Sustentabilidade

Semana de moda paulistana lança olhar sobre o ecologicamente correto

O conceito já começou a ser aplicado na escolha da nova “sede do evento: ele acontecerá na Arca, um galpão desativado de uma fábrica metalúrgica

Por Da Redação
Publicado em 28 de outubro de 2018 | 03:00
 
 
O mineiro Ronaldo Fraga e seu banquete em prol da tolerância e do amor Foto: Nelson Almeida/AFP

No momento em que tanto se fala sobre a escassez de recursos naturais, nem poderia ser diferente: a sustentabilidade foi um dos temas explorados na 46ª edição do São Paulo Fashion Week (SPFW), que encerrou sua grade de desfiles na última sexta-feira (26). O conceito já começou a ser aplicado na escolha da nova “sede” do evento: ao menos até outubro de 2020, a semana paulistana acontecerá na Arca, um galpão desativado de uma fábrica metalúrgica que foi revitalizado para a nova finalidade.

E é justamente o sentido desta palavrinha – “sustentabilidade” – que poderá ser percebido nos looks produzidos por boa parte das marcas desfiladas nessa edição que, além de ter como objetivo apresentar as mais fortes tendências para o inverno, também se propôs a fazer as pessoas refletirem sobre a moda.

Como? A Osklen, por exemplo, inseriu uma espécie de linha do tempo no chão da passarela, mostrando as medidas adotadas pela etiqueta no curso de sua história visando um impacto ambiental positivo. A Osklen, vale dizer, é lembrada por ter sido uma das pioneiras no uso das chamadas matérias-primas mais conscientes. Há 20 anos a marca usou algodão orgânico pela primeira vez e, no último ano, investiu na produção de tecidos reciclados a partir de garrafas PET – com isso, diz ter poupado 119 milhões de litros de água e, em decorrência, reduzido em 70% o consumo de energia elétrica.

Para sua nova coleção, a marca quis reiterar seu apreço pela questão da sustentabilidade e ergueu a bandeira da defesa dos mares e oceanos. As peças, inspiradas no universo náutico, foram confeccionadas em algodão, seda, linho e tricô. Já o estilista mineiro João Pimenta fechou uma parceria com o Sou de Algodão, projeto de incentivo ao uso da matéria-prima, além do couro vegano e de outros tecidos naturais, como o jeans Absolut Eco, da empresa Vicunha, que utiliza 95% a menos de água. Já a estreante Aluf colocou na passarela, como um dos destaques da coleção, a bolsa feita com sementes de açaí. A Beira, estreante nessa edição, investiu em tingimentos naturais para suas peças, com destaque para o tênis All Star tingido com borra de café.

O que vai pegar. Embora as medidas sustentáveis estejam sob os holofotes, a proposta central do evento é mesmo dar eco às tendências no universo fashion, que, desfiladas, já estão prontas para serem consumidas. Vale lembrar que, há algumas edições, a semana de moda paulistana abandonou o rótulo de “inverno” ou “verão” – ou seja, deixou para que cada estilista apresentasse a proposta que preferisse, sem ficar preso ao calendário de coleções. “A criação é muito mais rápida do que o tempo da estação e da natureza. Antes, a gente mudava a imagem de moda a cada seis meses, e, hoje, às vezes, é a cada seis dias. Cabe ao designer decidir o que ele quer para sua coleção”, disse Paulo Borges, idealizador e diretor criativo do SPFW.

Amir Slama e a mineira PatBo preferiram focar mais o verão, com propostas de moda praia e resort. Já outras marcas, como Modem, Bobstore e Lilly Sarti, estavam mais empenhadas em apresentar as propostas para o frio. Nesse caso, o inverno foi pautado pelo estilo western, ou seja, com franjas arrematando saias, camisas e jaquetas. O ar de velho oeste ganhou reforço com os chapéus típicos e botas também arrematadas por franjas. O animal print também surge revitalizado em estampas de onça, cobra e outros animais selvagens. E não só. “A monocromia dos looks confeccionados em tecidos naturais, numa cartela bem clara em tons de bege, areia e off white, assim como a assimetria que remete aos anos 80, com formas mais geométricas: vestidos, camisetas e saias com laterais maiores do que as outras foram algumas das tendências observadas”, analisa o consultor de moda Arlindo Grund, que também é apresentador do programa “Esquadrão d</CW>a Moda”, no SBT.

O linho se firma como o tecido da vez – esteve presente em quase todas as coleções. “O tecido natural é muito próprio para o nosso clima”, frisa Grund.

Com propósito. Para além da moda, a mensagem. E a de tolerância guiou, mais uma vez, do mineiro Ronaldo Fraga, que sempre enlaça tendências de moda a um viés político. “A imagem que fica na passarela é o tema que fala do nosso tempo. E em tempos difíceis, a solução é carregar a mão na arte e na poesia e falar de tolerância como um valor mínimo para o ser humano”, contou o criador.

Ele se inspirou em uma viagem a Israel, feita no ano passado. Lá, quis exaltar o amor colocando uma espécie de ponto final no conflito entre judeus e palestinos. Com um casting plural, os modelos, depois de desfilar, sentaram-se em uma mesa, para um banquete composto por pratos das duas culturas. Fraga apresentou uma coleção quase 100% trabalhada no jeans. Tecido mais democrático, mesmo falando em moda, não há.

O jeans também pautou a collab entre a marca LED e a Patogê. Célio Dias, estilista da primeira, e Raissa Manso, da segunda, uniram as marcas para celebrar a diversidade e apostar no poder de cada um e do coletivo, na coleção batizada de “Arretada”.