Fórmula

‘Fake news’ também podem ter impacto negativo na saúde

Apelo emocional do conteúdo é um dos motivos para ampla divulgação

Seg, 19/03/18 - 03h00
Maioria das informações falsas que circulam nas redes sociais mira as vacinas, como a do influenza | Foto: Alex de Jesus - 11.1.2008

O ambiente virtual tem sido tomado por “fake news” (notícias falsas, em tradução do inglês) também na área da saúde. Mesmo sem comprovação científica, denúncias de vacinas que prejudicam a vitalidade e anúncios de medicamentos milagrosos contra o câncer se espalham como vírus – e podem ser tão ou mais maléficos do que esses microrganismos.

Uma simples busca com o termo “tratamento de câncer” no Google, por exemplo, resulta em mais de 4 milhões de páginas de artigos e sites sobre o assunto. No YouTube, há uma infinidade de vídeos sobre a origem e a cura de inúmeras doenças – todos sem comprovação.

Para o médico Maurie Markman, presidente da Cancer Treatment Centers of America (CTCA), nos EUA, que acompanha o fenômeno nos últimos anos, os impactos são preocupantes. “Notícias falsas podem fazer com que aumente o número de pessoas doentes por falta de vacinação ou pelo uso inadequado de medicamentos ou outras substâncias e, infelizmente, até mesmo, levar a óbitos”, explica.

Veja AQUI algumas algumas das mentiras mais famosas.

Markman alerta, ainda, que as notícias falsas sobre saúde contribuem para que os pacientes deixem de ter credibilidade nas classes médicas e científicas. “As pessoas tendem a não procurar informações em fontes confiáveis, como sites de instituições governamentais e de saúde. E, mesmo quando procuram, podem acabar acreditando que as vias alternativas e falsas são as ideais”, diz. E não são.

Razões. De acordo com Pablo Ortellado, professor de pós-graduação em estudos culturais da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai), notícias falsas sobre saúde tendem a fazer sucesso nas redes sociais principalmente porque são carregadas de conteúdo de apelo emocional como o medo e a preocupação. Elas não têm, explica o pesquisador, necessidade de corresponder à realidade.

“O ato de compartilhamento não atinge grandes proporções se não tiver uma motivação mais forte, por isso que, quando nos deparamos com as ‘fake news’, elas costumam ser bombásticas e ter um viés dramático, sobre algo que está acontecendo ou pode vir a acontecer”, explica o professor.

A oncologista Clarissa Baldotto, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), reforça o argumento. “São informações geralmente associadas a algum tipo de teoria da conspiração. Por exemplo, que o remédio não tem comprovação ou que há interesse econômico de governos e indústrias”, pontua.

Segundo a médica Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBim), a melhor saída é buscar fontes de confiança. “Se a pessoa está na internet, ela pode acessar sites de instituições de saúde e públicas, como universidades. Se a dúvida é algo mais preocupante, ela pode se dirigir até o médico de confiança e procurar orientação adequada. Precisamos ter consciência de que a saúde é de suma importância e deve ser levada a sério”, afirma.

Atenção. “Muitas pessoas não se dão o mínimo trabalho de clicar no link que elas compartilham nas redes sociais. É fundamental verificar qualquer informação antes de dividir com alguém”, afirma a médica Isabella Ballalai.

Projeto em rede social visa à orientação

A febre das “fake news” nas redes sociais fez com que o Instituto Oncoguia decidisse combater as notícias falsas. Para isso, foi criado o projeto Onco Confirma, que disponibiliza um número de WhatsApp para responder o que é verdade e o que é mentira. Segundo a organização, a pessoa pode enviar a sua dúvida e será respondida em até 48 horas por oncologistas voluntários. Outras mídias como Facebook e Twitter também servem como canal de comunicação. O número do Onco Confirma é (11) 98790- 0241.

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