Evolução

Técnica vale para primeiro filho 

Médico mineiro integrou o primeiro grupo de estudos da técnica em 1990 na Inglaterra

Por Da Redação
Publicado em 31 de agosto de 2014 | 03:00
 
 
Família. Eliana e Tarcísio querem ter um filho geneticamente selecionado Foto: Reproducao / Facebook

Casais que já sabem que carregam algum gene com determinada doença, como daltonismo, síndrome de Down, fibrose cística e hemofilia já podem usar a técnica de seleção de embriões antes mesmo de ter o primeiro filho.
 

“Se você já sabe qual doença tem, não é preciso ter um filho para fazer isso, mas a indicação é só para quem tem alguma doença grave, pois é preciso saber o que procurar no DNA. Existem mais de 15 mil doenças, e não existe um filho sem nenhuma doença”, afirma o especialista em reprodução assistida Selmo Geber.

Moradora de João Monlevade, na região Central do Estado, a dona de casa Eliana Braga da Silva, 37, tem anemia falciforme e sofre todas as vezes em que a filha Clarisse, 3, tem que ser internada por causa das complicações provocadas pela beta-talassemia. “Ela já teve que ser internada por sete vezes, e o nosso objetivo é ter outro filho compatível com ela para podermos fazer o transplante de medula óssea”, conta.

Ela e o marido, o comerciante Tarcísio Martins Acipreste, 52, contam que o desejo do casal sempre foi ter um terceiro filho, mas como a primeira filha, Ana Beatriz Braga, 12, também tem o traço da doença, e Clarisse também desenvolveu o problema, eles ficaram receosos de levar o sonho adiante. “Quando resolvi ter a Clarisse, eu fiz um exame que avaliava essa possibilidade do traço da doença, mas o médico que avaliou o exame não soube constatar o risco. A anemia dela não é muito agressiva, mas pode se tornar com o passar dos anos. Em uma das internações, ela quase precisou fazer transfusão. Esse é o nosso maior medo”, diz Eliana.

Segundo a dona de casa, o casal procurou o geneticista Ciro Martinhago no início do ano e já realizou os primeiros exames. “O casal está apto a iniciar o tratamento de fertilização in vitro com o intuito de selecionar os embriões saudáveis. O índice de acerto é de 97%”, relata Eliana, satisfeita com o resultado dos exames.

Ela diz que espera conseguir gerar o próximo filho o mais rápido possível. “Agora temos que ir para a segunda etapa, que é fazer os exames para a fertilização. O momento agora é de ansiedade para decidir a ocasião mais adequada para fazer isso tudo. Infelizmente, o custo ainda é muito alto, mas se precisar vender o carro, eu vendo para conseguir a cura da Clarisse. É muito triste ver um filho sofrer sentindo dores. A genética abriu possibilidades enormes de podermos salvar uma pessoa de uma doença que até então não tinha cura”, afirma Eliana.

Início. Geber conta que participou do desenvolvimento das primeiras técnicas de seleção de embriões na Inglaterra. “Em 1990, com um embrião na mão e antes de implantar no útero de uma paciente, o britânico Robert Winston e seu assistente Alan Handyside pensaram nessa técnica. Eu trabalhei com eles em 1991 e 1992 e participei do grupo que criou a técnica no mundo, mas, quando cheguei lá, já tinha acontecido a primeira gravidez”, lembra.

O médico explica que o primeiro teste no embrião foi feito para saber se a retirada de uma célula iria gerar algum prejuízo. Depois, seriam feitos estudos genéticos nessa célula para descobrir se teria a doença.

“No primeiro teste descobriu-se que o próprio embrião se recompõe e que ele tem a capacidade de formar novas células antes formar um bracinho ou uma perninha no futuro, pois nesse caso ainda não é um bebê”, explica.

De acordo com Geber, em seguida foram surgindo novas técnicas com a mesma proposta. “A primeira vez em que ela foi realizada no Brasil foi em Belo Horizonte, há dez anos. O que na verdade importa para nós é o que essas várias técnicas oferecem para o paciente”, afirma Geber.

Segundo o médico e parceiro do geneticista Ciro Martinhago, a união entre os dois já dura cinco anos. “Ele é o cara em cujas mãos eu coloco a célula que tiro do embrião. Ele me liga e fala quais embriões estão doentes e quais são os saudáveis e, em seguida, discutimos junto com o paciente”, afirma Geber.