Surto no Nordeste

‘Nova’ microcefalia provoca alterações diferentes no cérebro 

Recife e Pernambuco decretam estado de emergência devido ao Aedes aegypti

Seg, 30/11/15 - 03h00
Exame de ressonância de um bebê com microcefalia mostra cérebro mais “liso” | Foto: EDMARMELO/JC IMAGEM

BRASÍLIA. Um dia após ser oficialmente confirmada a relação entre o surto de microcefalia no Nordeste e o zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), e o prefeito de Recife, Geraldo Julio (PSB), assinaram neste domingo um decreto de emergência no Estado e na capital devido às doenças transmitidas pelo mosquito – dengue, chikungunya e zika vírus. As três tiveram um grande aumento naquele Estado neste ano. No país, já são 739 notificações em 2015.

Nos últimos dias, resultados de exames e avaliações clínicas nos bebês nascidos em meio ao surto de microcefalia no Nordeste apontam um padrão “totalmente novo” da doença, afirmam médicos que acompanham os casos.

A maior parte dos exames aponta sinais de calcificação mais fortes na região do córtex, a camada externa do cérebro, onde há as células nervosas, enquanto malformações por outras infecções, como citomegalovírus, apresentam essas marcas mais na região dos ventrículos.

“A maior parte das crianças têm alterações muito extensas no cérebro. Elas têm atrofia, calcificações e aumento dos ventrículos, que são cavidades dentro do cérebro”, diz o radiologista Adriano Hazin. Ele fez essa análise a partir de oito tomografias que realiza, por dia, no Instituto de Medicina Fernando Figueira (Imip), no Recife.

Segundo a neuropediatra Ana van der Linden, alguns bebês também têm o cérebro mais liso, ou seja, com menos “curvas”. “É um padrão totalmente novo. É difícil prever, mas, com alterações desse tipo, o mais provável é que esses bebês tenham alterações motoras e cognitivas mais importantes”, afirma. Ela ressalta, porém, que não há uma conclusão definitiva sobre a maior gravidade e que “não se pode generalizar”.

Protocolos. Para confirmar essa relação, secretarias de Saúde desenvolvem protocolos para acompanhar gestantes. A análise inicial indica que o risco para a gestante está associado aos primeiros três meses de gravidez. O governo destaca, no entanto, que ainda são necessárias investigações para confirmar o período de maior vulnerabilidade para a gestante e esclarecer outras questões, como a transmissão do vírus, sua atuação no organismo e a infecção do feto.

Entre os bebês já nascidos, os impactos à saúde variam. Alguns apresentam uma espécie de “falta de harmonia” ao mexer mãos e pés e não localizam bem o rosto à frente, relata o neuropediatra Arthur de Vasconcelos Ribeiro, que atua no Centro de Reabilitação do Rio Grande do Norte. A depender do caso, a criança terá dificuldade para falar, ouvir ou andar. Cerca de 90% dos casos estão ligados a alguma deficiência mental. Também já são observados casos de bebês com crises convulsivas. “Mas depende do grau da lesão”, diz Vanessa van der Linden, neurologista da AACD. Há cerca de dois meses, ela e a mãe, Ana, foram as primeiras a identificar o surto.

Atualmente, estão em situação de risco de surto de dengue, chikungunya e zika 199 municípios brasileiros, segundo o governo. Outras 665 cidades estão em situação de alerta.

Grávidas
Três dicas para as mulheres que esperam filhos:

1. Coloque telas protetoras em todas janelas e portas da casa. Deixe-as sempre fechadas, pois o Aedes pode entrar durante o dia. Essas telas serão muito úteis, pois depois protegerão o bebê. É um método de proteção totalmente inócuo para a saúde e seguro.

2. Quando sair, use repelente nas roupas e nas áreas expostas. O repelente indicado e eficaz é o que contém a substância icaridina. Pode ser utilizado em gestantes, e tem uma duração de aproximadamente 10 horas.

3. Use roupas que cubram os braços e pernas. Não é nada fácil no verão, mas mulheres são especialistas em arrumar soluções interessantes quando se trata de se arrumar e de se vestir.

PE tenta barrar crescimento do vetor no Estado

Recife. 
Os decretos de emergência em Pernambuco e no Recife devido às doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti valem a partir desta terça, quando serão publicados no Diário Oficial, e duram 180 dias. Os representantes do poder estadual e municipal apontam que há uma epidemia de dengue, chikungunya e zika, esta última relacionada aos casos de microcefalia, em andamento, daí a necessidade de intervir.

Com o decreto de emergência, o estado e o município podem contratar serviços com dispensa de licitação e servidores temporários enquanto durar o estado de emergência, além de poder convocar mais facilmente servidores de outras secretarias para auxiliarem nos serviços necessários.

As secretarias municipal e estadual de Saúde vão ser responsáveis por coordenar os trabalhos de combate ao mosquito e à proliferação das doenças. “Vamos fazer tudo o que for necessário, no âmbito do governo do Estado, para que o quadro de 2014 e 2015 não se repita em 2016. Precisamos da união do poder público e da sociedade civil”, disse o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB).

O número de casos de dengue em Pernambuco cresceu neste ano. Até 14 de novembro, foram notificados 119.646, enquanto no mesmo período no ano passado foram 17.702 notificações.

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