Estudo

Cientistas criam um implante feminino contra infecção do HIV

Dispositivo reduz número de células que vírus pode atacar no trato genital

Por Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2018 | 03:00
 
 
O pesquisador Emmanuel Ho, da Universidade de Waterloo, no Canadá, segura o implante criado por ele Foto: University of Waterloo

OTTAWA, CANADÁ. Cientistas da Universidade de Waterloo, no Canadá, desenvolveram um novo dispositivo que, segundo eles, ajuda a proteger as mulheres da infecção pelo HIV, o vírus da Aids. O implante vaginal, segundo estudo publicado no periódico científico “Journal of Controlled Release”, reduz o número de células que o vírus pode atacar no trato genital da mulher.

Ao contrário dos métodos convencionais de prevenção da infecção pelo HIV, como o uso de camisinhas e a profilaxia com drogas antirretrovirais, o implante tira vantagem da imunidade natural de algumas pessoas contra a vírus. O HIV infecta o organismo ao “corromper” as chamadas células T mobilizadas pelo sistema imunológico no momento da invasão. 

Assim, quando as células T não são ativadas para lutar contra o vírus, elas não são infectadas e a doença não é passada de uma pessoa para outra. Essa inatividade das células T é conhecida como quiescência imunológica.

“Sabemos que algumas drogas, quando tomadas oralmente, nunca chegam ao trato vaginal, então esse implante pode ser uma maneira mais confiável de encorajar as células T a não responderam à infecção e, assim, também prevenir a transmissão de forma mais barata e confiável”, diz Emmanuel Ho, professor da Escola de Farmácia da universidade e um dos responsáveis pela criação do implante. 

“O que não sabemos ainda é se isso pode ser uma opção única para a prevenção da transmissão do HIV ou se pode ser melhor usada em conjunção com outras estratégias de prevenção. Pretendemos responder a essas questões futuramente”, diz.

O implante foi inspirado em estudos prévios envolvendo trabalhadoras da indústria do sexo no Quênia. Lá, Ho e seu colega de pesquisas Keith Fowke, da Universidade de Manitoba, também no Canadá, observaram que muitas dessas mulheres tinham relações com clientes soropositivos mas não contraíam o vírus. Posteriormente, eles descobriram que elas tinham células T que eram naturalmente imunoquiescentes.

“Observando isso, nos perguntamos se seria possível induzir farmacologicamente essa imunoquiescência com medicações que melhor alcançassem o ponto da infecção”, conta Ho. “Assim, ao levarmos a medicação exatamente aonde ela é necessária, esperamos aumentar as chances de induzir a imunoquiescência”, diz.

O implante é composto por um tubo oco e dois “braços” flexíveis que ajudam a mantê-lo no lugar. Ele contém hidroxicloroquina (HCQ), que é lentamente espalhada pelo material poroso do tubo e absorvida pelas paredes do trato vaginal. 

Testes. Os implantes foram testados em um modelo animal, e os cientistas observaram uma redução notável na ativação das células T – estado de quiescência imunológica.