Tudo estava dando certo enquanto a estudante Gabriela*, de 27 anos, mantinha bate-papos frequentes com sua conversante – termo viral utilizado por jovens nas redes sociais brasileiras para descrever relacionamentos que se baseiam na troca de mensagens virtuais. “Aparentemente tínhamos muita compatibilidade de visão de mundo, gosto musical, signo, e nossas personalidades também eram bem semelhantes”, lembra. O primeiro encontro e os seguintes também pareciam funcionar, mas a compatibilidade inicial não se repetiu na cama. “Pessoalmente nossos dates eram ótimos, o que deu errado foi o sexo”, conta.
Embora a experiência sexual não tenha sido o que ela esperava, principalmente pelos rumos que as coisas tomavam, não foi esse o motivo pelo qual a estudante começou a evitar esse tipo de “relação”. “O que eu acho complicado nessa coisa de conversante é que, para mim, não tem muito compromisso. Posso dedicar carinho e atenção para a pessoa porque é da minha natureza ser assim, mas não tenho a intenção em desenvolver algo mais sério quando não tenho aquele sentimento mais profundo envolvido ou quando sei que não tenho compatibilidade em longo prazo. Mas sinto que os conversantes se apegam rápido a mim e não reagem bem a conversas em que pontuo que não estamos namorando”, explica.
Por outro lado, existe quem veja inúmeras vantagens em manter conversantes. Este é o caso da também estudante Juliana Coutinho, 19. “Eu adoro conversar com eles o dia inteiro, contar da rotina, conhecer os gostos deles”, diz. Para ela, a interação é semelhante a uma relação mais séria, ou melhor, pode ser até mesmo uma fase dela. “Acho que a maioria dos relacionamentos que começam via redes sociais tem início pelo conversante”, acredita. “Geralmente a gente se conhece pelo Instagram e por lá mesmo começa a conversar. Daí a gente inicia um relacionamento mesmo, conhecendo a pessoa, seus gostos etc.”, explica.
Juliana conta ainda que existem pessoas que optam por serem fiéis a seus conversantes, não batendo papo ou ficando com outros. “Tem também quem tenha vários conversantes e ficantes, como é o meu caso”, admite ela, reiterando que, no seu caso, os conversantes costumam evoluir para ficantes quando se conhecem pessoalmente e começam a sair juntos.
Existe a possibilidade ainda de que esses contatos com quem ela mantém conversas se transformem em amigos. “A maioria que não deu certo como namorado ou ficante virou meu amigo”, lembra ela, que avalia suas experiências de forma positiva. Tanto que, nos encontros “ao vivo”, ela diz que os conversantes acabaram sendo sempre iguais ou ainda melhores que nos bate-papos virtuais.
Aliás, Juliana vê esse tipo de relação de forma natural. Para ela, eles refletem o próprio comportamento e a rotina das pessoas na atualidade. “Hoje a gente está imerso nas redes sociais, então isso acaba acontecendo naturalmente. E também é mais prático (ter um conversante), porque a gente não precisa ficar se vendo tanto pessoalmente, já que tem também as chamadas de vídeo”.
Relações que não evoluem são um risco
Apesar de Gabriela* e Juliana terem levado as conversas adiante, inclusive conhecendo os pretendentes pessoalmente, há quem mantenha a “relação” estritamente virtual. E é justamente aí que mora o perigo. “O conversante é como um amor platônico. É perfeito, já que não existem brigas, e imutável, já que não existe nenhum encontro. É um dos relacionamentos mais prejudiciais para a alma humana, porque tira as pessoas da realidade da vida”, observa a conselheira amorosa Karina Vilaça.
Segundo Karina, que é especialista em sexualidade, esse tipo de relação pode fazer com que as pessoas vivam em um “mundo de fantasia”. “Ela vai se relacionar com a ideia do par perfeito, e não com uma pessoa real de fato. É impossível conhecermos alguém em sua totalidade fugindo dos cinco sentidos que a presença nos apresenta”, afirma.
Embora reconheça que é possível se apaixonar durante a troca de mensagens, a relação precisa evoluir. “É real que pessoas tenham um relacionamento intenso apenas por texto, mas essa relação seria real? É nisso que precisamos focar”, pontua. “A dica de ouro para que você não se pegue dentro de uma relação ‘dexting’ – expressão surgida da combinação das palavras, em inglês, ‘date’ (encontro) e ‘texting’ (troca de mensagens de texto) – com outro alguém é ter um prazo estabelecido em mente para o encontro de fato. Assim fica mais fácil perceber quando seu futuro parceiro está nessa apenas por afago ao ego ou se quer uma relação de verdade”, finaliza.