Esperança

Vacina contra ebola se mostra 100% eficaz em testes, diz OMS  

Prazo estimado para que antídoto chegue a estágio de desenvolvimento é de menos de um ano

Sáb, 01/08/15 - 03h00
Cobaia. Mulher participa de teste com a vacina VSV-Zebov na Guiné; resultados são promissores | Foto: CELLOU BINANI

Paris, França. A primeira vacina eficaz contra o ebola, vírus que há pelo menos dois anos deixou mais de 11 mil mortos na África Ocidental, está a partir de agora “ao alcance das mãos” segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), tendo em vista os resultados preliminares promissores do primeiro teste realizado na Guiné.

Margaret Chan, diretora geral da OMS, vê na vacina “um avanço muito promissor”. “Uma vacina eficaz será uma arma suplementar importante na luta” contra o ebola, ressaltou Chan em uma coletiva para a imprensa. “Essa vai ser uma virada de jogo”, disse ela a jornalistas. “Vai mudar a gestão do atual surto de ebola e de futuros surtos”.

Bertrand Draguez, diretor do Médicos Sem Fronteiras (MSF), que tem liderado a luta contra o ebola na África Ocidental, disse que “pela primeira vez há uma perspectiva de uma ferramenta que poderia proteger vidas e quebrar cadeias de transmissão”.

Testada na Guiné em mais de 4.000 pessoas, a vacina VSV-Zebov – desenvolvida pela Agência de Saúde Pública do Canadá, cuja licença é detida pelos laboratórios americanos NewLink Genetics e Merck – se mostrou 100% eficaz, segundo estudo publicado ontem na revista médica britânica “The Lancet”.

Esses resultados suscitaram reações muito favoráveis entre os especialistas, mas também nos países atingidos pela epidemia.

“É uma grande novidade e o acontecimento médico mais promissor até hoje na luta em curso para acabar com o ebola”, comentou o virologista britânico Benjamin Neumann.

Um porta-voz do governo de Serra Leoa declarou que qualquer vacina eficaz “é bem-vinda caso seja aprovada pela OMS”. “Essa novidade iluminou meu dia”, comemorou Julian Williams, farmacêutico de Freetown, capital do país.

Corrida contra o tempo. A vacina VSV-Zebov poderá ser testada na Guiné em tempo recorde – menos de um ano, quando normalmente são necessários quase dez anos para que uma vacina chegue a esse estágio de desenvolvimento, ressaltam diversos especialistas.

Após a liberação da VSV-Zebov, a vacinação coletiva contra o ebola não está prevista com fins de prevenção, como é o caso para a poliomielite ou a rubéola, segundo a Merck.

O laboratório explicou que, uma vez obtidas as autorizações sobre o mercado, produzirá e estocará doses de vacina suficientes para futuras epidemias de ebola.

Outras vacinas estão sendo desenvolvidas atualmente, algumas em estágio bastante avançado. É especialmente o caso da ChAd3, desenvolvida pela farmacêutica britânica GSK (GlaxoSmithKline) com o instituto americano de alergias e doenças infecciosas (Niaid). A vacina está sendo testada na Libéria desde fevereiro.

A epidemia
África Ocidental.
A maior crise do ebola desde a identificação do vírus, em 1976, teve início no sul da Guiné, em dezembro de 2013. O vírus infectou 27.748 pessoas e matou 11.279 desde o ano passado no oeste da África.

ONU e OMS admitem que houve lentidão para agir

Paris
. Apesar da lentidão para agir, a comunidade internacional acabou por se mobilizar massivamente desde o último outono para tentar encontrar tratamentos e vacinas até hoje inexistentes. Como prova dos progressos constatados na luta contra a doença, o secretário geral da ONU, Ban ki-Moon, dissolveu ontem a Missão da ONU pela ação de urgência contra o ebola (Minuauce) e decidiu passar o controle completo da epidemia para a OMS.

Levando em conta as lições do passado, a OMS reconheceu que foi muito lenta ao reagir e apresentou um plano de reformas em seis pontos destinados a reforçar sua capacidade de resposta em caso de alerta sanitário. “Sabíamos que era uma corrida contra o tempo e que o experimento tinha de ser realizado sob as circunstâncias mais difíceis”, disse John-Arne Röttingen, presidente do grupo de acompanhamento do experimento.

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