Alimentação

Moda de frutas em sachê traz riscos e pode até afetar a fala

Industrializados contêm açúcares e conservantes, que devem ser evitados nos primeiros anos

Por Da Redação
Publicado em 26 de julho de 2017 | 03:00
 
 
Nicole, 3, come fruta todos os dias, mas faz o uso dos sachês quando viaja com a mãe Foto: arquivo pessoal

De produtos práticos as prateleiras dos supermercados estão cheias. Mas nem sempre as opções que atraem os pais e até caem no gosto das crianças são as melhores para os pequenos. As papinhas industrializadas e os purês de frutas em sachê são alguns produtos que devem ser usados com cautela, segundo os nutricionistas.

O problema foi exposto pela blogueira Marisa, em um texto intitulado “Carta de um bebê de 6 meses sobre sua introdução alimentar”. No postagem feita no blog Eco Maternidade, ela simula os pedidos de uma criança para abordar questões referentes ao momento da refeição, como a presença de companhia e de televisão, além dos tipos de alimentos que os pais estão dando aos pequenos.

“Por favor, evitem me dar papinha industrializada, principalmente essa novidade do mercado que vem em um sachê. Eu não consigo ver o que está dentro do sachê, então não tenho como aprender sobre o que estou ingerindo. Eu gosto de ver o que como!”, escreveu a blogueira em um dos trechos.

Para os profissionais da área de nutrição, a atenção deve ser redobrada principalmente na fase da introdução alimentar – a partir dos 6 meses de idade –, quando a criança está formando seu paladar, diz a nutricionista Marcela Sales Rocha. “O único ponto positivo é a praticidade. Mas, pensando na saúde do bebê, o sachê não deve ser utilizado, pois contém aditivos, farinhas, açúcar e conservantes, além de provocar a perda de nutrientes. Os alimentos devem ser in natura e, de preferência, orgânicos”, explica.

A melhor forma de oferecer esses alimentos, conforme orienta a nutricionista, é dar a fruta amassada ou raspadinha para estimular a mastigação e os reflexos do bebê. “Nunca se deve peneirar ou bater no liquidificador, pois há perda das fibras. O ideal é raspar, amassar grosseiramente com garfo ou oferecer em pedaços”, afirma.

Quando se opta por oferecer comida embalada, como os purês, a criança não aprende sobre os alimentos, explica a nutricionista Bianca Iuliano, especializada em alimentação infantil. “A criança precisa conhecer a fruta, saber qual é a cor, o formato e a textura para associar ao sabor”, diz. Outra observação é em relação ao estímulo da mastigação. “Mastigar tem papel importante no desenvolvimento dos músculos da face da criança, do maxilar e até da fala”, complementa.

Bianca diz ainda que o processo de pasteurização usado pela indústria faz os produtos terem uma vida útil maior que a dos purês feitos em casa, mas “algumas vitaminas são termossensíveis, ou seja, sensíveis à temperatura”, e podem perder-se nesse caminho.

Com cuidado. A nutricionista reconhece que algumas marcas presentes no mercado são 100% naturais, ou seja, não possuem nenhum tipo de aditivo. Nesses casos, podem ser oferecidos às crianças com cautela.

Mães brasileiras que moram no exterior contam que optam por sachês devido à dificuldade de encontrar frutas frescas ou durante os períodos de viagem com os filhos. Uma delas é a jornalista do blog “Viajar pela Europa” Gisele Almeida, que mora na Suécia e tem uma filha de 3 anos. Ela conta que aderiu ao sachê desde que a pequena Nicole tinha 9 meses, porque “é mais prático de carregar na bolsa”.

“Ela come frutas (in natura) também, em casa e na escolinha. Mas, para viagens e quando saímos, opto por levar os sachês. Aqui tenho a facilidade de encontrar sachês ecológicos e orgânicos”, diz.

Sucos. Os pediatras recomendam não oferecer essas bebidas a crianças com menos de 1 ano, pois elas têm poucas fibras e alta concentração de açúcar da própria fruta. O ideal é dar sempre água.

Variedades em pedaços no desmame

Conforme a nutricionista Marcela Sales Rocha, no método “Baby Led Weaning” (BLW) – desmame guiado pelo próprio bebê, na tradução –, as frutas são oferecidas em pedaços. “Isso deve ser avaliado individualmente”, diz.

A bacharel em direito, Paola Rivera, 39, mora no Chile com a filha Lara, de 2 anos, onde segundo a mãe é “mais complicado encontrar frutas variadas”. Sem tempo para fazer os purês naturais em casa, Paola acabou conhecendo os industrializados. “Ela come os sachês desde os 8 meses, mas aqui em casa usamos as frutas inteiras picadinhas”, conta.