Na prática

Mais de 8.000 drones foram registrados após regulação

Norma da Anac foi positiva para o setor, mas ainda há incerteza sobre como será a fiscalização

Ter, 30/05/17 - 01h17
Agricultura na China. Morador de região rural do país pilota drones para pulverizar pesticida em plantação numa aldeia em Poyang | Foto: AFP PHOTO

RIO DE JANEIRO. À primeira vista, eles parecem aviões de brinquedo, desses que crianças e adolescentes levam para o parque com o controle remoto debaixo do braço. Na verdade, são máquinas extremamente sofisticadas, que podem custar até R$ 300 mil e sobrevoar quilômetros sem auxílio de piloto. Criados para fins militares, os drones – ou veículos aéreos não-tripulados (Vants), na linguagem dos técnicos – estão na mira de empresas como a concessionária Arteris, que pretende usá-los para auxílio de resgates em acidentes em estradas, e a seguradora Mapfre, que tem um projeto para empregar a tecnologia na avaliação de propriedades.

Novos usos serão possíveis a partir da regulamentação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para utilização do equipamento, publicada no início do mês. No exterior, eles já são usados no agronegócio, para pulverizar lavouras, ou para contar gado, por exemplo. Nessa segunda-feira (29), a operadora japonesa NTT Docomo apresentou um drone com display esférico que exibe imagens enquanto voa. Ele pode ser usado, por exemplo, para sobrevoar a plateia de grandes shows, como parte da performance, para exibir anúncios ou orientações ao público.

Embora especialistas vejam algumas lacunas nas regras brasileiras, como a falta de uma fiscalização efetiva, dados da Anac mostram o interesse pela máquina. Até 2 de maio, quando as normas foram divulgadas, a agência havia autorizado cerca de 400 voos de drones no Brasil, todos em caráter experimental. Daquele dia até a última quinta-feira, 8.027 equipamentos haviam sido cadastrados no site da agência. O cadastro, seja para fins comerciais ou recreativos, passou a ser obrigatório para drones com peso acima de 250g.

Essas aeronaves são controladas remotamente, munidas de câmeras e sensores. Por executarem ações que até pouco tempo eram feitas com helicópteros por uma fração do custo, passaram a ser cada vez mais demandadas no universo dos negócios. A regulação da atividade, porém, era um entrave no desenvolvimento desse mercado no Brasil, que hoje já reúne 720 companhias, segundo levantamento da DroneShow, feira de referência do setor. O número considera fabricantes, importadores, desenvolvedores de software, prestadores de serviço ou de treinamento.

A concessionária Arteris usa drones há cerca de um ano para inspecionar obras. Um dos equipamentos auxilia no monitoramento das frentes de trabalho do Contorno de Florianópolis, extensão de 50 km da BR–101, que liga Garuva a Palhoça, na região metropolitana da capital catarinense. Em outra concessão, no trecho da BR–116 que vai de Curitiba a Capão Alto, na divisa com o Rio Grande do Sul, o drone está sendo usado também para fiscalizar acessos irregulares à rodovia e monitorar pontos críticos de acidentes.

“Antes fazíamos o monitoramento com ultraleve ou helicóptero. O drone melhora a qualidade do acompanhamento das obras. Agora, estudamos usar o equipamento para auxiliar as equipes de resgate em acidentes, principalmente em lugares de difícil acesso”, disse Elvis Granzotti, gerente de operações corporativas da Arteris.

Fiscalização. Especialistas ainda veem lacunas na legislação. Um dos pontos é a fiscalização. Segundo a Anac, ela será feita por policiais, além dos três órgãos que emitem as autorizações, mas há dúvidas de como ela vai funcionar na prática. “A partir da regulamentação, temos um cenário mais claro, mas, ao mesmo tempo, incerto pela falta de uma fiscalização efetiva”, afirmou Gabriel Carvalho, do escritório Trench Rossi, acrescentando que o drone é um equipamento seguro, capaz de evitar áreas de aeroportos por ser equipado com geolocalização.


Bem-sucedidos

Produtora Paranoid. O uso de drones proporciona economia de 60% quando comparado à utilização de gruas na produção de filmes ou comerciais. Entusiasta, o diretor de cena e fotografia William Etchebehere tem quatro equipamentos, e ele mesmo os opera.

Vale. No levantamento topográfico de minas, um mapa que era feito em dois dias pode ser concluído em menos de 24 horas agora. A mina de Brucutu, no Quadrilátero Ferrífero, é uma das que já têm a tecnologia.


Segurança

Vant é arma contra roubo de cargas

Os veículos aéreos não-tripulados (Vants) começam a ser utilizados em todo o mundo como arma no combate ao roubo de cargas. A Espanha já autorizou uma empresa de transporte de valores a utilizar drones no monitoramento das remessas. Em Portugal, empresas do setor de transportes só aguardam a legislação que implementará o uso da tecnologia.

No Brasil, após a regulamentação pela Anac, empresas do segmento começam a investir no uso de Vants para monitorar embarque, trajeto e desembarque da carga. A brasileira FT Sistemas investiu R$ 9 milhões no projeto do Vant 200FH, que pode ser usado em defesa, segurança pública, agronegócio e infraestrutura. “Ele pode, em situações de emergência, como uma tentativa de roubo da carga, monitorar e filmar toda a ação, possibilitando que a empresa acione suas equipes de segurança e a polícia no resgate”, explica Nei Brasil, CEO da FT Sistemas. (Da redação)


Regras focam na segurança

RIO DE JANEIRO. A principal preocupação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ao criar regras para drones foi a segurança. Se o equipamento voar a altura superior a 120 metros e seguir para além do campo visual do operador, será preciso também aval da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que regula ondas de radiofrequência, e do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).

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