NAACP

'Me retratava como negra', diz ativista alvo de polêmica nos EUA

Dolezal, que é branca e nasceu loira e com olhos azuis, afirmou que começou a se sentir negra aos 5 anos de idade, quando desenhava autorretratos usando a cor marrom

Por Folhapress
Publicado em 16 de junho de 2015 | 18:27
 
 
Rachel adolescente, em foto de família, e em foto recente da AFP AFP

Em sua primeira entrevista após ser acusada de mentir sobre a cor de sua pele, a ativista norte-americana Rachel Dolezal, 37, afirmou nesta terça-feira (16) que se "vê como negra".

Dolezal, que é branca e nasceu loira e com olhos azuis, afirmou que começou a se sentir negra aos 5 anos de idade, quando desenhava autorretratos usando a cor marrom. Hoje, ela se apresenta com o cabelo afro e a pele mais morena.

"Eu me desenhava com o lápis marrom ao invés do cor de pêssego e com o cabelo preto e cacheado. Era assim que eu estava me retratando", disse.

O caso ganhou destaque depois que os pais da ativista, Ruthanne e Larry -ambos brancos- afirmaram em entrevista a um canal de TV local que Dolezal tem ascendência alemã e tcheca e vinha mentindo sobre ser negra há anos.

Na segunda (15), ela renunciou ao cargo de presidente do escritório regional da NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor), uma das mais importantes entidades de defesa dos direitos dos negros nos EUA, em Spokane (Washington).

Ao canal de TV NBC, Dolezal criticou os pais e afirmou que parte da discussão sobre ela tem sido "cruelmente desumana".

"Eu realmente não entendo porque eles [seus pais] estão querendo jogar uma pá de cal sobre o meu trabalho, sobre quem eu sou e como me identifico", afirmou.

Durante a entrevista, Dolezal respondeu uma série de questões sobre cor de pele e a forma como se comportou publicamente.

Foi questionada, por exemplo, sobre o seu tom de pele atual, mais moreno do que mostram as fotos apresentados por seus pais. "Eu com certeza não fujo do sol", disse. "Eu também não me maquio para fingir ser negra."

"Isso não é uma performance de chacota como negra. Isso é um nível de conexão bastante real. Eu tive que ir até lá com experiência, não apenas uma representação visível", disse.

Ao ser perguntada sobre o por quê de não ter corrigido um repórter que a identificou como uma mulher negra, ela afirmou: "Isso é mais complexo do que verdadeiro ou falso."

DISFARCE

Dolezal é ativista dos direitos dos negros há anos e foi nomeada presidente da NAACP em Spokane em janeiro deste ano. Ela também atuava como professora-adjunta do Departamento de Estudos Africanos da Universidade de Eastern Washington.

Na semana passada, no entanto viu sua carreira ser questionada e se tornou o centro de um debate racial nos Estados Unidos após a revelação de seus pais.

No sábado (13), um de seus irmão adotivos, Ezra, que é negro, afirmou que foi instruído pela irmã a não "destruir seu disfarce" ao visitá-la em Spokane, há três anos.

Ele vive com os pais de Rachel Dolezal no Estado de Montana. "Ela me disse para não contar a ninguém sobre Montana ou sua família lá. Afirmou que estava começando uma nova vida e que uma pessoa lá [em Spokane] seria seu pai negro", disse o irmão.

Dolezal costumava afirmar que era filha de um casal birracial. Em uma publicação de janeiro, a página da NAACP no Facebook trazia uma foto da ativista ao lado de um homem negro, identificado como seu pai.

Em outra publicação, de 2013, em seu perfil pessoal, ela mostra seu penteado afro sob a legenda "Saindo com o meu 'look' natural no aniversário de 36 anos".