Dezembro vermelho

Tratamento do HIV melhora qualidade de vida das pessoas que vivem com vírus

Infectologista esclarece sobre os tipos de tratamentos disponíveis para pessoas que vivem com HIV, além de estratégias para prevenir o contágio

Por Da Redação
Publicado em 01 de dezembro de 2023 | 07:00
 
 
O Dezembro Vermelho, campanha instituída por lei, marca uma grande mobilização nacional na luta contra o vírus HIV, a Aids e outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), chamando a atenção para a prevenção, a assistência e a proteção dos direitos das pessoas que vivem com HIV Foto: Getty Images/iStockphoto

Quando os primeiros casos de Aids foram registrados no mundo, há pouco mais de 40 anos, o cenário era devastador. A doença ainda era pouco conhecida, e os pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana, o HIV, viam a evolução rápida da enfermidade, que provoca a deterioração progressiva do sistema imunológico dos pacientes, propiciando o desenvolvimento de infecções e tumores potencialmente mortais. O preconceito e os vários estereótipos ligados à Aids – que chegou a ser chamada de “peste e câncer gay” em manchetes sensacionalistas mundo afora – tornavam a situação ainda mais complicada.

Agora, o cenário é diferente. Embora décadas de preconceito não possam ser apagadas de forma rápida, o diagnóstico não carrega mais o peso de uma sentença de morte. Pelo contrário, com o acompanhamento regular de um especialista e com os tratamentos adequados, pessoas que vivem com HIV podem ter a expectativa de vida aumentada significativamente. “Hoje o tratamento para o HIV evoluiu muito, temos medicações modernas, mais eficazes e com menos efeitos colaterais”, explica o infectologista Jeronimo Coelho de Menezes.

Médico da Unimed Araxá, Jeronimo ressalta a importância do acompanhamento regular com um especialista, já que é necessário avaliar a resposta terapêutica dos pacientes ao tratamento, além de identificar os efeitos adversos relacionados à administração em longo prazo.

Segundo o médico, o tratamento atual é feito por meio da Tarv, como é conhecida a terapia antirretroviral. “Ela consiste na combinação de medicações que ajudam a restabelecer a imunidade do organismo, evitando a manifestação de doenças oportunistas. O uso regular é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com o vírus e prevenir a infecção, pois a medicação reduz a quantidade da carga viral circulante no sangue, diminuindo a transmissão”, explica.

É importante destacar também que o tratamento eficaz com a Tarv permite que o vírus se torne indetectável, possibilitando que as pessoas tenham uma vida saudável e que não transmitam HIV para seus parceiros sexuais. 

Além do tratamento, outras estratégias também podem ser usadas para prevenir a infecção, uma delas é a PrEP, ou profilaxia pré-exposição. “Ela é utilizada por indivíduos que não têm o vírus, mas que apresentam comportamento de risco”, afirma o infectologista, destacando que esse é um método eficaz e seguro. “A PrEP consiste no uso de antirretrovirais orais para reduzir o risco de adquirir a infecção pelo HIV”, completa.

Pessoas que tiveram exposição ao vírus também podem recorrer a tratamentos específicos. Em casos como esses, a PEP (profilaxia pós-exposição) é utilizada. Vale destacar que ela é feita a partir da identificação de que a pessoa tenha potencialmente se exposto ao vírus nas últimas 72 horas.

Existe ainda uma estratégia que é conhecida como “prevenção combinada”. Nesse caso, são associados diferentes métodos para prevenir o HIV.

Conforme o Ministério da Saúde, a combinação dessas ações deve estar centrada na pessoa, em seus grupos sociais e na sociedade em que se inserem. “A premissa básica estabelecida é a de que estratégias de prevenção abrangentes devem observar, de forma concomitante, esses diferentes focos, considerando as especificidades dos sujeitos e de seus contextos”, explica a pasta.

Conforme o Ministério da Saúde, entre os métodos que podem ser combinados estão a testagem regular para o HIV, a prevenção da transmissão vertical (quando a gestante vive com HIV e pode transmitir vírus para o bebê); o tratamento das infecções sexualmente transmissíveis e das hepatites virais; a imunização para as hepatites A e B; a redução de danos para usuários de álcool e outras drogas; a da PrEP, a PEP e, ainda, e o tratamento para todas as pessoas que já vivem com HIV.

Vale ressaltar que todos os tratamentos e estratégias de prevenção são disponibilizados de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Camisinha é o método de prevenção mais conhecido e acessível

Embora existam diferentes estratégias para evitar a infecção pelo HIV, a camisinha continua sendo o método mais conhecido e acessível. Distribuído gratuitamente pelo SUS desde 1994, o preservativo também é um importante aliado na prevenção de outras infecções sexualmente transmissíveis.

Mas, mesmo que o uso da camisinha seja uma estratégia conhecida e seja amplamente incentivado, o preservativo ainda enfrenta a resistência de muita gente. É isso o que mostram dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgados recentemente pelo governo federal. Segundo o levantamento, menos de 23% dos brasileiros com mais de 18 anos usam o preservativo em todas as relações sexuais. Mais da metade da população assume não fazer uso do método em nenhuma relação. 

De acordo com o sexólogo Rodrigo Torres, muitas coisas podem explicar a falta de aderência à camisinha, a maioria delas ligadas a preconceitos e tabus relacionados ao preservativo. “As pessoas ainda acham que ele tira o prazer e que é um impeditivo para que a relação sexual flua naturalmente”, conta.

Ele observa ainda que existem pessoas que listam justificativas para não usar a camisinha, e isso inclui motivos que vão de alergias a reclamações de que ela “aperta demais”. “É tudo desculpa esfarrapada. Existem diversos tipos de preservativos em vários tamanhos, quem é alérgico pode optar pelas que não são feitas com látex. É uma diversidade enorme, mas as pessoas nem vão procurar saber”. 

Outra possibilidade de prevenção é a utilização das camisinhas femininas, conhecidas também como “preservativos internos”, que podem ser inseridas na vagina ou no ânus antes do ato sexual. Embora não tenham o uso tão difundido quanto os preservativos externos, esse tipo de camisinha também é eficaz para evitar a transmissão do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis. “É um método importante. Aqui, no Brasil, a gente não aderiu muito, mas ele facilita principalmente em momentos de microviolências, como quando homem tira a camisinha na hora do sexo”, pontua Rodrigo.