Basta uma rápida visita ao supermercado para que, junto com os alimentos e produtos comprados, sejam levados para casa também muitas embalagens, caixas e sacolas, cujo único destino será o lixo. Inspirada pelo blog Trash is for Tossers, da norte-americana Lauren Singer, e incomodada com as quatro sacolas de lixo que jogava fora toda semana, a designer gráfica florianopolitana Cristal Muniz, 23, resolveu se propor um desafio: produzir o mínimo de lixo possível.
Desconfiada de que iria conseguir alcançar a meta, Cristal começou a narrar as experiências no blog Um Ano sem Lixo. Sete meses e algumas mudanças de hábito depois, um dos segredos que a designer faz questão de compartilhar é o kit de sobrevivência diária, indispensável principalmente quando se está fora de casa. “Sempre tenho guardanapos de pano bem grandes para segurar os alimentos, sacolinhas de pano para levar as compras, talheres, um pote com tampa para bebidas e toalha para evitar os papéis de banheiros públicos”, conta.
Trocas por produtos 100% biodegradáveis, como a escova de dentes de bambu, uma composteira em casa para reaproveitar o lixo orgânico e a redução dos produtos de limpeza para apenas três componentes (vinagre, bicarbonato de sódio e sabão de coco) também fazem parte da transição da designer, que ainda tenta encontrar substitutos para alguns métodos contraceptivos (camisinha), o descarte correto do papel higiênico e a depilação com cera. “Os objetos mudaram, não as coisas que eu fazia”, garante.
Cristal conta que, muitas vezes, por onde passa é recebida com um olhar estranho, mas, em geral, as pessoas são receptivas à ideia. “Dou meu copinho ou abro o guardanapo e já vou estendendo a mão. Às vezes rola um pânico porque as pessoas só pensam na possibilidade do descartável mesmo. Hoje penso muito mais antes de consumir as coisas”, ensina.
Tentando diminuir as dívidas, sem querer a publicitária e blogueira soteropolitana Joanna Moura, 31, também acabou criando mais consciência sobre suas compras ao ficar Um Ano sem Zara – nome que batizou a ideia de passar um ano inteiro sem comprar nenhuma peça de roupa ou acessório. “Em vários momentos, eu fui muito tentada a comprar, mas uma das coisas que mais me surpreenderam no meu ano sem compras foi descobrir milhões de novas combinações que eu nunca tinha imaginado com coisas que eu já tinha. Isso faz a gente ter aquela sensação de roupa nova, sem ter que gastar nada”, afirma.
Para quem acha radical demais, Joanna sugere: “Não precisa parar de comprar totalmente, mas ter escolhas mais inteligentes já é um bom começo e vai fazer muita diferença”, diz.
Assim como com a Cristal e a Joanna, a diminuição do consumo e a consequente redução do lixo também acabaram pegando de tabela outros dois projetos desenvolvidos por brasileiros durante um ano: o Projeto sem Dinheiro, do carioca Renan Cossatis, e o 365 Nuncas, desenvolvido pela fotógrafa Elisa Mendes e pela artista visual Steffania Paola.
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