toque vintage

Adorável vizinhança 

Empresários de setores como a moda escolhem casas antigas para montar os seus negócios e dão um charme para o varejo da cidade

Por Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2015 | 03:00
 
 
A casa da rua Cristovão Colombo, na Savassi, preserva sua fachada que é tombada pelo Patrimônio Histórico e hoje virou o Inkonik Tattoo Studio Foto: LEO FONTES / O TEMPO

O que é preciso para abrir uma loja? Um bom ponto comercial, uma calçada agitada e uma vitrine bem bonita...? Nem sempre! Na contramão do desejo de consumo espelhado por todo o lado, onde são exibidas todas aquelas peças que a gente precisa comprar, mas nem sempre vai usar, marcas mineiras e projetos bacanas estão “invadindo” as casas antigas e tombadas pelo Patrimônio Histórico na capital e se apropriando de espaços repletos de histórias – e com o charmoso toque vintage – para abrir suas portas, literalmente. Tímidas, nem sempre com vitrines, a portinha voltada pra rua ganha, no máximo, uma placa na fachada para mostrar que ali não deixa de ser um espaço comercial. Para ver, é preciso bater e entrar só pra assim conhecer.

Foi justamente esse o mote para recuperar a antiga morada do alfaiate Hermano Augusto do Carmo (1933-2013), na rua Santa Rita Durão, e que hoje se transformou em A Alfaiataria, empreitada temporária que, desde abril deste ano, preserva a memória do Hermano dando um novo fôlego fashion pra cidade. Um dos cômodos da casa é destinado a uma nova geração de estilistas e designers em começo de carreira e com trabalhos autorais, em uma loja compartilhada onde há espaço para todo mundo.

À procura de vizinhança

A fim de expandir a sua loja, a Adô, marca de bolsas e acessórios belo-horizontina, no mercado desde 2008, no Prado está de mudança e abre a porta de sua casa no mês que vem em uma residência de muros vermelhos, construída em 1909. Em meados dos anos 20, era conhecida como Salão Vivacqua e recebia saraus literários com presenças ilustres de Pedro Nava, Drummond e muitos outros poetas que fizeram história. “Foi aí que a paixão cresceu ainda mais. Inclusive, existe um livro sobre a casa, que conseguimos comprar num sebo virtual e que a cada página traz uma nova informação especial sobre o lugar”, conta Tatiana Azzi, que já namorava o local ao lado da sua sócia Fernanda Dubal, mas não sabia da história da casa até chamá-la de “sua”. Por também ser tombada, a fachada não pode sofrer modificações, o que não incomodou em nada as designers.

Em breve, repaginada com o nome de Casa da Adô, as proprietárias se preparam para conviver na nova vizinhança, que fica na esquina das ruas Gonçalves Dias e Sergipe, perto da praça da Liberdade, e promete acrescentar toques vintages à decoração da nova loja. “Somos apaixonadas por arquitetura, e já paquerávamos essa casa quando nem pensávamos em mudar. A casa tem uma localização incrível, além de ter espaço suficiente para abrigar o atelier, o escritório e e-commerce e, claro, a loja”, conta Tatiana.

Encontro de gerações

Como quem convida a vizinha para tomar uma xícara de chá na sua casa, a La Collezionista abriu suas portas há menos de um mês no Funcionários, em uma casa nos anos 30, assinado pelo arquiteto italiano Francisco Farinelli e hoje tombada. Apesar de restaurada para abrigar a sapataria contemporânea, ela preserva todas as suas características para que a tradição se conecte com a modernidade. De acordo com a proprietária e estilista Tânia Diotaiuti, a casa já era uma velha conhecida. Em outros tempos, por volta da década de 90, a garagem tinha porta aberta para a rua e oferecia serviço de conserto de calçados do sapateiro “Seu Primo”. “Para abrir a empresa, que faz sapatos artesanais, queria um espaço que já tivesse uma história e pudesse fazer parte de mim. Me lembrei da sapataria que funcionou aqui e que tem a ver comigo. Eu morava aqui perto e me lembro de levar sapatos para consertar aqui. Então, acho que a casa me escolheu, e hoje eu vivo mais nela do que na minha própria residência. Não consigo chamá-la de outra coisa a não ser de casa”, conta.

A casa La Collezionista possui três quartos que viraram o escritório e o estoque. A loja propriamente dita fica na sala de estar bem iluminada com as janelas de madeira que servem como um aperitivo da vitrine e dão para um quintal com grama e com a cia de uma goiabeira de 150 anos. “Também mantenho a copa, que virou a cozinha da casa, onde recebo os clientes para um café ou um chá”, relata.

Não muito longe dali, na rua Cristovão Colombo, na Savassi, no número 265, o tatuador Junnio Nunes, juntamente com os seus outros dois sócios, resolveu construir o Inkonik Tattoo Studio em uma casa também histórica. A fachada preservada com janelas de madeira, ganhou a cia apenas da placa, deixando o estúdio, todo reformado por dentro, com ares mais reservados. “Acaba que o local continua de frente pra rua, o que é ótimo. Vendo a construção antigamente, tudo parece ser mais caprichado do que hoje”, diz Junnio.