Análise

Poucas novidades reforçam maturidade dos smartphones

Ainda há espaço para melhorias nas câmeras e nos gráficos, mas a inovação estará no software

Sáb, 01/04/17 - 03h00
Com ares de espetáculo. Vice-presidente de estratégia de produtos da Samsung, Justin Denison, apresenta o Galaxy S8 em Nova York | Foto: Jason Kempin/AFP

SÃO PAULO.A Samsung lançou nesta semana a nova versão de seu principal aparelho, o smartphone Galaxy S8. Apesar de todo o palavreado de revolução comum a esses lançamentos, as principais novidades do aparelho basicamente são um display que cobre quase toda a superfície da tela e a ausência do botão que leva à tela inicial. São boas novidades, mas incrementais: aprimoram, mas não chegam a transformar a ideia de para que serve um smartphone. Não geram o efeito “uau” do lançamento de um iPad, por exemplo. Isso porque o smartphone hoje é um produto maduro. 

O mercado corrobora essa ideia: segundo a Kantar Worldpanel Comtech, as vendas de smartphones praticamente pararam de crescer. Em países ricos, chegaram a cair. O crescimento está em países onde a maioria da população ainda não usa smartphone.

Conforme a indústria amadurece, menos consumidores mudam de marca e ecossistema, e as empresas procuram vender atualizações mais frequentes e substituir aparelhos existentes, em vez de se conectar com grandes quantidades de novos compradores, diz análise recente publicada pela Kantar sobre um relatório de inovação em mobile.

Benedict Evans, da Andreesen Horowitz, que investe nas principais empresas do Vale do Silício, vai ainda mais longe. Segundo ele, o celular está no mesmo ponto da curva da inovação onde os computadores de mesa estão há alguns anos.

“Novas tecnologias tendem a seguir uma curva em S”, escreveu ele em seu blog. “No começo, a melhoria e a inovação parecem lentos enquanto os conceitos fundamentais estão sendo desenvolvidos. Depois há um período de rápidas mudanças, inovações e expansão das funcionalidades, e, quando o mercado amadurece, a melhoria tende a desacelerar”.

Segundo sua análise, ainda há bastante espaço para melhorias nas câmeras e processamento de gráficos. “Mas a guerra acabou”, escreve. As melhorias no hardware facilitam usos inovadores do aparelho, mas a inovação está no software, nos aplicativos e nas interfaces. São eles que permitem que a experiência mobile se torne qualitativamente diferente da possível num computador de mesa.

“Os mais interessantes aplicativos novos têm interfaces que acolhem cada vez mais o que diferencia um smartphone”, escreveu ele. “Então, eles usam o ‘swipe’ (arrastamento) como maneira principal de navegar, e o toque para coisas que um mouse nunca poderia fazer; usam o processamento de gráficos para transparências e efeitos que estariam além de um PC de 2007, quanto mais de um telefone; e usam sensores de imagem, muitas vezes combinados com o toque, como forma principal de entrada, em pé de igualdade com o teclado”, escreveu.

Câmera se tornará o principal ponto de entrada de dados

Gradualmente, a câmera se tornará o principal ponto de entrada de dados do smartphone, acredita Benedict Evans, da Andreesen Horowitz. “Usar uma câmera de smartphone apenas para tirar e enviar fotos é como imprimir e-mails: você está fazendo uma ferramenta nova caber em formas antigas”, escreveu.

Com avanços na inteligência artificial, as câmeras passam a reconhecer palavras quase em tempo real – pense no Google Tradutor, que reconhecer e traduz automaticamente textos vistos pela câmera. Ou aplicativos de dieta que contam calorias a partir do código de barras do produto.

A Kantar Worldpanel Comtech supõe que as tecnologias de realidade virtual, realidade aumentada e inteligência artificial possam estimular o crescimento do mercado. Aparelhos melhores ajudam, mas o que vai abrir mercado é o ecossistema inteiro, que inclui o software. Para isso, porém, é preciso que surjam aplicações mais úteis do que caçar pokémons.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.