Brasil

OMS muda padrões para hora de dar à luz e indica parteiras

Modificações foram baseadas em estudo da USP, que analisou cerca de 10 mil mulheres

Sáb, 01/09/18 - 03h00
Malu veio ao mundo há dois meses com ajuda de doula | Foto: Daniel de Cerqueira

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Há quase dois meses, a vida da jornalista Luciane Evans, 34, mudou completamente. Ela deu à luz a pequena Malu por meio do parto normal humanizado. “Estava com meu marido e a doula do lado. O médico me orientou respeitando, principalmente, a posição mais confortável para mim. Senti-me respeitada em todos os sentidos. Como mulher, fui protagonista do parto”, afirma a jornalista.

Para garantir o bem-estar e a saúde de mães e filhos como Luciane e Malu, a Organização Mundial da Saúde (OMS) mudou as regulamentações do parto normal. Entre as novidades, por exemplo, está a não padronização do tempo que o processo pode durar, já que cada mulher responde de forma diferente a essa atividade. Há também a recomendação para que as tradicionais parteiras acompanhem mãe e recém-nascido nesse período.

As alterações foram feitas com base no projeto Bold (siga em inglês para “Better Outcomes in Labour Difficulty”, algo como “melhores resultados em dificuldades do trabalho de parto”), realizado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. 

Entenda. A equipe brasileira estudou cerca de 10 mil mulheres que deram entrada em trabalho de parto nos hospitais da Nigéria e da Uganda, na África, países que têm os maiores índices de mortalidade materna e perinatal. As informações para a pesquisa foram de mulheres que chegaram ao hospital em início de trabalho de parto espontâneo e apresentavam dilatação menor que 6 cm.

Os pesquisadores verificaram que a evolução do parto normal não segue à risca o partograma, uma espécie de ferramenta gráfica que serve de indicação para os médicos no momento de dar à luz. A referência de parto mais utilizada – 1 cm por hora de dilatação do colo do útero em mães de primeira viagem –, por exemplo, foi desenvolvida nos anos 50. “Essas novas orientações devem influenciar diversos países, inclusive o Brasil, num futuro próximo”, afirmou João Paulo Souza, um dos pesquisadores ao “Jornal da USP”. 

Para Luciane Evans, o resultado foi tão positivo, que ela afirma que vai escolher o parto normal numa futura gravidez. “Não pensarei duas vezes se eu engravidar de novo. Precisamos tornar todo esse processo natural e humano, como ele é, de fato. É por isso que vou criar a Malu ensinando a importância do parto humanizado”, conta. 

‘Resultados são positivos, mas há ressalvas’, avalia obstetra

“Os dados observados são úteis para que outras mudanças aconteçam”, afirma o obstetra Clóvis Antônio Bacha, coordenador de Serviços de Gestação de Alto Risco do Hospital da Mulher e Maternidade Santa Fé. “O estudo mostra que, em condições extremas de falta de assistência médica adequada, o partograma hoje utilizado, pode ser desconsiderado”, afirma.

O especialista aponta outra vantagem. “Vemos que o trabalho de parto, sem intervenções, demora mais e, desde que adequadamente monitorado, não elevará o risco de mortalidade materna e fetal”. 

Apesar disso, Bacha aponta ressalvas. “Devemos nos atentar que o parto hospitalar não é o vilão ou que o parto sem intervenções é o vilão da vez. No futuro, descobriremos que a verdade está no meio do caminho e no ponto em que radicalismos não se encontrarão”, orienta o médico. 

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