Versatilidade

Repetir roupa está permitido

Em tempos de consumo racional da moda, saiba como aproveitar a mesma peça em vários looks – e ter um armário mais enxuto e versátil

Dom, 07/05/17 - 03h00

Foi durante o período do Primeiro Império Francês (1804 – 1815) que Napoleão Bonaparte decidiu proibir as damas de repetirem roupas na corte – na verdade, a iniciativa não passou de uma medida para proteger e desenvolver a indústria têxtil de seu país, com vistas a incentivar o consumo. Mas os tempos são outros e, sim, dá para sobreviver com pouquíssimas peças no guarda-roupa, sem fazer do repeteco de roupas um drama.

É o que mostrou Caroline Martins, 31, ex-participante desta edição do “Masterchef Brasil”, eliminada na semana passada. Após receber críticas de internautas sobre o fato de aparecer, no reality show, usando sempre as mesmas vestimentas, a moça, por meio de um “textão” publicado em suas redes sociais, relatou seu processo de desapego, focado em um armário enxuto a partir dos 27 anos, quando se preparava para um pós-doutorado nos EUA.

Na rede, a participante afirmou que repetia as roupas porque tinha pouquíssimas peças no armário, fruto da decisão radical de levar uma vida mais frugal. “Me desprender do consumismo excessivo foi uma das minhas melhores decisões. Então, coleguinhas que me perguntam, a resposta é: sim! Só tenho estas roupas! E, sim! Só tenho duas botinhas! Com muito orgulho!”, escreveu Caroline, que, além de cozinheira, é física e pesquisadora de energia nuclear.

Apesar da repercussão recente do episódio, fazer escolhas mais práticas e sustentáveis na hora de se vestir não é propriamente algo inédito. Nos anos 70, a britânica Susie Faux criou o termo “armário-cápsula”, que consiste em um guarda-roupa sem excessos e repleto de itens essenciais e atemporais que possam render looks sempre versáteis. O modelo se intensifica cada vez mais e ainda inspira iniciativas sociais e de consumo consciente, como o Fashion Revolution – o movimento aconteceu de 24 a 30 de abril em cerca de 30 cidades do Brasil, incluindo Belo Horizonte, e debateu o papel de todas as partes envolvidas na chamada “cadeia fashion”.

Estilo de vida. Assim como a ex-participante do “Masterchef”, a designer de moda e represente local do Fashion Revolution Raíssa Leão compartilha do ideal de se vestir com consciência. “A primeira mudança que senti foi no meu bolso. Hoje consigo me abastecer de outras coisas que não sejam só moda. Compro muito menos, pois tive o discernimento para adaptar meu armário ao que preciso”, relata ela, que defende o modo slow de consumir moda, fazendo coro à cozinheira. E a empreitada parece ter dado certo: “Eu me sinto muito mais feliz quando faço uma compra sabendo que estou ajudando alguém perto de mim, do meu bairro, da minha cidade, consumindo moda e iniciativa locais”.

Apesar dos benefícios advindos dessas escolhas, a professora de comunicação e consultora de moda Luiza Oliveira lembra que este “novo” momento da indústria ainda gera certas dúvidas. E um primeiro passo para dar mais espaço a essa nova consciência seria reconhecer o próprio estilo. “Muitas pessoas acreditam que consumir conscientemente significa comprar uma vez ao ano, por exemplo. Mas não adianta comprar pouco e não usar o que tem – é desperdício da mesma maneira”, pondera. “O ideal de consumo consciente é ter a certeza de que o que compramos terá de fato utilidade, que vamos ter tempo de cuidar do produto com durabilidade e que vamos usá-lo em diferentes ocasiões”, ensina Luiza, que defende também a repetição de roupas como parte importante do rol de hábitos conscientes.

Na prática. Essa filosofia é o que a designer de moda e digital influencer Iara Paixão também tenta exercer em seu dia a dia na hora para fazer boas escolhas. “Não vejo problema nenhum em repetir roupas e faço isso sempre. Mas prefiro comprar peças básicas para poder misturar e repetir sem ninguém perceber”, indica.

Para fazer novas combinações com as peças já existentes, Iara gosta de variar acessórios, como colares, brincos e bolsas. “Brincar com sobreposições também é uma maneira ótima de não parecer que está com a mesma peça. Em síntese, variar acaba sendo uma palavra de ordem”, ensina, com sabedoria.

Raíssa Leão acrescenta: “A primeira dica é abrir o guarda-roupa e separar as peças que realmente não são mais usadas. Com certeza alguma pessoa está precisando delas. O próximo passo é rever, entre as roupas ‘paradas’ por algum motivo e que você pretende conservar, se cabe uma customização, torná-la usável de outra forma”, ensina.

É justamente a técnica de upcycling que a consultora de moda Luiza sugere. “É dar uma cara diferente à peça, ressignificá-la, usando a criatividade para cortar, bordar ou colocar uma aplicação, por exemplo”. Com o aval de celebridades como Anna Wintour, Jennifer Aniston e Kate Middleton, que repetem roupa sem constrangimentos, segredos para se tornar uma adepta do consumo racional de roupas você confere a seguir. 

FOTO: Bruna Teixeira/divulgação
A designer Raíssa Leão é adepta de um estilo de vida minimalista

 

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