Hinadan

Japonesa octogenária cria programa lúdico para entreter idosos

Masako Wakamiya, de 82 anos, agora circula o mundo com sua criação

Por Da Redação
Publicado em 12 de agosto de 2017 | 00:20
 
 
Ritual. Ajoelhada no tatame, Masako mergulha no universo tecnológico Foto: Kazuhiro NOGI /afp

Fujisawa, Japão. “Na primeira vez, eu me emocionei ao ver a tela funcionar com o programa que eu criei”, declarou Masako Wakamiya, 82, revelando uma alegria quase infantil quando fala de sua paixão pela informática. Desde que se aposentou, a ex-bancária diverte-se com um PC e, mais recentemente, um Mac e um smartphone.

A mulher, que viveu nos anos 60, 70 e 80 o auge do Japão como potência tecnológica, foi neste ano a participante mais velha na conferência dos desenvolvedores da Apple. Masako Wakamiya é a criadora do programa lúdico para iPhone Hinadan, inspirado no tradicional Festival de Bonecas Hina-Matsuri.

Todo 3 de março, os japoneses expõem em uma plataforma de vários níveis bonecas que representam os membros da corte imperial do período Heian (séculos IX a XII) em suas casas, escolas e qualquer outro lugar onde haja meninas. O palco em forma de escada instala-se dias antes de 3 de março e desmonta-se nessa mesma noite porque, senão, segundo a crença popular, as meninas do lugar podem ficar solteiras quando crescerem.

Em Hinadan, o jogador tem que colocar as bonecas (“o imperador”, “a imperatriz” etc.) no lugar correto.

“Não há limite de tempo, porque isso seria muito estressante para os idosos”, explica Masako Wakamiya, ajoelhada em um tatame em frente a uma tela em seu apartamento, em Fujisawa, na periferia de Tóquio. Seu primeiro encontro com a informática foi no início dos anos 90. “Nessa época trocava mensagens por meio do sistema BBS”, precursor dos fóruns modernos, lembra a octogenária.

Motivação. Quando se começaram a desenvolver os smartphones, Masako Wakamiya pensou que não havia aplicativos suficientes para os idosos. Falou com desenvolvedores, sem sucesso. Até que um conhecido lhe perguntou: “Por que você mesma não faz isso?”, conta. A idosa, que durante décadas contou com um “soroban” (ábaco japonês), apoiou-se em livros e pediu conselhos a um amigo que já tinha desenvolvido aplicativos, com quem se comunicava por Skype. Foi tudo muito rápido. Desenvolvido entre 2016 e o início de 2017, Hinadan foi aceito pela Apple e lançado em fevereiro.

“Escrever as linhas de código foi difícil”, reconhece. “Quando se envelhece, perde-se muitas coisas: o marido, o salário, o cabelo, a visão... Há muitos ‘menos’. Mas quando se aprende algo, a programar ou a tocar piano, são ‘mais’. O que não sabíamos fazer até ontem hoje dominamos. É uma motivação”, entusiasma-se.

Muito trabalho. Masako acaba de voltar dos EUA e da Rússia e prepara-se para ir a uma conferência em Sapporo, no Norte do Japão. A empreendedora, cujo aplicativo foi baixado 42 mil vezes, foi a convidada especial do diretor executivo da Apple na Conferência Mundial de Desenvolvedores que foi realizada na Califórnia no início de junho.

“Falei com Tim Cook sobre aspectos muito concretos. Ele me perguntou o que eu tinha feito para garantir que as pessoas mais velhas pudessem usar o aplicativo. Expliquei que levei em conta o fato de que os idosos perdem a audiência e a visão, e seus dedos podem não funcionar tão bem”, conta. “Ele me elogiou. Me disse que eu era uma fonte de inspiração para ele”, diz.

 

Determinada

Sucesso. Em Hinadan, as respostas geram sons muito diferentes acompanhados na tela pelas palavras “erro” ou “certo”, e não é necessário arrastar a boneca com o dedo, mas clicar no lugar escolhido. O sucesso deu ainda mais energia a Masako-san, que prevê versões de seu aplicativo em inglês, chinês e francês. “Quero aprender as bases da programação”, diz.

Objetivo. “Quero desenvolver outros aplicativos que possam entreter os mais velhos e transmitir aos jovens a cultura e a tradição dos idosos”, afirma uma risonha Masako.

 

Flash

Inspiração. Masako começou a tocar piano aos 75 anos e é membro de várias associações para promover a informática entre os idosos. “Estou tão ocupada todos os dias que não tenho tempo para descobrir se tenho alguma doença”.