Inovação

Parceria cria remédios para doenças que os laboratórios desprezam 

Expectativa é chegar a 13 tratamentos mais evoluídos para males antigos

Seg, 25/05/15 - 03h00
Esforço conjunto. Organizações sem fins lucrativos custeam parte mais cara de pesquisa | Foto: NIELS ACKERMANN

Consideradas endêmicas nas populações de baixa renda, doenças como malária, dengue, leishmaniose visceral, esquistossomose, tuberculose, hanseníase e Chagas compõem um grupo de enfermidades chamado de doenças negligenciadas, responsáveis pela morte de 500 mil pessoas por ano, de acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Como atingem, principalmente, países em desenvolvimento, essas doenças não têm investimentos suficientes em pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos que as combatam.

A boa notícia é que a situação começa a se transformar com a formação de consórcios liderados por organizações internacionais sem fins lucrativos, como a Medicines for Malaria Ventures (MMV) e Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDI). Sediadas na Suíça, essas empresas financiam a descoberta de moléculas e os testes pré-clínicos e de toxicidade de medicamentos para essas enfermidades.

“Essas etapas são as mais caras do processo”, ressalta Glaucius Oliva, coordenador do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (Cibfar) da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp). Às indústrias farmacêuticas cabem os ensaios clínicos e a produção dos fármacos em larga escala.

Lançada em 2003, a DNDI espera desenvolver entre 11 e 13 novos tratamentos para malária, leishmaniose visceral, HIV pediátrico e doenças do sono e de Chagas até 2022. A organização já conseguiu fabricar cinco novos fármacos para enfermidades como doença do sono, malária e leishmaniose visceral, usados na América Latina, África e Ásia.

As duas organizações internacionais, junto às instituições europeias, norte-americanas e chinesas envolvidas, esperam reduzir o prazo de desenvolvimento de 15 anos para 7 a 8 anos, em média. Segundo o professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luiz Carlos Dias, esse é o tempo mínimo gasto apenas para os testes pré-clínicos, ensaios e produção.

BRASIL. Dias também coordena o laboratório de química orgânica sintética da Unicamp, o único da América Latina envolvido no consórcio. Desde 2013, o órgão trabalha com a síntese química de potenciais compostos identificados pela DNDI.

“A organização internacional recebe bibliotecas de compostos de grandes indústrias farmacêuticas, testa-as em laboratórios de química medicinal em diferentes lugares do mundo e, ao identificar alguma molécula potencial para o tratamento das doenças negligenciadas, envia-as para laboratórios como o nosso. A nossa participação é fazer modificações químicas e estruturais para tornar o composto mais eficaz”, explica Dias.

Para o professor de química da Unicamp, essa é uma alternativa para o tratamento de doenças negligenciadas, que carecem de investimentos no país por diversos fatores.



Nova fórmula para Chagas

Desenvolvido há 40 anos, o benzonidazol é o único fármaco para o tratamento da doença de Chagas. De acordo com a DNDI, há mais de 55 mil casos dessa enfermidade por ano na América Latina, o que faz dela a principal doença parasitária da região. Agora, o composto pode ganhar uma fórmula pediátrica, com eficácia superior à atual, elaborada pela Fundación Mundo Sano e pelo Ministério da Saúde da Argentina, em parceria com o Laboratório Farmacêutico de Pernambuco (Lafepe). 

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