Discrepância

Internauta brasileiro já é 'maduro digital' e explora a internet  

Fazer cursos online está entre as opções menos praticadas

Ter, 21/07/15 - 03h00

São Paulo. Qual é o grau de sofisticação do seu uso da internet? Você é daqueles que faz pouco mais do que acessar o Facebook e o WhatsApp? Ou é do tipo que ancora sua existência no mundo online, usando a rede para se informar, ver a previsão do tempo, pagar contas, procurar relacionamentos, ouvir música, assistir a seriados de TV, dentre muitas outras atividades?

Se você se encaixa na segunda opção, pode se considerar um “maduro digital”. De acordo com uma pesquisa do Ibope sobre hábitos na internet, a maturidade digital está relacionada ao número de atividades realizadas na rede. “Imaturos” realizam de uma a cinco atividades. No meio-termo, estão os que fazem de seis a dez atividades. Já aqueles que atingiram a maturidade digital são pessoas que praticam de 11 usos distintos da rede para cima.

A boa notícia é que, com 63% de seus 84 milhões de usuários de internet (segundo a Comscore) na categoria dos 11 usos ou mais, o Brasil pode ser considerado um país digitalmente maduro. Por outro lado, quando se considera as atividades individualmente, se observa discrepâncias grandes entre os tipos de atividade. No topo do engajamento estão, como era de se esperar, as redes sociais. Na outra ponta, atividades como fazer cursos online, procurar emprego ou realizar compras pessoais têm adesão baixa.

A pesquisa, realizada nas maiores áreas metropolitanas do país, com indivíduos de todas as classes e idades entre 12 e 75 anos, contempla o uso da internet em qualquer tipo de aparelho, web ou móvel. Quando comparados a dados de 2005 do próprio Ibope, fica clara a evolução. Há dez anos, apenas 44% das pessoas que utilizavam a internet realizavam uma diversidade maior de atividades.“Atualmente, a variedade de atividades não tem sido apenas maior, como cresce mais rapidamente”, observa Juliana Sawaia, gerente da área de aprendizado e visão do Ibope, que diz que quase 40% das pessoas que usa a rede há menos de dois anos realiza 11 ou mais atividades.

De acordo com o levantamento, tudo aumenta conforme os anos de uso. Além da variedade de atividades, os veteranos da rede também passam mais tempo conectados e utilizam mais telas, que podem ser de smartphone, tablet ou PC. O Ibope também mostra que a quase totalidade dos usuários brasileiros (94%) se vale de pelo menos duas telas.

Em tempos de Internet.org, o projeto do Facebook criticado por oferecer um acesso à rede restrito a poucos apps, é tentador comemorar a diversidade da experiência online dos brasileiros. O papel de atração que o Facebook exerce sobre quem aspira a se conectar ou acabou de adentrar o mundo online, porém, continua central. De acordo com o Ibope, mesmo entre usuários recentes, a adesão às redes sociais é de 51%, a porcentagem mais alta entre dezenas de atividades.

Complexidade. Entre aqueles com uso pouco sofisticado, uma porção de atividades relevantes têm adesão baixíssima. Consultar mapas, ouvir música, ver fotos, conferir previsão do tempo e visitar sites de educação ou aprendizagem estão entre asque registram menos de 10% de adesão entre aqueles com uso restrito da rede.

Já entre os que contam com a rede para mais atividades, os números saltam.Ouvir música, por exemplo, vai de 7% de adesão entre os que têm uso limitado para 54% entre os maduros digitais.

“O brasileiro é o top 2 do serviço no mundo em tempo de conexão, atividade e engajamento”, conta Bruno Vieira, gerente da plataforma de streaming de música Rdio no Brasil.

Flash
Comparação
. Segundo outro levantamento do Ibope que compara o Brasil com países latinos, nossa maturidade digital está acima de Argentina e México, equivalente à do Chile e abaixo de Colômbia e Equador

Lidar com dinheiro ainda assusta

São Paulo
. O brasileiro pode estar muito à vontade nas redes sociais, mas quando o assunto envolve dinheiro ele ainda se mostra bastante reticente, de acordo com o levantamento do Ibope.

Apenas 32% dos usuários de internet realizam atividades de “transação”, categoria que inclui serviços bancários, sites de investimento, reservas de hotéis ou carros, leilões e compras online.

Mesmo entre usuários mais experientes, que utilizam a rede há cinco anos ou mais, apenas 41% transacionam na rede. Entre os que chegaram na internet há menos de dois anos, só 10% se arriscam em operações que envolvem dinheiro.

Quando se analisa as atividades específicas, a adesão é ainda mais baixa. Apenas 20% realizam compras pessoais ou usam serviços bancários. Para Hellison Lemos, diretor geral do Mercado Livre, o brasileiro não é mais tão receoso quanto à segurança das transações online, mas outros fatores conspiram para manter a adesão baixa. O executivo lembra que expressivas parcelas da população estão fora do sistema bancário, não têm cartão de crédito e/ou não têm bom sinal de internet que permita operações mais complexas. “Ainda assim, crescemos a taxas que impressionam o mundo inteiro”, reforça o executivo.

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