Pesquisa

Cientistas revelam razão de usuário de maconha ter 'larica'

Descoberta pode ajudar no tratamento de pacientes que têm perda de apetite

Sex, 20/02/15 - 03h00
Mesmo saciado, usuário sente fome por conta de efeito de enzima | Foto: PABLO PORCIUNCULA

Um dos efeitos imediatos do uso da maconha é o aumento do apetite – fato que faz com que a erva seja “indicada” como tratamento para diversas doenças, como Aids e câncer. Cientistas descobriram os fatores que levam os usuários a ter a popular larica.


A fome incontrolável experimentada depois de fumar a maconha pode ser desencadeada por neurônios que, sem o efeito da droga, têm a função de suprimir o apetite; justamente o contrário. A pesquisa foi publicada nesta semana na revista “Nature”.

Segundo explica o estudo, os cientistas utilizaram camundongos transgênicos para manipular a rota celular que produz a ação da maconha no cérebro. O coordenador da pesquisa, Tamas Horvath, compara o mecanismo que ocorre com os neurônios com um carro. “É como se pisássemos no freio, e o carro acelerasse em vez de parar”, disse o cientista. “O mecanismo central de alimentação do cérebro fica doido”, completa.

Enzimas. Um grupo de células nervosas do cérebro – os neurônios conhecidos como POMC – são considerados fatores­chave na redução da fome. Quando a pessoa está saciada, esses neurônios normalmente liberam a enzima MSH, um sinal químico que alerta o cérebro.

Porém, os cientistas observaram que, ao injetar canabinoides em ratos, a droga desativava as células que normalmente fazem os neurônios POMC diminuírem sua ação, e a atividade desses neurônios disparou. Ao mesmo tempo, os receptores de canabinoides foram ativados. O resultado foi a liberação de outra enzima, a beta­endorfina, conhecida por aumentar o apetite.

Os dois efeitos combinados criaram o efeito de fome descontrolada. “Mesmo se a pessoa fumar maconha logo após o jantar, imediatamente esses neurônios tornam­se estimulantes da fome”, explicou o coordenador.

Dúvidas
O estudo publicado nesta semana, no entanto, não desvendou completamente o mistério da fome incontrolável da maconha. Segundo o coordenador da pesquisa, outros processos neurais participam do fenômeno dentro do hipotálamo, e os canabinoides afetam outras partes do cérebro. 

Estudo pode ajudar doentes

Além de explicar por que o usuário de maconha fica faminto quando não deveria, de acordo com o coordenador da pesquisa, Tamas Horvath, a descoberta poderá abrir caminho para outras investigações que ajudem pacientes de câncer e outras doenças que perdem o apetite durante o tratamento, por exemplo.

Há muito tempo os cientistas sabem que o uso de maconha está associado a um apetite exagerado, mesmo quando o organismo não precisa de comida. Também já se sabia que o canabinoide – o princípio ativo da maconha – liga­se ao receptor de canabinoides (CB1R) das células cerebrais e que isso pode contribuir para a superalimentação. Novos estudos sobre esses efeitos ainda precisam ser realizados.

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