Conflito na Síria

Curdos resistem a ataque da Turquia, que já matou 357

Acusados de traição, EUA pedem cessar-fogo; Ancara rejeita parar ofensiva, e ONU convoca reunião sobre a nova crise

Por AFP
Publicado em 16 de outubro de 2019 | 06:00
 
 
Foto tirada em 15 de outubro de 2019 mostra a fumaça subindo da cidade síria de Ras al-Ain, do lado turco da fronteira no distrito de Ceylanpinar em Sanliurfa, na primeira semana da operação militar da Turquia contra as forças curdas. Ozan KOSE / AFP

As forças curdas resistiam ontem às investidas dos militares turcos no norte da Síria, onde a retirada de tropas americanas permitiu um deslocamento de militares sírios seus aliados russos. Em Ain Isa, no norte do país, dois soldados do regime morreram atingidos por disparos de artilharia de rebeldes pró-turcos, informou a ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos. 

As forças da Turquia lançaram em 9 de outubro uma ofensiva no norte da Síria contra as Unidades de Proteção Popular (YPG), uma milícia curda que Ancara considera “terrorista”, abrindo nova frente na complexa guerra síria que deixou mais de 370 mil mortos desde 2011.

Em sete dias, a ofensiva deixou 71 civis e 158 combatentes das Forças Democráticas Sírias (FDS) mortos. Segundo a ONG, 128 combatentes pró-turcos também morreram – totalizando 357 vítimas.

Vários países participam militarmente no conflito. Os soldados americanos, destacados para ajudar os curdos na luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), receberam a ordem de se retirar, o que é visto como uma traição dos EUA aos curdos. 

Estes, sentindo-se abandonados, pediram ajuda ao regime de Bashar al Assad, que recebe apoio militar no terreno da Rússia e do Irã. 

O ataque turco provocou críticas internacionais, e o Conselho de Segurança ONU se reunirá de novo nesta quarta-feira. Em Washington, o presidente americano, Donald Trump, disse ontem que seu vice, Mike Pence, e o secretário de Estado, Mike Pompeo, viajarão nesta quarta-feira a Ancara para pressionar a Turquia a deter a ofensiva contra os combatentes curdos na Síria.

Porém, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, rejeitou categoricamente a proposta dos Estados Unidos para um cessar-fogo. “Jamais vamos declarar um cessar-fogo”, disse. O projeto turco é criar uma “zona de segurança” de 32 km de largura ao longo de sua fronteira para manter as forças curdas à distância e repatriar uma parte dos 3,6 milhões de refugiados sírios que estão em seu território.

Desde o início da operação, a Turquia e seus aliados sírios locais tomaram o controle de uma faixa fronteiriça de mais de 100 km. Resta conquistar a cidade-chave de Ras al Ain, onde se concentram os combates mais violentos.

Usando uma densa rede de túneis subterrâneos e trincheiras, as FDS lançaram um contra-ataque maciço contra as forças turcas e seus aliados sírios perto de Ras al Aín, disse o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). Ontem, soldados sírios levantaram a bandeira nacional em Manbij.

O que a Rússia diz:
- A Rússia afirmou que não permitirá enfrentamentos entre Turquia e Síria. “Isso seria simplesmente inaceitável”, disse Alexander Lavrentiev, enviado russo para a Síria.

- “Não deixaremos que se chegue a esse ponto”, acrescentou.Além disso, militares russos realizam “patrulhas ao longo da linha contato” entre as forças sírias e turcas no setor de Manbij.

- O caos com a ofensiva turca faz vários países europeus temerem a fuga de milhares de combatentes do EI detidos pelas forças curdas.