Entrevista

O desafio de ser o mais sustentável possível

Oskar Metsavaht, diretor criativo da Osklen, fala da coleção de verão 2020 que criou ao lado da primogênita, Caetana

Dom, 18/08/19 - 03h00

Há 20 anos, a Osklen usou algodão orgânico pela primeira vez. Naquela época, não se falava de sustentabilidade como nos dias de hoje e, no Brasil, não havia histórico de práticas sustentáveis por parte de outras etiquetas. A cada ano, a marca reitera seu apreço por essa questão em tempos que a escassez de recursos naturais é tão discutida.

A marca, que completa 30 anos de existência em dezembro deste ano, lançou recentemente sua mais nova coleção, batizada de “Janeiro” – mais uma pesquisa de desenvolvimento de materiais e processos sustentáveis, como um novo tipo de tingimento que reduz até 80% do consumo de água, e o uso da pele do pirarucu, peixe da região Amazônica, outrora descartada como resíduo porque só se aproveitava a carne. Na Osklen, torna-se uma espécie de couro alternativo. Os solados reciclados são feitos a partir da reutilização de aparas de borracha.

Todo o processo de criação foi desenvolvido no estúdio da marca em Nova York. “A coleção é uma homenagem ao mês das férias, esse período festivo entre o réveillon e o Carnaval, uma das expressões máximas da vibração e o joie de vivre carioca, berço e inspiração da cultura da Osklen”, descreve o diretor criativo e fundador da marca Oskar Metsavaht, 58.

Vale dizer que Janeiro é também o nome de um novo hotel do Rio de Janeiro, localizado no bairro Leblon, que ele também inaugurou neste mês e que, obviamente, também preza por práticas sustentáveis. “É um minicosmos de Rio de Janeiro sob o meu olhar, onde procuro um equilíbrio entre a simplicidade e a sofisticação”, conta.

Estreia

A linha de verão 2020 também marca a estreia de Caetana Metsavaht, 26, sua filha primogênita e designer de moda, no processo de criação, assinando a coleção ao lado da diretora de design Juliana Suassuna. “Ela sempre colaborou com a marca, dá suas opiniões e divide seu ponto de vista como uma mulher jovem”, conta o pai. “Caetana começou estagiando na Osklen, depois passou um período em Nova York cuidando do nosso posicionamento lá, e agora participa diretamente na concepção dessa coleção cápsula, como assistente de direção de criação e estilo. Não temos conflitos de ideias e sim olhares complementares”, esclarece.

Oskar conversou com exclusividade com O Tempo em Minas Gerais sobre a nova coleção e os desafios de se produzir em processos sustentáveis e conscientizar o cliente sobre o consumo.

 

Minientrevista

Que características enxerga em sua herdeira que a diferenciam do seu estilo e quais as que a aproximam?

Não acredito que temos estilos diferentes. A Caetana é uma representante genuína desse lifestyle Osklen, ela cresceu nesse universo. Mas ela traz o fresh da geração dela e um olhar mais próprio em detalhes, tanto da coleção, quanto do estilo e mood das campanhas, que ela colabora comigo. Caetana morou e estudou em Londres, em Los Angeles, Firenze. Lugares onde também circulo, mas de forma e em contextos diferentes. Isso tudo misturado, às nossas viagens juntos a Paris e Veneza, ou Tóquio à trabalho, ao Taiti, Tanzânia, Aspen, Indonésia em férias. Ela é uma carioca do arpoador que tem uma experiência cosmopolita. Ela enriquece a Osklen em detalhes que vêm de um estilo de vida próximo ao meu, mas com seu próprio filtro. Nos ajuda – à mim, à Juliana e à nossa equipe – a deixar mais diversa a Osklen sem perdermos o estilo próprio que construo para a marca. Idem meus filhos, Thomás e Felipe, que estão agora passando 40 dias surfando, fotografando e filmando a coleção Osklen Surfing.

Como não deixar que a intimidade que naturalmente têm interferir no trato profissional?

Caetana é muito profissional, dedicada e se relaciona comigo e com os outros profissionais da marca, assim como qualquer pessoa da equipe. Claro que a intimidade traz críticas sempre sinceras de filha para o pai, e vice-versa, o que é ótimo e muito rico para nós e para a Osklen.

Muitas peças da Osklen são produzidas em processos sustentáveis com tiragem limitada. Isso resulta em um preço alto?

Sustentabilidade é inovação, que requer pesquisa, testes e investimento, e isso é caro. Por isso, a inovação não pode estar comprometida com a escala, padrões e preços, é inviável. A percepção de preço é relativa, ela muda quando o consumidor passa a enxergar a cadeia produtiva de uma peça, a história que ela carrega até chegar ao seu armário, e entende a responsabilidade socioambiental sustentável como um critério obrigatório para sua decisão de compra.

Como ser sincero e correto nos métodos de produção da cadeira produtiva e driblar o consumo desenfreado do fast fashion que prega o desejo e a novidade?

A ética de um produto está em toda sua cadeia de desenvolvimento. Se ela é transparente, justa, se empodera, se gera qualidade de vida para as pessoas envolvidas e se há preocupação com os recursos naturais. A ética também está no design, na originalidade da criação. O luxo contemporâneo se encontra no equilíbrio entre qualidade, o esteticamente belo e uma origem sustentável socioambiental e cultural. Considero esse novo luxo um valor do século XXI.

Dentro desse contexto, qual, na sua visão, será o futuro da moda em geral? Acredita que as marcas vão se adaptar às mudanças do mercado?

A sustentabilidade só será o único caminho possível, quando nós – falo aqui como consumidor – mudarmos nosso padrão de consumo e passarmos a enxergá-la como um critério obrigatório para nossa decisão de compra.

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