Fúria nas ruas

Acordo encerra protestos, mas crise ainda assombra o Equador

Presidente suspende medida que fez combustíveis dispararem 123%

Ter, 15/10/19 - 06h00
A negociação entre as partes contou com a mediação da ONU e da Igreja Católica | Foto: Luis ROBAYO / AFP

O Equador anunciou um acordo para acabar com sua pior crise em décadas e agora enfrenta a missão de reparar os danos após 12 dias de fúria em Quito contra medidas de austeridade: prejuízo milionários, sete mortos e centenas de feridos e detidos.

A capital do país foi cenário de protestos violentos, que devem acabar após o anúncio de um compromisso no domingo à noite entre o governo do presidente Lenín Moreno e o movimento indígena, que liderou as manifestações. A negociação entre as partes contou com a mediação da ONU e da Igreja Católica.

A situação gerada pelo protesto radical indígena gerou uma “fratura que será muito difícil de recuperar”, afirmou à AFP Pablo Romero, especialista na questão indigenista da Universidade Salesiana. 

Ele também apontou que a crise alimentou o racismo em um país onde os indígenas representam 25% dos 17,3 milhões de habitantes.

O Executivo aceitou o pedido da Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie) para desmobilizar milhares de seus integrantes que viajaram à capital do país: revogar o decreto presidencial 883 que eliminou os subsídios aos combustíveis, medida adotada em um acordo com o FMI.

A medida, com a qual o Estado pretendia economizar US$ 1,3 bilhão por ano, provocou em 3 de outubro aumento de até 123% nos preços do diesel e da gasolina, em um país que enfrenta sérios problemas financeiros.
O presidente escreveu no Twitter: “O governo substituirá o decreto 883 por um novo que contenha mecanismos para concentrar os recursos nos que mais precisam”.

Os indígenas, que participaram nas derrubadas de três presidentes entre 1997 e 2005, conquistaram uma vitória simbólica após as manifestações da semana passada, afirma Romero.

Inicialmente as manifestações foram lideradas por estudantes e trabalhadores, o que levou Moreno a decretar estado de exceção no dia em que os aumentos entraram em vigor.

Ao mesmo tempo, Romero considera que todos sofreram derrotas. “O governo porque foi possível observar todas as suas fragilidades; a Conaie pela divisão em sua cúpula; e o país por tudo o que significou o protesto, em particular em Quito”.

“O Equador tem que cumprir os compromissos com o FMI porque ninguém vai emprestar dinheiro se o país continuar gastando e vivendo com dívidas, a estratégia aplicada desde 2014”, declarou Acosta Burneo, da consultoria Grupo Spurrier.

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