Transformação

Música faz o cérebro funcionar 

Pacientes com Alzheimer parecem “acordar” ao ouvir sons da juventude

Dom, 02/03/14 - 03h00
Melodia. Estudo mostra que anatomia cerebral de quem toca um instrumento é diferente da população | Foto: STOCKXPERTS

Quase todo mundo conhece a sensação de se emocionar com alguma canção. Tanto à primeira audição, com melodias alegres ou tristes, quanto ao escutar algo que remeta a situações do passado. No documentário “The Power of Music” (“O poder da música”) , o musicoterapeuta britânico Oliver Sacks acompanhou pessoas com síndrome de Alzheimer, conhecida por levar os portadores a uma apatia emotiva que beira o estado vegetativo.
 

Porém, ao serem expostos a músicas que costumavam escutar na juventude, a reação foi surpreendente: alguns pacientes pareceram acordar de um torpor, se empolgando a ponto de cantarolar algumas dessas canções.

O que acontece é que a simples audição de uma peça musical ativa as mais diversas partes do nosso cérebro. No caso do Alzheimer, é o córtex pré-frontal, área responsável pelo comportamento e discernimento e que responde ao ritmo musical.

“O que um experimento como esse mostra é que a música é capaz de abrir uma espécie de canal emotivo”, analisa o psiquiatra e psicanalista Guilherme José Medeiros. “A parte do cérebro ligada ao sentimento é mais antiga, evolutivamente falando. Já a da razão é mais recente, e a música, assim como outras artes, força a pessoa a fazer essa ponte. Principalmente quem toca um instrumento” explica.

Isso é o que comprova um estudo feito na Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, que evidenciou diferenças na anatomia cerebral de músicos profissionais em relação ao resto da população. Segundo a pesquisa, os instrumentistas apresentaram um maior número de conexões entre os dois hemisférios do cérebro.

Belo Horizonte. Com mais de 40 anos de experiência na área, a educadora e pianista Rosa Lúcia dos Mares Guia até hoje se surpreende com os benefícios da música no desenvolvimento pessoal, principalmente em crianças e adolescentes. Para a fundadora do Núcleo Villa-Lobos de Educação Musical, que oferece cursos de musicalização em Belo Horizonte para alunos a partir dos 6 meses de idade, o contato com a música transforma as pessoas.

“Assim como outras expressões artísticas, ela possibilita um aprimoramento, uma percepção mais profunda e mais delicada das coisas, e isso faz com que as pessoas atinjam uma dimensão mais elevada de sensibilidade”, analisa. A partir de 1997, o fato ficou ainda mais evidente a partir de um projeto realizado pelo núcleo em escolas públicas de 12 regiões de Minas Gerais, no qual cerca de 125 mil alunos tiveram aulas de Educação Musical. “Antes, as crianças eram muito agitadas, brigavam no recreio e tinham dificuldades de se relacionar com os professores. Depois de começarmos o projeto, o comportamento mudou totalmente: elas começaram a fazer jogos e brincadeiras nos intervalos, e até o relacionamento com alguns professores, que antes era ruim, se tornou melhor”.

Arte com sons

Cristais. O fotógrafo japonês Masaru Emoto expôs cristais de água a diferentes estilos musicais e os registrou. As amostras reagiram de forma diferente dependendo do tipo que música a que foram expostas.

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