Pampulha

Menino atropelado queria a  cidade com menos trânsito

Garoto de 12 anos participava de um grupo e era assíduo na prática do esporte

Sex, 20/09/13 - 03h00
Ativo. Claiton Cabral (de azul e segurando um cartaz) já havia participado de protestos na capital | Foto: reprodução arquivo pessoal

Claiton Bernardes Cabral, 12, costumava dizer que não tinha medo porque tinha fé. Às 18h dessa quarta-feira, ele fez a mesma oração diária ensinada pela mãe antes de sair de casa e foi se dedicar à sua mais nova paixão: andar de bicicleta. Porém, seu hobby esbarrou em uma manobra imprudente de um caminhoneiro que, em questão de segundos, transformou uma criança que desejava melhor qualidade de vida em mais uma vítima do trânsito em Belo Horizonte.

 

“Ele não tinha medo de pedalar. Sempre falava que tinha orado antes e dizia para eu não me preocupar, pois queria viver numa cidade com menos trânsito”, lembrou a mãe do menino, a dona de casa Elizeth Taylor Cabral, 50. O atropelamento, que aconteceu justamente no primeiro dia da Semana Nacional de Trânsito, acabou também com os sonhos de um garoto que tomou a iniciativa de emagrecer e cuidar melhor da sua saúde por conta própria.

Apaixonado por futebol, Claiton treinava como goleiro na escolinha do Clube do América (Clam) desde 2010, onde iria participar da Copa das Confederações Mirim no fim deste ano. “Ele pegava bem e sempre ia de bicicleta para o treino. Estava até se dedicando mais para o torneio de que íamos participar juntos”, afirmou o amigo e vizinho do menino Lucas Gabriel, 14.

Apesar disso, desde janeiro, Claiton descobriu um novo esporte ao ingressar na Turma do Edgar. O atleta e coordenador do projeto, Edgar Antônio da Silva, 30, que ensina ciclismo para cerca de 30 alunos na orla da Pampulha, disse que Claiton deixou até de ver o jogo do Cruzeiro – seu time de coração – para pedalar. “Ele amava bicicleta e faltava pouquíssimo às aulas. Inclusive tinha conseguido emagrecer mais de cinco quilos depois que começou a pedalar. Era muito tímido, mas estava mais solto. A atividade física o fazia manter contato com outras pessoas”, disse.

Consciência. A paixão pela “magrela de duas rodas” foi tão intensa que levou o garoto às ruas no mês de junho, durante manifestações populares. Segurando um cartaz com os dizeres “Ciclismo na lagoa é mais antigo que o Mineirão”, ele cobrou melhorias para as ciclovias da cidade. Vizinhos e familiares contaram que o garoto usava a bicicleta para priorizar os estudos. “Ele voltava do treino de bike e dizia que era para chegar mais rápido e estudar. Falava inglês, ajudava todo mundo da rua, era um doce”, contou a dona de casa Gisele Cristina, 30.

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