Saúde

Vírus que é ‘primo’ do chikungunya preocupa especialistas em Minas

Mayaro não foi detectado no Estado, mas já circula no Rio de Janeiro e em São Paulo; SES-MG não descarta risco, mas diz que mantém ações contra mosquito transmissor

Sáb, 25/05/19 - 06h00
O mosquito Haemagogus é quem passa o vírus marayo para o ser humano | Foto: Genilton Vieira/IOC/Fiocruz

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Diante de um cenário de epidemia de dengue, os brasileiros correm o risco de enfrentar uma nova doença que já preocupa os especialistas: o mayaro.

Transmitido pelo mosquito Haemagogus (que vive em matas e é conhecido por propagar a febre amarela silvestre), o vírus foi detectado no Sudeste e ganhou o apelido de “primo do chikungunya” por causa dos sintomas semelhantes, como febre alta e dores articulares. 

O mayaro foi identificado em pelo menos três moradores de Niterói, no Rio de Janeiro, e 35 habitantes de São Carlos, no interior de São Paulo. Apesar de Minas Gerais não ter nenhum caso registrado, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG) não descarta o risco da chegada do vírus por aqui. 

Para os especialistas, os maiores perigos estão no seu potencial epidêmico, na semelhança com os sintomas causados pelo vírus chikungunya – que poderia dificultar o diagnóstico – e na falta de tratamento específico para combater a doença, incluindo vacina.

“Esse mosquito não é comum nas zonas urbanas, já que habita as matas. Mas isso não impediria uma epidemia, porque se trata de um novo vírus, e não sabemos as proporções que pode alcançar”, explica o infectologista Unaí Tupinambás, professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas de Gerais (UFMG). 

Segundo Luiz Tadeu Figueiredo, professor e diretor do Departamento de Virologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), um paciente com febre e dores no corpo pode ter o diagnóstico prejudicado. “A semelhança dos sintomas pode confundir os profissionais médicos e dificultar o diagnóstico”, diz. 

Para Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), a inexistência de um tratamento poderia agravar uma situação de epidemia. “Não sabemos se nossos anticorpos seriam capazes de combater, com eficiência, o vírus”, pondera. 
Em nota, a SES-MG informou que mantém ações permanentes de prevenção e de combate aos Haemogogus, que transmitem a febre amarela em todo o Estado.

Aedes aegypti

O mosquito Aedes aegypti pode transmitir múltiplos vírus em uma única picada, como os de dengue, zika e chikungunya. É o que aponta um estudo da Universidade Estadual do Colorado (CSU, sigla em inglês) publicado neste mês na revista científica “Nature Communications”.

Para os pesquisadores, os resultados podem ajudar a explicar a coinfecção. Os cientistas admitem, no entanto, que o mecanismo dessa coinfecção ainda não é compreendido totalmente.

A equipe da CSU infectou os mosquitos em laboratório com os três tipos de vírus, depois realizaram testes para verificar qual a taxa de transmissão. De acordo com o estudo, ainda não há uma razão para acreditar que uma coinfecção possa ser mais grave do que ser atingido por um só vírus.

As pesquisas sobre o assunto são escassas. Os pesquisadores querem, a partir de agora, tentar descobrir se algum desses vírus é dominante e consegue superar os outros dentro do organismo dos mosquitos.

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