Emagrecimento

Ciência não vê benefícios, mas óleo de coco segue ‘queridinho’

Em estudo da UFMG, animais perderam peso com o produto, mas não há testes em humanos

Qua, 12/04/17 - 03h00
Experiência.Jaqueline teve bons resultados usando óleo de coco no café, por indicação da nutricionista: intestino melhor e perda de peso | Foto: Moisés Silva

Muito querido pelas pessoas que desejam perder peso, o óleo de coco não é mocinho na visão de muitos endocrinologistas e nutricionistas, além de entidades nacionais que já se mostraram contrárias à utilização do produto para fins de emagrecimento. Mas uma tese de doutorado defendida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) comprovou que o produto ajuda diretamente nesse processo – pelo menos em animais.

Estudantes do doutorado em ciência dos alimentos fizeram uma experiência com camundongos que consistia em uma dieta rica em açúcar e que, meses depois, incluiu o óleo para conter o ganho de peso. Resultado: todos os animais emagreceram.

Entretanto, a nutricionista Marina Zicker, envolvida no estudo, afirma que ainda é cedo para que as pessoas celebrem a descoberta. “Os testes aconteceram em animais, dentro de ambientes controlados. Os resultados foram positivos, sim, mas dependemos de muito mais para garantir a eficácia no organismo humano”, enfatiza.

Segundo ela, a intenção do grupo é reproduzir o estudo em seres humanos, mas ainda não há previsão para isso. Enquanto a pesquisa não se estende ao homem, o uso do óleo de coco continua a ser controverso.

Em agosto passado, por exemplo, O TEMPO noticiou que a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) divulgaram um alerta sobre a utilização do produto para fins de emagrecimento.

E, no mês passado, a Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) se uniu ao alerta e publicou um texto afirmando não haver qualquer estudo científico que comprove a eficácia do óleo de coco como agente emagrecedor, ou suplemento alimentar, ou, principalmente, algo milagroso para outras propriedades, especialmente estéticas.

Os especialistas ligados a essas instituições baseiam seu posicionamento no fato de que as pesquisas realizadas até hoje em seres humanos não ofereceram resultados confiáveis nem apresentaram métodos certeiros e de qualidade em suas aplicações.

Entretanto, na opinião de muitos consumidores, o produto atende, e muito, as necessidades. É o caso da gestora de recursos humanos e vendedora de óleo de coco Jaqueline de Souza, 39. Há quase um ano, por recomendação de sua nutricionista, ela passou a incluir uma colher de chá de óleo de coco por dia no preparo do café. “A maior diferença que percebo é que o meu intestino passou a funcionar melhor, com uma regularidade maior”, comenta.

O uso do óleo acabou estendendo-se para a parte estética. “Descobri os benefícios de hidratar a pele e o cabelo. Tenho alergia a produtos de limpeza e, depois que comecei a passar o óleo nas mãos, não tive mais rachaduras nem vermelhidão”, conta Jaqueline.

Já a acompanhante de transporte escolar Bianca Carvalho, 24, relata que a perda de peso foi a grande diferença observada com o consumo do óleo, também orientado por nutricionista. “Em poucos meses, junto com a dieta, perdi 12 kg, além de sentir mais disposição para fazer as coisas”, afirma.


‘Poder de milagres’ preocupa

De acordo com a professora do curso de nutrição da Una, Cláudia Colamarco, o perigo está na propaganda sobre os “milagres” do óleo de coco. “Houve um alarde grande sobre os poderes extraordinários dele para emagrecimento, suplemento alimentar ou mesmo como produto de beleza. O que temos como benefício cientificamente comprovado é sua riqueza em ácido graxo, também presente no leite materno, que auxilia na digestão, no sistema imunológico, nas funções cerebrais e no combate a fungos e bactérias no corpo”, afirma. Porém, isso só funciona se combinado com uma boa alimentação e exercícios físicos.

A professora diz ainda que concorda com boa parte do posicionamento das associações, mas acredita ser necessária uma abertura. “Sabemos da falta de estudos mais profundos, só que isso não quer dizer que eles não existam ou não estejam em desenvolvimento. É uma questão de equilíbrio: que estejamos atentos e abertos a possíveis alterações científicas”, reflete.

O exagero na publicidade do óleo de coco também é destacado pelo Sindicato dos Farmacêuticos de Minas Gerais. “Na prática, não há nenhum estudo que comprove a eficácia desse produto como benfeitor de melhorias no organismo humano além da presença do ácido graxo e de suas propriedades no auxílio gastrointestinal principalmente”, comenta o presidente Rilke Novato.

“Nós, do sindicato, já fizemos estudos que vão contra a utilização dessa substância para fins medicinais. Apesar disso, sabemos que pesquisas têm sido realizadas com o intuito de provar o contrário. Nesse caso, o que precisamos fazer é esperar e, até lá, nos basearmos no que já existe”, finaliza.

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