Cuidado

Sem orientação, fitoterápicos podem prejudicar a saúde

Remédios feitos de plantas têm contraindicações e efeitos adversos

Seg, 18/07/16 - 03h00
Sucesso. Com a ajuda de fitoterápicos, Jânia Câmara conseguiu superar os sinais da menopausa | Foto: Arquivo Pessoal

Há cinquenta anos ou mais, para muitas coisas havia algum remédio caseiro capaz de resolver. Chá de guaco para dor de garganta, chá de boldo para o estômago, tintura de arnica para machucados – tudo se resolvia com alguma planta do quintal. Depois de uma queda no uso dos fitoterápicos, o interesse pelos remédios feitos de plantas medicinais está novamente crescendo. Mas, apesar de naturais, esses medicamentos também requerem cuidados em sua administração, ou podem causar efeitos adversos indesejados.

Os fitoterápicos são medicamentos feitos a partir de partes de plantas medicinais. A principal diferença deles para os remédios convencionais é que os fitoterápicos não possuem o princípio ativo isolado.

“Nos fitoterápicos, o princípio ativo medicinal está contido no arranjo natural da planta, junto com outras substâncias que podem até propiciar um maior benefício terapêutico com um menor número possível de reações adversas”, explica o médico José Lucas Magalhães Aleixo, professor de saúde pública da Faculdade de Medicina da UFMG e responsável técnico pelo Horto Medicinal Frei Veloso, que funciona no campus saúde da universidade.

Assim como vários medicamentos convencionais, muitos fitoterápicos não necessitam de receitas médicas e podem ser comprados tranquilamente em farmácias. “Mas isso não quer dizer que não sejam medicamentos. São, e podem trazer efeitos colaterais indesejados”, alerta Aleixo. Por isso, a orientação é sempre fazer uso dos fitoterápicos com orientação de um profissional de saúde, que pode ser um médico, farmacêutico, enfermeiro ou de outra especialidade.

Bom uso. A economista aposentada Jânia Câmara, 55, usa medicamentos fitoterápicos para lhe ajudar a lidar com os sintomas da menopausa. “Eu tinha muito inchaço pelo corpo e muitos fogachos. Chegava a acordar umas dez vezes ao longo de uma noite. Então, comecei a procurar na internet alguma coisa que aliviasse um pouco”, conta.

O que ela encontrou foi a recomendação do uso do chá das folhas da amoreira, e conversou com o médico para saber se poderia usar o recurso. “Consultei meu ginecologista para saber, principalmente, se não haveria alguma interação medicamentosa entre o chá e os hormônios que eu tomo para fazer a reposição hormonal”, diz. Liberada pelo médico a usar a substância, ela agora tem preferido, pela praticidade, tomar as cápsulas de extrato de amora concentrado.

Antes da menopausa, Jânia já fazia uso de fitoterápicos. “Na época em que eu trabalhava, tomava alguns para me dar mais energia, como o ginkgo biloba. Mas também perguntava ao meu médico se não havia nenhum problema”, conta. O cuidado garantiu que ela nunca tivesse nenhum efeito adverso com os remédios.

“Da casca do salgueiro branco, se extrai a salicilina. Essa substância pode ser trabalhada quimicamente e vai dar origem ao ácido acetilsalicílico.”

José Lucas Magalhães Aleixo
responsável técnico do Horto Medicinal Frei Veloso

Critérios

Documento orienta o consumo de chás

Uma das formas mais comuns e mais acessíveis dos fitoterápicos são as preparações extemporâneas. O nome é complicado, mas talvez o apelido seja mais familiar: os chás. Chá de boldo, de camomila, de capim-cidreira, tanchagem, canela, gengibre e vários outros têm papel medicinal.

Mas o que pode parecer inofensivo, pode esconder alguns riscos. “Os efeitos colaterais dependem muito do uso, mas eles existem. Muitos chás são contraindicados para pacientes com hipertensão, problemas de úlcera, hepatites. O chá de boldo, por exemplo, não pode ser usado por hipertensos”, comenta o professor José Lucas Magalhães Aleixo, da UFMG. 

Por isso, é fundamental consultar o Formulário da Farmacopeia Brasileira, documento elaborado em 2011. Ele contém informações sobre plantas medicinais brasileiras, seus usos, indicação, quantidades, quais partes da planta usar e outros dados úteis para quem quer se beneficiar das propriedades medicinais sem correr riscos. O documento está disponível gratuitamente na internet e pode ser acessado pelo link bit.ly/form_fitoterapicos. (RS)

Flash

SUS. A fitoterapia faz parte, desde 2004, do rol de medicamentos distribuídos gratuitamente pela rede pública de saúde. Em Belo Horizonte, as Unidades Básicas de Saúde dão informações e orientações sobre esses medicamentos.

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