Saúde

Descoberta molécula que retarda o envelhecimento

Pesquisador anuncia que conseguiu transformar uma célula velha em outra embrionária

Qua, 17/01/18 - 02h00
Esperança. Célula rejuvenescida vista por microscópio; cientistas afirma ter conseguido reprogramar células especializadas | Foto: IMM João Lobo Antunes / Divulgação

A busca pela fonte da juventude pode estar perto do fim. E a resposta para ela estaria dentro do próprio corpo – no nível celular. Pesquisadores do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (IMM), da Universidade de Lisboa, em Portugal, descobriram que a redução da molécula de RNA (ácido ribonucleico) chamada de Zeb2-NAT em células de camundongos idosos as deixou mais plásticas e capazes, inclusive de serem reprogramadas para células-tronco.

O estudo publicado na revista “Nature Communications” explica que foram rejuvenescidas células adultas, já especializadas e diferenciadas, como as da pele, do coração ou do cérebro, para aquelas semelhantes às dos embriões, pluripotentes, com a extraordinária capacidade de se tornarem qualquer tecido do corpo.

Investigação. Segundo a equipe, as células do organismo sofrem um processo gradual de envelhecimento que pode contribuir para o aparecimento de várias doenças. Eles apontam que uma forma de combater essas doenças pode ser a regeneração celular. Entretanto, células idosas – aquelas que mais sofrem com os anos – costumam resistir a esse procedimento.

A reprogramação de células adultas em células-tronco pluripotentes acontece desde 2006. O pesquisador japonês Shinya Yamanaka, vencedor do Prêmio Nobel em 2012, descobriu que a introdução de quatro genes numa célula adulta de um rato era capaz de transformá-la numa célula-tronco e, assim, de possibilitar que ela se especializasse em qualquer outra célula do organismo. No entanto, essa técnica não funcionava com células de animais envelhecidos. Até alguns dias atrás.

Para verificar se as células tinham realmente alcançado a juventude até se tornarem embrionárias, os estudiosos portugueses injetaram-nas debaixo da pele de camundongos. O resultado foi a formação de um teratoma, tumor composto por vários tipos de células e tecidos diferenciados como osso, músculo e pelos.

Expectativas. Apesar de não ser possível, ainda, evitar o envelhecimento de um indivíduo ou outro organismo vivo – uma vez que o estudo é a nível celular – a técnica abre espaço para tratamentos contra doenças ligadas ao envelhecimento.

Uma das dificuldades que podem atrapalhar os planos da equipe do IMM é o risco de as células se tornarem cancerígenas, o que foi detectado durante o processo. Mesmo assim, eles estão confiantes com a iniciativa e prosseguem com o estudo.

Os próximos passos, afirmam os pesquisadores, residem nos testes em células humanas. Se os resultados forem positivos, eles acreditam que o método possa ser utilizado por outros cientistas no desenvolvimento de estudos sobre a formação de órgãos e tecidos, para que possam ser usados em pacientes.

Longevidade

Tempo. A expectativa de vida do ser humano tem crescido nas últimas décadas. No Brasil, por exemplo, é de 75,8 anos, segundo dados do IBGE, divulgados no ano passado. 

Minientrevista

Bruno Jesus

Médico pesquisador

Inst. de Med. Mol. João Lobo Antunes

Como o estudo começou? Teve início em 2014. Os meus interesses eram sobre o estudo do processo de envelhecimento. Quando vim para o IMM, juntei os meus interesses em envelhecimento com os da professora Carmo Fonseca (bióloga envolvida no experimento). Aí focamos no papel de um RNA muito curioso (Zeb2-NAT), cuja expressão aumentava com o processo de envelhecimento.

Quais são os maiores desafios? São a aplicabilidade do uso de células estaminais que, apesar dos recentes avanços por outros grupos, quer em regeneração da pele, quer em regeneração da retina, ainda estão avançando muito lentamente. Outro desafio é a qualidade das células pluripotentes induzidas. Muitos grupos têm identificado que elas possuem muitos erros genéticos, o que pode afastar seu uso clínico.

Quais são as principais perspectivas? A nossa descoberta vai permitir otimizar os atuais protocolos de reprogramação celular existentes. O nosso trabalho foca-se nessa parte inicial, mas o uso das células obtidas para medicina regenerativa será o objetivo de outros colegas no futuro.

FOTO: IMM/Divulgação
 

 

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