Estudo

Ouvir música ao dirigir pode diminuir estresse no trânsito

Motoristas, entre 18 e 23 anos, foram avaliadas ao longo de dois dias

Sáb, 16/11/19 - 06h00
Em frente ao Colégio Loyola, filas duplas e trânsito intenso na hora do rush | Foto: LINCON ZARBIETTI 14.7.201

O estresse no trânsito é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e complicações súbitas no coração, como um infarto, apontam pesquisas publicadas nos últimos anos.

Uma das medidas para diminuir esse perigo pode estar em selecionar melhor a playlist de músicas que se ouve ao volante.

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) indicou que dirigir ouvindo músicas do gênero instrumental alivia o estresse no coração. Os resultados do trabalho foram publicados na revista “Complementary Therapies in Medicine”.

“Constatamos que ouvir música ao dirigir atenuou o estresse no coração das motoristas participantes do experimento que conduzimos”, disse o professor da Unesp e coordenador do projeto, Vitor Engrácia Valenti.

Os pesquisadores analisaram os efeitos da música no estresse do coração de cinco mulheres saudáveis com idades entre 18 e 23 anos, consideradas condutoras eventuais, ou seja, que dirigem de uma a duas vezes por semana – e que tiraram a carteira de habilitação recentemente.

“Optamos por avaliar condutoras não habituais porque as que dirigem com frequência e há mais tempo já estão melhor adaptadas a situações de estresse no trânsito”, explicou Valenti.

Estudo. As voluntárias foram avaliadas ao longo de dois dias, em situações diferentes e de modo aleatório. No primeiro dia, elas dirigiram durante 20 minutos, em um trajeto de três quilômetros, numa região movimentada da cidade de Marília, no noroeste de São Paulo. O teste foi feito no horário de pico, entre 17h30 e 18h30, sem ouvir música.

Em outro dia elas refizeram o trajeto, com a mesma duração e no mesmo período do dia, ouvindo músicas instrumentais com um aparelho de som acoplado ao carro, já que o uso de fone de ouvido é classificado como uma infração de trânsito.

Os resultados das análises mostraram uma diminuição da variabilidade da frequência cardíaca das voluntárias ao dirigirem sem ouvir música, indicando uma redução da atividade do sistema nervoso autônomo parassimpático (que induz a desaceleração dos batimentos cardíacos) e a ativação do sistema simpático (que acelera os batimentos cardíacos). “Ouvir música diminuiu a leve sobrecarga de estresse a que as voluntárias foram submetidas ao dirigir”, diz Valenti.

Na avaliação do professor da Unesp, os resultados do estudo podem contribuir para a criação de medidas preventivas cardiovasculares em situações de estresse exacerbado, como a vivenciada no trânsito.

Avaliação buscou eliminar a interferência de hormônios
O estudo teve a participação só de mulheres para controlar as influências relacionadas aos hormônios sexuais, explicou o pesquisador Vitor Engrácia Valenti.

“Se misturássemos mulheres e homens, e se houvesse uma diferença significativa entre o primeiro e o segundo grupo, o resultado poderia levantar dúvidas de que as diferenças estariam relacionadas à influência do hormônio sexual feminino”, disse Valenti.

O professor da Unesp também ressaltou que, para aumentar o grau de estresse, as voluntárias dirigiram um carro que não era o delas. “Porque, se cada uma dirigisse o próprio automóvel, o nível de estresse seria reduzido”, afirmou. “Ouvir música pode ser uma medida preventiva a favor da saúde cardiovascular”, finalizou.

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