união do design

Cosa Nostra 

Design sentimental é o que move os irmãos Alvarenga, Susana e Marcelo, cabeças da ALVA; marca que é pura delicadeza e promete ser clássico contemporâneo; conheça-os

Por Da Redação
Publicado em 18 de janeiro de 2015 | 04:00
 
 
Estante Cross, em louro preto e vidro, é uma das mais novas criações da dupla Foto: alva divulgação

A união do design e da arte tem verniz afetivo no trabalho dos irmãos Alvarenga, Susana e Marcelo, à frente da ALVA Design. A marca de objetos, criada em 2012, sela uma parceria familiar que revela as afinidades e embates saídos do lar. Um verdadeiro negócio de família.

De Perdões (MG), Marcelo é arquiteto, sócio do escritório Play Arquitetura (com Juliana Figueiró), já listado como jovem talento pela “Wallpaper”. Com experiência em projetos autorais e os escritórios de Isay Weinfeld e Freuza Zechmeister no currículo, é ele é quem dá o tom mais funcional dos produtos. Susana é artista, a peça subversiva do encaixe. Formada em Belas Artes e estilismo, esteve durante oito anos à frente das coleções da Coven. Aos poucos foi se desconectando, até passar a se dedicar mais às artes plásticas e ao design. A moda agora é sua atividade secundária (atualmente faz também vestidos de noiva). “Meu interesse pela moda sempre foi mais pelo aspecto do design do produto. Eu me lembro de que na prova para o curso do estilismo havia uma pergunta sobre como eu me via dali a tantos anos. Respondi que me enxergava fazendo as duas coisas. Mas acabei absorvida pelo mercado. Estou num movimento contrário”, diz.

Os olhares complementares, cada um em seu campo, também causam algum choque na construção de um produto final. “Temos maneiras de pensar diferentes, que se encontram e se instigam duplamente”, afirma Marcelo. “Eu tenho formação em design, foco na funcionalidade. Já a Su gosta das subversões o tempo inteiro. Para ela, quanto menos funcional, mais interessante, e me pegar por esse ponto é muito doloroso. A ALVA parte desse ponto de equilíbrio, e esse exercício nos é muito proveitoso”, diz. As conversas, no fim, fazem com que o processo seja rico para ambos. “Em várias discussões acirradas, em que afirmo algo com convicção, volto no dia seguinte para conversar com Marcelo dizendo: ‘Sabe aquilo que você falou ontem? Não é que tinha razão...?’ (risos)”, conta Susana. Além de objetos “principais”, como gaveteiros e aparadores, que eram, segundo Marcelo, uma vontade de Susana, a ALVA produz acessórios que vão de espelhos arrematados por tranças de crina de cavalo a toalhas de piquenique. Todas as peças têm sua força na delicadeza dos detalhes.

Vô João

O apuro artístico da família não poderia ser por acaso, mas a descoberta da origem, segundo os irmãos, se deu com o tempo. “Sempre pensamos que essa influência viesse de nossa mãe. Era ela quem pintava, cantava, costurava... Tudo sem formação, mas voltada para essas coisas”, diz Marcelo, que já pintava aos 9 anos. “Depois, mais recentemente, começamos a notar a influência desse avô, que é pai do nosso pai”, afirma. “Ele era pouco ligado à estética, mas totalmente voltado à funcionalidade. E gostava de fazer as coisas, botar a mão na massa. Cozinhava em casa, tinha uma pequena marcenaria, fazia jogos de xadrez, rédeas de cavalo (a ALVA tem uma linha inspirada no tema), tamboretes...”, conta. “Eu me lembro muito do balainho e da touca”, completa Susana, emendando uma história: “Quando éramos crianças, gostava de nos ensinar a jogar dama e xadrez, com jogos que ele mesmo fazia. E não nos tratava como crianças, não. A gente com 5, 6 anos. Ele tentava ensinar, e quando íamos mal dizia: ‘tá muito ruinzinho, pode treinar mais’ (risos). Certa vez percebeu que eu tinha o interesse e quis me presentear com um jogo de xadrez. Já estava mais velho, mas, ainda assim, fazia as coisas até o fim. Eu me lembro do Marcelo me entregar o jogo e comentar: ‘olha, esse é o mais artístico que ele já fez’. Porque as peças eram todas disformes”, conta Susana. “As coisas que ele executava em geral eram feias, mas orgânicas e especialmente funcionais, porque vinham da observação, de alguma forma era rico”, completa Marcelo.

Presente e futuro

Atualmente a ALVA tem uma linha representada pela Etel Interiores e teve seus produtos expostos na última feira Made – Mercado de Arte e Design –, que aconteceu em novembro passado no Jockey Clube, em São Paulo. Também tem parcerias travadas com outros designers, como a joalheira Tatiana Queiróz e a artista Ana Vaz.

Um dos maiores desafios do design autoral, no entanto, é a dinâmica entre fabricação, distribuição, divulgação e comercialização dos produtos. Neste ano, a dupla pretende ampliar sua rede de representações. “Estamos achando o caminho da venda, tanto por causa de custo quanto pela própria dinâmica. Nesse aspecto os parceiros são muito bons”, diz Susana. “A meta é fazer a ALVA chegar a mais pessoas. Também distribuir o tipo de fornecedor para potencializar várias frentes e construir parceiros”, arremata.