Sustentabilidade

Adotar o ESG na educação é um desafio para toda a sociedade

Redes privadas e públicas têm realidades muito distintas; conceito usado no mundo corporativo pode ser adotado nas macropolíticas educacionais

Por Cristiana Andrade
Publicado em 27 de setembro de 2023 | 06:00
 
 
O termo ESG, que ganhou o mundo dos negócios, pode ser adotado na educação Acir Galvão

O termo ESG, que ganhou o mundo dos negócios e está em alta no cenário das grandes corporações, pode ser adotado em outras áreas, incluindo a educação, servindo como parâmetro para a implantação de políticas inclusivas, sustentáveis e éticas. No Brasil, no entanto, adotar amplamente os temas ESG na educação, principalmente na pública, demandará um esforço coletivo para mudança da própria sociedade.

“Dentro da educação real, nós temos um mundo no qual o ESG é inexistente, no sentido de que, se eu não transformar a base – e a grande massa está na base –, não há o que eu faça em escolas privadas, que são uma minoria no Brasil, que de fato gere impacto no ESG brasileiro. É preciso uma transformação das pessoas para uma visão mais sustentável, uma gestão socialmente justa e uma governança correta e objetiva. A compreensão real do papel do ESG passa pela educação financiada pela iniciativa privada”, analisa Matheus Toscano, vice-presidente de operações e marketing do Rhyzos, holding educacional que fomenta iniciativas de educação inovadora no Brasil. 

Na visão de Toscano, que é especialista em marketing e vendas, é inviável falar de práticas ESG em educação quando há situações escolares que não cumprem requisitos básicos de direitos humanos, como acesso a banheiro, biblioteca e livros. 

Amostra dessa realidade vem de dados coletados na Operação Educação: Fiscalização Ordenada Nacional, que começou em outubro passado por iniciativa da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon). 

Mais da metade das escolas visitadas, 619 (57,21%), apresentaram problemas nas salas de aula, entre elas iluminação inadequada, em 177 delas (14,82%); mobiliários quebrados ou vandalizados, 159 (13,32%); ventilação insuficiente, 143 (11,98%); infiltrações e mofos, em 269 das salas visitadas (29,63%); falhas na pintura, em 284 (31,27%); e rachaduras/trincas, em 155 (17,07%).

Em 813 escolas (75,14%) não havia estrutura esportiva; em 680, não havia biblioteca; e 679 não tinham sala de leitura. O trabalho, considerado uma ampla auditoria feita por 785 servidores dos 32 tribunais de contas do país, verificou in loco 1.082 escolas, em 537 municípios brasileiros, checando cerca de 200 itens, como situação física das instalações, segurança, combate a incêndio, disponibilidade de livros e computadores. 

Transformação do ambiente

 Todos esses aspectos, segundo Matheus Toscano, mestrando em políticas públicas em educação e diversidade pela Universidade de São Paulo (USP), “se enquadram no ‘E’, do ESG, que significa, em português, ‘ambiente’, e que não necessariamente deve ser traduzido para meio ambiente.

“Muitas empresas vão para o lado da questão do meio ambiente, desenvolvendo ações com esse foco, mas o ambiente significa como eu transformo o local e como eu ajo ativamente para que as pessoas que vão impactar esse ambiente possam fazer dali um lugar sustentável. Na minha visão, inclusive, quem faz o elo do ESG é justamente o social. É ele quem sustenta o ambiente e a governança”, avalia.

Impacto positivo no aprendizado

O Instituto Rhyzos, baseado em São Paulo, promove o ensino bilíngue para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social em todo o país, por meio de parcerias com empresas que querem apadrinhar determinada comunidade ou número de pessoas.

“Quando a criança e o jovem aprendem a segunda língua, ocorre um aprimoramento cerebral, com novas conexões neurais. E isso promove um salto de resultados, com 78% de melhoria na leitura e 62% no raciocínio lógico”, cita Matheus Toscano, vice-presidente de operações e marketing da holding educacional. “É aqui que mora o ‘S’ que transforma o ESG como um todo”.

“O jovem, gerando renda para si, envolve a família e promove uma transformação de impacto social e ambiental na região onde vive. Isso é ESG, mas a maioria das pessoas não enxerga assim”, comenta.