Live do Tempo

Presidente de associação de aéreas vê futuro nebuloso para o setor

Eduardo Sanovicz explica todos os protocolos de segurança adotados a partir de agora, mas reconhece que há dependências junto ao governo federal e aos próprios passageiros

Por Léo Simonini
Publicado em 10 de junho de 2020 | 16:02
 
 
Eduardo Sanovicz, presidente da Abear Reprodução / Youtube

O presidente da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, fez da palavra "sinceridade" seu norte durante a Live do Tempo realizada nesta quarta-feira (10). De acordo com ele, o setor está sendo muito atingido pela pandemia de coronavírus (Covid-19) devido à complexidade e à diversidade de fatores que a gerem. Segundo ele, os voos domésticos foram eliminados em quase 95%, enquanto os internacionais foram rebaixados a quase zero, salvo raras exceções.

"Fizemos a revisão da malha, voávamos com pouco e chegamos a 180 voos diários, sendo que antes da crise a média era de 2.700. Só não foi pior porque de Brasília para cima, por exemplo, a única via de chegada de equipamentos de saúde é por via aérea e não há plano B. Mas estamos nos preparando para passar por esse processo duríssimo, com pouca demanda de passageiros e com protocolos de saúde muito fortes já implantados. Mas o futuro ainda é bastante incerto, devo ser sincero, e com poucos números para serem falados", explicou.

De acordo com Sanovicz, o que se espera é que, até o fim do ano, 50% dos voos no país sejam retomados, pelo menos no que diz respeito ao campo doméstico, já que no cenário internacional o Brasil é visto com desconfiança pela forma como vem lidando com a pandemia, sendo que alguns países já restringiram a chegada de brasileiros.

"Poderemos apontar algo em torno de 20% da malha voando em julho, mas não há possibilidade de cravar como estaremos no fim do ano, variando entre 50% e 65% de atividade. Não podemos cravar, porque ninguém hoje é capaz de dizer a capacidade de retomada econômica, além da questão sanitária. E outra preocupação que vai surgir agora e servirá de critério de viagem é perceber como funciona o sistema de saúde de determinado lugar, se aceita meu plano de saúde. São preocupações legítimas", afirmou, antes de reconhecer que haverá necessidade de o Itamaraty trabalhar para que o Brasil tenha as fronteiras reabertas por outros países.

É um fato (que países fecharam as fronteiras para o Brasil), com mais de um país restringindo o tráfego para brasileiros. Não nos cabe conduzir essa negociação enquanto empresa com um governo estrangeiro. Cabe ao Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) negociar com governos estrangeiros a rebertura, e eles vão demandar provas concretas de que é seguro receber nossos voos. O problema é quem desce dele contaminado. É um desafio para nós, mais um dos temas a impactar no sentido de retardar nossa conectividade internacional e retomada", garantiu.

Protocolos sanitários
Eduardo Sanovicz fez questão de sanar uma dúvida de uma internauta da Live do Tempo, que com certeza é a mesma de muitos brasileiros: "Como criar coragem de voltar a entrar num avião mesmo após a pandemia?".

"Começamos há 14 dias a informar nossos protocolos de vigilância sanitária, que já estão em vigência. Primeiro, no aeroporto entra só quem vai viajar; despedidas devem ser feitas em casa ou no máximo na porta. Já dentro, máscara todo mundo. Pedimos para que seja feita a digitalização da passagem via celular. O balcão do check-in está todo protegido, mas queremos evitar a troca de documentos. A mala deve ser autoetiquetada. Já no raio-X, os aeroportos estão instalando um tapete para limpar o pé e tentar criar uma área sanitariamente isolada. Na fila, os chamados são aos poucos, mantendo distância. Mas um grande desfio é a educação das pessoas. A bordo, temos um filtro (de ar-condicionado) que, em sua potência máxima, troca a cada três minutos quase 100% do ar da cabine, o que comprovadamente gera um ambiente bastante limpo. Além de tudo isso, um processo de higienização da aeronave radical: ele já existia e se aprofundou com novos produtos. Quanto ao serviço de bordo, como estamos operando apenas com voos curtos, ele está cancelado, e quando forem retomados os voos mais longos, ele será repensado", completou.