Paciente 3.0 exige mais dos médicos

Acesso ao mundo virtual de dados sobre doenças acelera o processo

Por Da Redação
Publicado em 08 de outubro de 2017 | 03:00
 
 
Em uso. Com o uso do robô Da Vinci, médicos realizam cirurgias minimamente invasivas em Belo Horizonte, com excelentes resultados Foto: Léo Fontes – 25.11.16

Em uma consulta no pronto-atendimento, o médico examina o paciente. Dá a ele três hipóteses diagnósticas, diz que vai solicitar alguns exames e sai. Antes de o médico voltar, o paciente, munido de seu smartphone, tem tempo de fazer uma busca sobre as possibilidades, lê sobre sintomas, opções de tratamento e consulta outro médico para ter uma segunda opinião. Quando o médico da emergência volta, o paciente já tem um universo de informações inimaginável. Isso ocorre há alguns anos.

Esse é o paciente 3.0, aquele que utiliza a internet de forma constante, busca informações sobre especialistas e serviços médicos, marca consultas por plataformas online e participa de discussões sobre saúde em redes sociais, fóruns, blogs, etc.

No Brasil e em outros países, como Polônia, Turquia, Itália, México e Espanha, as mulheres lideram esse comportamento, conforme os dados do estudo “Perfil e comportamento do paciente 3.0”, realizado pela plataforma de saúde Doctoralia. Essas novas pacientes têm entre 25 e 34 anos, vivem e trabalham em grandes centros urbanos e representam mais de 75% dos usuários brasileiros.

O perfil do paciente 3.0 no Brasil se caracteriza ainda pela dedicação das manhãs de segunda-feira à pesquisa por saúde: 21,6% dos brasileiros preferem planejar suas consultas nesse período. Os ginecologistas são os especialistas mais pesquisados (12,3%), seguidos por ortopedistas (6,41%), urologistas (6,1%), pediatras (5,1%) e dermatologistas (4,9%).

O mestre de obras Valdeir Barbosa, 52, também já usou a plataforma Hippo Drs, que oferece consultas médicas a partir de R$ 90 agendadas em até 48h, para o atendimento dele e de parentes. “Minha mãe mora no interior do Estado e estava sentindo umas dores. Estávamos preocupados e não queríamos aguardar", lembra.

Além de estar conectado, esse paciente também se mostra mais disposto a receber cuidados de robôs, que podem realizar desde diagnósticos a cirurgias de pequeno porte, segundo estudo mundial realizado pela empresa de consultoria e auditoria PwC. A pesquisa “What doctor? Why AI and robotics will define new health” (Que médico? Por que a IA e a robótica vão definir a nova saúde, em tradução livre) ouviu cerca de 11 mil pessoas em 12 países e identificou que mais de 55% dos participantes declaram estar dispostos a serem atendidos por robôs com inteligência artificial.

No Brasil, o robô de nome Da Vinci, que chegou a Minas Gerais no ano passado, vem sendo usado principalmente em intervenções na próstata – conforme O TEMPO mostrou na reportagem “Robótica marca a revolução na saúde”, publicada em janeiro de 2017.

Não só os pacientes, mas os médicos e os planos de saúde também estão se adaptando a essa nova realidade. Segundo o diretor de provimento de saúde da Unimed-BH, José Augusto Ferreira, mais de 4 milhões de consultas já foram marcadas pelo agendamento online desde 2010, quando a ferramenta foi implementada. “Metade dos clientes já usou o sistema. Só em agosto foram 73 mil consultas”, diz.

A identificação do paciente por biometria digital também deve mudar, diz Ferreira. “Dentro de poucos meses vamos implementar a biometria facial”, conta.

 

Telemedicina: recurso diminuiu a ocorrência de mortes para 6%

Com a implementação do recuso de telemedicina, o Hospital Santa Marcelina, em São Paulo, conseguiu reduzir as taxas de mortalidade hospitalar por infarto agudo do miocárdio (com supra) de 16% para 6%, em três anos.

O serviço de telemedicina é um projeto realizado por meio de parceria público-privada, idealizado pelo pesquisador dos Estados Unidos Sameer Mehta, explica o coordenador médico do serviço de cardiologia intervencionista do Hospital Santa Marcelina, Jamil Ribeiro Cade. “Ele conectou o eletrocardiograma a um sistema de internet, em que o traçado do exame é enviado a uma central (ITMS). Dessa central, um cardiologista avalia todos os laudos gerados 24 horas por dia, sete dias na semana”, afirma.

Cade conta que esse serviço já está disponível em dez unidades básicas de saúde no país, uma delas em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Outros dez Estados brasileiros também já estão em processo de implantação do programa, com o apoio da empresa Medtronic.

Segundo o médico, o paciente que chega com dor no peito a essas unidades é atendido pelo próprio enfermeiro, que faz o exame de imediato. “Não precisa nem esperar na fila”, diz. “E numa média de três minutos e meio, onde estiver, o paciente recebe o laudo gerado”, complementa. Quando há o infarto agudo do miocárdio diagnosticado, toda a equipe de hemodinâmica recebe uma mensagem SMS comunicando sobre o paciente e um e-mail com a cópia do eletro e uma breve história clínica do doente. “Já atendemos mais de 500 pacientes com infarto agudo do miocárdio por meio do projeto. Já foram gerados mais de 200 mil eletrocardiogramas, e esses laudos são feitos sem custo nenhum para o Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirma.

Teleconsultoria, Telediagnóstico e Tele-educação são alguns dos serviços ofertados pelo programa Telessaúde Brasil Redes, desenvolvido pelo Ministério da Saúde desde 2007 para melhorar a qualidade do atendimento da Atenção Básica no Sistema Único de Saúde (SUS). Até junho deste ano, foram realizadas mais de 600 mil teleconsultorias e mais de 4 milhões de telediagnósticos.

Ferramentas

Ministério da Saúde. O programa Telessaúde Brasil Redes tem atuado no Programa Mais Médicos, no qual, de 2013 a 2017, mais de 52 mil teleconsultorias e mais de 80 mil telediagnósticos foram feitos.