Previsão

E se nossa medicina do futuro fosse programa de computador?

Inteligência artificial vai levar à redução de gastos com saúde

Sáb, 24/06/17 - 03h00
Grandes servidores ajudam a moldar a medicina; as luzes verdes são os LEDs de status em um datacenter | Foto: Google/divulgação

WASHINGTON, EUA. O mercado da inteligência artificial no campo da saúde está em expansão, impulsionado pelos gigantes do Vale do Silício e por startups. Esse setor poderia alcançar US$ 6,6 bilhões em 2021, em comparação com US$ 634 milhões em 2014, estima a empresa Frost & Sullivan, apontando que, ao ajudar a diagnosticar e detectar doenças precocemente, a inteligência artificial (IA) permitirá reduzir os gastos em saúde.

Isso se deve, principalmente, aos smartphones e objetos conectados que o mercado está desenvolvendo. A startup Cardiogram assegura que seu aplicativo pode detectar arritmias nos usuários de relógios inteligentes, segundo um estudo realizado em conjunto com a Universidade da Califórnia. Através dos sensores do relógio, o algoritmo é “capaz de distinguir um ritmo cardíaco normal de uma fibrilação atrial”, que pode levar a um ataque cardíaco, afirma a Cardiogram em seu site, acrescentando que esse tipo de arritmia nem sempre é percebido pela vítima.

Outro exemplo: pesquisadores de Harvard e da Universidade de Vermont criaram uma ferramenta que permite identificar casos de depressão analisando as fotos publicadas na rede social Instagram.

“As fotos de pessoas depressivas tendem mais ao azul, ao cinza ou ao escuro”, escrevem os autores do estudo, que compilou a informação de mais de 43 mil fotos. “Os resultados foram melhores que a taxa média de diagnóstico alcançada por clínicos gerais”, dizem.

Embora a tecnologia sempre tenha tido um lugar de destaque na medicina, “há um antes e um depois de a Apple lançar seu Research Kit”, em 2015, uma plataforma que permite reunir dados de usuários de iPhones como a distância percorrida e o ritmo cardíaco com fins científicos, considera a analista Kate McCarthy, da Forrester. Segundo ela, os avanços na inteligência artificial abriram novas possibilidades para “uma medicina personalizada” e permitiram à pesquisa avançar mais rápido.

Previsão de doenças. A inteligência artificial também pode ajudar a prevenir doenças, analisando minuciosamente os relatórios médicos ou os resultados de exames, explica Narges Razavian, professora da Universidade de Nova York, que realizou um estudo sobre a análise preditiva de mais de cem doenças.

“Nosso trabalho consiste em tentar prever (as doenças) que poderiam se manifestar nos próximos seis meses, de forma a poder agir a tempo”, explica a cientista. A equipe criou algoritmos que permitem detectar com precisão diferentes doenças, em particular a diabetes tipo 2 e as insuficiências cardíacas.

O Google (Alphabet) também se interessa pelo tema, com o seu departamento Deepmind, que usa IA para ajudar médicos a avaliar os riscos de propagação do câncer e desenvolver os tratamentos de radioterapia adequados. Microsoft, IBM e Intel também colaboram com pesquisadores na análise de dados médicos.

O povo topa. Estudo da PwC lançado nesta semana mostrou que 55% dos entrevistados estão dispostos a receber cuidados de robôs na área da saúde, que podem ir de diagnósticos de doenças até cirurgias de pequeno porte.


Opinião

Tecnologia, só, não adianta

Há muito entusiasmo com essas ferramentas, mas a tecnologia por si só não se traduzirá em benefícios médicos em grande escala, adverte Lynda Chin, vice-reitora e diretora de inovação da Universidade do Texas. Em primeiro lugar, porque o acesso a dados provenientes de fontes tão diversas como relatórios médicos ou objetos conectados é complexo, em parte devido à proteção da vida privada, explica.

Além disso, acrescenta, o mais importante agora é integrar os dados ao serviço de cuidados de saúde, onde os médicos podem desconhecer o que há disponível ou como utilizar as novas ferramentas. “Ter os dados e as análises é o primeiro passo”, diz. “Não se trata unicamente de colocar um aplicativo à venda”.

Investimentos. Não são só as gigantes de tecnologia que estão nessa área. A companhia CB Insights fez uma lista, no início de 2017, de 106 startups especializadas em saúde que utilizam aprendizado de máquina (a capacidade dos programas de aprender) e a análise preditiva.

Outra startup, Insilico Medicine, utiliza essas tecnologias para reduzir os tempos dos testes de novos medicamentos e suas autorizações, o que, em alguns casos, pode levar até 15 anos. Segundo a pesquisadora Jessica Ribeiro, da Universidade da Flórida, a IA pode predizer com precisão entre 80% e 90% se uma pessoa corre risco de se suicidar nos próximos dois anos.

FOTO: Cardiogram/divulgação
Cardiogram analisa dados obtidos por relógio

 

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