Deserto do Atacama

Gravação de brasileiro pode ter fechado ponto turístico no Chile

O kitesurfista Reno Romeu estava gravando seu programa para o Canal Off, de esportes radicais; fato causou grande repercussão nas redes sociais

Por Gabriel Moraes*
Publicado em 16 de janeiro de 2018 | 17:48
 
 
"Piedras Rojas" ou "Pedras Vermelhas" tem esse nome devido à coloração das rochas, de origem vulcânica Instagram/divulgação/@atacama_trips

O vídeo de um turista praticando kitesurf, em uma lagoa do deserto do Atacama, no Chile, tem gerado polêmica nas redes sociais. O atleta Reno Romeu, que tem um programa no Canal Off, teria feito uma gravação no local e espantado algumas espécies nativas, o que causou, inclusive, o fechamento de parte do deserto, que é um dos mais procurados da região para visitações.

O esportista nega que tenha causado qualquer dano ambiental ao local. O registro, supostamente feito por um guia de turismo, mostra o brasileiro praticando o esporte em uma das lagoas de Piedras Rojas das Águas Calientes do Salar de Tara, no deserto, que cobre grande parte do país Sul-Americano. Há relatos, nas redes sociais, de que um drone estava sendo usado para as gravações da próxima temporada do programa.

Veja o vídeo:

As gravações aconteceram em meados de dezembro do ano passado. Mas a repercussão do fato ainda gera indignação em blogs e páginas de turismo. Segundo visitantes da região, o local é habitat de flamingos e pássaros, que tiveram que abandonar suas áreas de alimentação em decorrência de "atividades incomuns", feitas principalmente por “turistas irresponsáveis”.

“Para nossa total decepção, os responsáveis foram brasileiros, e o mais inacreditável, filmando para um canal de esportes radicais de grande influência”, afirma a página do Atacama Trips, no Instagram. "Todos os locais que visitamos por aqui são ancestrais, frágeis, protegidos, sendo  alguns intocados. Essa lagoa em específico é local de descanso de aves como os flamingos (ameaçadas de extinção) e outras espécies frágeis, que se assustam com barulhos, com drones, como a invasão que ocorreu”, postou o Araya Atacama em sua página no Instagram. A postagem ainda fala sobre a comunidade local. “Os povos indígenas, que têm suas raízes aqui, se sentiram lesados, invadidos e desrespeitados. Eles são donos dessas terras, seus antepassados estavam aqui e cuidaram disso por séculos”, complementou.

O atleta também se defendeu das acusações pelas redes sociais, afirmando que nem ele nem a equipe do programa causaram nenhum tipo de dano ambiental. “A prática em Piedras Rojas não foi realizada por turistas irresponsáveis, e sim por kitesurfistas profissionais, que por meio de imagens e informação consciente divulgam o esporte e os mais diferentes locais, sua gente e tradições, como já ocorreu nos lagos da Mongólia, nas ilhas caribenhas, no Egito, Marrocos, África do Sul e no Pólo Norte, entre tantos outros”, afirmou Reno Romeu.

Ainda segundo ele, não há qualquer restrição de atividades no local. “Da mesma forma, cabe deixar bem claro que nas Piedras Rojas e em suas imediações não há qualquer barreira, identificação, placa de informação ou presença de representação da associação de povos indígenas locais ou de qualquer órgão que aponte qualquer impedimento de atividades ao local ou que esta seja uma área sagrada. Em outros locais, como o Geiser del Tatio, a presença destas pessoas é efetiva e a gestão admirável”, diz.

Veja o post do atleta no Facebook:

Em entrevista ao portal chileno "BioBio Chile", o diretor da Corporação Nacional Florestal, do Chile (Conaf) Alejandro Santoro Vargas, especialista em áreas protegidas, disse que os possíveis danos causados pelas atividades esportivas na lagoa são reversíveis. Segundo ele, devido aos impactos imediatos no local, a fauna desaparece por um tempo, mas depois retorna.

O diretor ainda explicou que o local não faz parte de área protegida pelo Conaf, nem está sob sua administração. "Nossas atribuições neste caso não nos permitem obrigar, mas educamos e informamos o turista", disse Santoro. Mas ele afirma que não há desculpas para não preservar uma área como esta, e que a ação de uma só pessoa pode causar um grande dano ambiental.

Segundo Gabriela Doss, representante de turismo do Chile no Brasil, a informação de que a área foi fechada para visitações ainda não é confirmada. "Ainda estamos correndo atrás da informação com o governo chileno, mas como hoje (16) é feriado no Chile, devido a visita do papa no país, só conseguiremos isso no decorrer da semana", diz.