Só importadas

Conta de luz brasileira afeta lucro de quem minera moeda digital

Placas gráficas são as mesmas usadas para games pesados

Por Da Redação
Publicado em 26 de setembro de 2017 | 03:00
 
 
Genesis Mining mantém a enorme Enigma, mina de ether na qual pessoas podem investir Foto: Genesis Mining/divulgação – 9.5.2016

SÃO PAULO. Se comprar e vender para lucrar com as variações de preço de criptomoeda – as moedas digitais criadas e movimentadas pela internet – é uma atividade com alta procura, há ainda quem se especialize na emissão dos ativos: os mineradores. O nome mineração vem da analogia com o ouro. Para simular a escassez, como a que existe no minério, os programadores que deram origem ao bitcoin inventaram um problema matemático (imagine algo como 2x + y >0). Os computadores encontram, uma a uma, todas as soluções para esses problemas, e cada resposta (também chamada de bloco) é uma criptomoeda. No caso do bitcoin, existem 21 milhões de soluções possíveis – ou seja, a moeda circulante é finita.

No Brasil, porém, a atividade de minerar é limitada pela dispendiosa conta de luz gerada por computadores rodando programas dia e noite. O minerador Cristiano Valverde, 37, fez um investimento de R$ 70 mil no seu equipamento há quatro meses, mas teme que a alta da conta de luz associada ao período de seca nos próximos meses vá atrasar seu retorno.

Ele extrai o ethereum, moeda mais comum entre amadores. Como o bitcoin é mais antigo, é cada vez mais difícil achar novas soluções, e só quem tem um equipamento caro e muito <WC1>especializado consegue minerá-lo. “Quando comecei, previa retorno em seis ou sete meses, mas os valores do ethereum estavam em alta”, diz Valverde, que tem uma mina no interior de São Paulo e cogita usar energia solar.

“Montei um galpão com refrigeração e comprei tudo à vista. Agora, em um cenário realista, vou conseguir o dinheiro de volta em até 15 meses, se a Eletropaulo deixar”, reclama. Quem investe em mineração caseira, como ele, usa placas gráficas geralmente usadas para jogos. Elas são boas em rodar muitos algoritmos ao mesmo tempo, aumentando a chance de descobrir os números da sorte.

As placas chegam ao Brasil via importação, e, novas, custam por volta de R$ 2.000. Na China, que tem 70% da capacidade de geração de bitcoins, as condições são mais favoráveis, com proximidade dos fabricantes de chips e energia elétrica barata.

Medo de hackers. Em agosto, a mineração de bitcoins gerava até R$ 38 milhões ao dia, número que caiu para a metade com os reveses regulatórios em setembro. Uma preocupação mencionada por mineradores é o risco de ter sua conta nas corretoras invadida e eles perderem o dinheiro, já que é comum fazer tanto a mineração quanto o comércio das moedas.

É o que faz Leonardo Kikuchi, 22, de Campinas, que gastou R$ 20 mil em sete placas. Ele minera ethereum e depois negocia outras criptomoedas. “A ideia surgiu porque eu tinha uma placa para jogo. Mas é arriscado. Tem que ter conhecimento técnico para minerar, não basta deixar a placa ligada”, diz.

Golpe. O mercado mundial de moedas digitais foi abalado por mudanças em setembro. Reguladores bancários de Pequim e Xangai ordenaram o fechamento de várias plataformas de câmbio de bitcoins, numa nova ofensiva do governo chinês contra as moedas virtuais. Pequim quer frear as criptomonedas, criadas virtualmente através da tecnologia chamada “blockchain” e trocadas sem controle das autoridades.

Equipamento não basta, tem que acompanhar as operações

O policial militar André Primo, 25, aproveita a atividade para ganhar dinheiro no tempo livre. Primo instalou sua mina em Marília, no interior de São Paulo. “Tem noite que você dorme e acorda rico. Mas tem que acompanhar as operações de compra e venda”, diz.

Tanto mineração quanto compra e venda de moedas são investimentos de alto risco, adverte Gabriel Aleixo, do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio). “Quem investir tem que saber que amanhã o preço pode ir a zero”, orienta.

O jovem Pedro Ivo do Amaral, 18, perdeu R$ 5.000 investindo em mineração. “Não basta comprar o melhor equipamento, tem que acompanhar a moeda no tempo correto. Fui amador”, resume.

Quem não quer comprar equipamento ou não tem conhecimento técnico pode investir em moedas virtuais “alugando” espaço em grandes fazendas, como a Genesis Mining. A remuneração é proporcional ao investimento.


Saiba mais sobre moedas digitais

Algumas moedas

Bitcoin - criada em 2009, é a pioneira e a mais conhecida. Valor de mercado (em 30 de maio deste ano): US$ 37,27 bilhões

Ether - Lançada em 2015, a moeda funciona com uma tecnologia própria chamada Ethereum. Valor de mercado na mesma data: US$ 19,31 bilhões

Ripple - valor de mercado: US$ 8,84 bilhões

NEM - valor de mercado: US$ 1,93 bilhão

Ethereum Classic - valor: US$ 1,64 bilhão

Litecoin - valor de mercado: US$ 1,31 bilhão

Como rende

1) O minerador “ganha” moedas quando gera um bloco válido de dados, ou
2) O minerador recebe espécie de “troco”. Se uma transação usa três moedas de fonte e tem destino para duas, o que sobra é considerado “tarifa” para o minerador

Como investir

1) Comprar os equipamentos e montar sua própria mina de dados
2) Contribuir com um valor estipulado por um prestador do serviço já estabelecido, que te remunera proporcionalmente