque ficaremos mais inteirados sobre o assunto”, acredita. 

O professor de inglês Adriano Reis, 46, corrobora a crença da vendedora. Para ele, há uma necessidade de se explorar a temática de forma aberta e verdadeira. “Todos vão se beneficiar disso”, pontua. Ele pondera ainda que o assunto deve ser discutido entre as famílias, principalmente para falar sobre relacionamentos saudáveis. “Não é só ter relação sexual. Isso deve acontecer com a pessoa certa, no momento certo e da maneira correta. É algo que envolve sentimentos e parte psicológica, não sendo algo restrito ao físico. Portanto, falar abertamente de sexo é o melhor caminho”, afirma.  

Para tornar o assunto mais natural e diminuir receios, a psicanalista Regina Navarro Lins acredita que seja fundamental que todos reflitam sobre crenças e valores apreendidos para que seja possível livrar-se dos moralismos e preconceitos. No trabalho – que inclui, além do atendimento clínico, a experiência como docente de Psicologia na PUC Rio, a atuação no “Amor & Sexo”, da TV Globo, apresentação de programas de rádio, colunas escritas para diversos jornais e 14 livros publicados –, a psicanalista conta que tenta sempre contribuir para que as pessoas consigam mudar a mentalidade. “Isso é mudar a forma de pensar e viver. Muita gente, apesar da insatisfação que vive do ponto de vista amoroso, sexual, se agarra aos padrões conhecidos. Por isso é importante ter coragem para se viver melhor”.