Pesquisa

Farinha feita de insetos pode ajudar no emagrecimento

Alimento desenvolvido na UFMG reduziu peso de ratos obesos e engordou animais desnutridos

Ter, 09/10/18 - 03h00

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As farinhas de amêndoa, chia, grão-de-bico, arroz, aveia e linhaça já são conhecidas e vendidas no Brasil. Agora, novos tipos de farinha surgem com propriedades que podem, inclusive, combater distúrbios alimentares. Os ingredientes abrangem bambu, rico em fibras, e até insetos, como grilos, besouros e baratas. Essas são algumas apostas dos pesquisadores, mas que ainda não estão disponíveis no mercado.

Uma farinha de cinco insetos que está sendo desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), campus Montes Claros, no Norte de Minas, mostrou-se eficaz na redução da desnutrição e da obesidade. Besouros Tenebrio comum e gigante, baratas cinérea e barata-de-madagascar e grilo-preto são os cinco ingredientes que compõem a farinha, extremamente rica em proteína.

Além do alto índice de nutrientes, o produto também garante sustentabilidade produtiva. “Insetos geram proteína de alta qualidade nutricional a partir de uma alimentação baseada em resíduos agroindustriais ou orgânicos”, explica o pesquisador Diego Vicente da Costa, do ICA. “Também consomem menos água, menos energia e emitem menos gases de efeito estufa que outros animais de produção, como o gado, utilizado na alimentação humana”, complementa.

A pesquisa mostrou resultados eficazes ao incluir a farinha na dieta de aves, peixes, cães, gatos e camundongos. Os últimos são o principal modelo animal para o estudo da nutrição humana. “Existe na farinha algum componente que ajuda no controle de distúrbios metabólicos, como a obesidade e a desnutrição. Observamos que os camundongos obesos emagreceram e que os desnutridos engordaram. Os números foram animadores”, afirma o pesquisador.

Pão de barata

Pode parecer estranho, mas essa não é a primeira vez que insetos são usados na produção de farinha. Na Universidade Federal do Rio Grande, a engenheira de alimentos Andressa Jantzen da Silva Lucas, do Laboratório de Tecnologia de Alimentos da Escola de Química e Alimentos, usou a barata cinérea (Nauphoeta cinerea) em uma receita de pão. As baratas usadas na culinária são de origem africana, produzidas em cativeiro e próprias para consumo humano.

A razão da escolha é o valor nutricional da barata, “uma importante fonte proteica”, segundo a pesquisadora. “Tem cerca de 70% de proteínas, contra 50% da carne bovina. E pode ser uma alternativa em casos de escassez de alimento”, diz.

Farinha de bambu

Os insetos não são o único ingrediente inusitado na produção de farinhas. Na Unicamp, o bambu foi a matéria-prima utilizada para produzir o alimento. “Feito à base do colmo jovem de bambu, possui apenas 24 g de carboidratos em relação aos 82 g da farinha de milho, por exemplo”.

Outro diferencial é a quantidade de fibras. “São 50 g encontrados na gramínea, contra apenas 1,9 g na composição da farinha de mandioca”, explica a coordenadora da pesquisa Maria Teresa Pedrosa Silva Clerici, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA).

O broto de bambu é muito usado na culinária oriental, é rico em nutrientes, tem baixo teor de gordura, o que auxilia na redução dos níveis de colesterol, e também tem propriedades anticarcinogênicas. Outra vantagem é que a fibra do colmo jovem de bambu não compromete o sabor ou a coloração do “produto”, podendo ser usado na fabricação de cookies, massas e bolos.

Benefícios

Redução. A farinha do colmo jovem de bambu consegue reduzir em 50% o açúcar e a gordura se comparada às tradicionais.

 

Alternativas aliadas à saúde

A professora Sarah Dutra, 28, descobriu que era celíaca em novembro do ano passado. Desde então, teve que se adaptar à nova dieta cortando todos os produtos com glúten da alimentação.

Assim que ela trocou a farinha de trigo por um mix de farinhas, as melhorias na saúde foram instantâneas. “Em uma semana, deixei de ter dores horríveis que tinha por causa de gases”, conta.

A adaptação não foi fácil. “É difícil encontrar lugares que não usem farinha de trigo. E percebi como somos dependentes de farinha de trigo”, diz a professora.

As farinhas alternativas fazem bem não só para quem tem intolerância ao glúten. Usá-las na alimentação diária traz benefícios a qualquer um, explica a nutricionista Júnea Senra Portilho. “As farinhas agregam valores nutricionais diferenciados à alimentação. Essas farinhas chegam mais puras ao nosso prato, e a farinha de trigo aqui ainda tem muitos agrotóxicos”, diz Júnea.

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