América Latina

Morales se asila no México e militares atuam contra violência na Bolívia

Ex-presidente da Bolívia viajou na noite dessa segunda-feira em um avião militar com destino ao México, onde ficará asilado após sua renúncia

Ter, 12/11/19 - 07h56
Ex-presidente boliviano partiu para o México na noite dessa segunda-feira (11) | Foto: HO/Mexican Foreign Ministry/AFP

O ex-presidente da Bolívia Evo Morales viajou na noite dessa segunda-feira em um avião militar com destino ao México, que lhe concedeu asilo político após sua renúncia, enquanto os militares se uniam à polícia para conter a violência nas ruas do país.

"Irmãs e irmãos, parto rumo ao México, agradecido pelo desprendimento do governo deste povo irmão que nos deu asilo para proteger nossa vida".

"É doloroso abandonar o país por razões políticas, mas sempre estarei a disposição. Em breve voltarei com mais força e energia", tuitou o ex-presidente indígena.

O chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, confirmou a partida de Morales de um avião da Força Aérea do México, horas após informar o asilo político por considerar que "sua vida e sua integridade" correm risco na Bolívia. 

"Recebi um telefonema do presidente Evo Morales. Ele solicitou formal e verbalmente asilo político em nosso país", o que foi concedido, assinalou Ebrard.

Em meio à onda de protestos, agora protagonizada por partidários de Morales, as Forças Armadas decidiram realizar operações conjuntas com a polícia para conter a violência em várias regiões do país.

O comandante das Forças Armadas, general William Kaliman, "determinou a execução de operações conjuntas com a polícia para evitar sangue e luto na família boliviana".

Kaliman determinou à tropa que utilize "a força de forma proporcional contra os atos de vandalismo que causam terror na população", e recordou que as "Forças Armadas jamais abriram fogo" contra a população.

A decisão ocorreu após um pedido do chefe da polícia de La Paz, coronel José Barrenechea, diante de ataques a quartéis da polícia em algumas cidades por partidários do ex-presidente.

Centenas de apoiadores de Morales seguiram nesta segunda-feira de El Alto para La Paz, enquanto moradores da capital se organizavam para defender seus bairros deste avanço.

Em uma praça do bairro de San Miguel, a população erguia barricadas com latas de lixo, telhas de zinco, cordas e correntes para deter "uma turba violenta que se aproxima para destruir nossas casas", disse um dos moradores, que pediu ajuda à polícia.

Indefinição no poder

A futura presidente interina da Bolívia, senadora Jeanine Añez, disse que serão convocadas eleições, para que "em 22 janeiro já tenhamos um presidente eleito".

"Vamos convocar eleições com personalidades comprovadas, que realizem um processo eleitoral que reflita o desejo e o sentimento de todos os bolivianos", disse à imprensa na entrada da Assembleia Legislativa de La Paz a segunda vice-presidente do Senado, a quem corresponde a presidência interina após a renúncia de todos que estavam antes na linha de sucessão.

"Já temos um calendário. Acredito que a população grita para que no dia 22 de janeiro haja um presidente eleito", disse Añez sobre a data prevista para a posse do próximo presidente.

A renúncia de Morales deixou um vácuo de poder como resultado de três semanas de protestos desencadeados por eleições supostamente irregulares pelas quais o primeiro presidente indígena da Bolívia teria buscado se perpetuar no poder.  

A secretaria geral da OEA se manifestou nesta segunda-feira contra "qualquer saída inconstitucional" e pediu ao Poder Legislativo que organize novas eleições, depois das realizadas em 20 de outubro, impugnadas pela oposição e pelo organismo regional com sede em Washington.

O gabinete do secretário geral da OEA, Luis Almagro, pediu ao Poder Legislativo da Bolívia reunir-se "de forma urgente" para "assegurar o funcionamento institucional e nomear novas autoridades eleitorais que garantam um novo processo eleitoral".

Morales renunciou sob pressão das Forças Armadas, da polícia e da oposição, que exigiram que ele deixasse o cargo que ocupa desde 2006 para pacificar o país.

Em meio à indefinição, a polícia deteve 33 juízes eleitorais por ordem da Procuradoria boliviana, com base na auditoria da OEA sobre as eleições de 20 de outubro.

Os 33 detidos são "vogais do Tribunal Supremo Eleitoral ou dos tribunais eleitorais dos nove departamentos do país", informou o procurador-geral, Juan Lanchipa.

Segundo o procurador, os detidos "são investigados por conduta antieconômica, prevaricação, manipulação de informação e alteração de dados, entre outros crimes ligados aos resultados das eleições nacionais".

Reação internacional 

O presidente americano, Donald Trump, saudou a queda do líder esquerdista como um sinal para regimes "ilegítimos" e elogiou o papel dos militares. 

"Esses eventos enviam um forte sinal aos regimes ilegítimos da Venezuela e da Nicarágua de que a democracia e a vontade do povo sempre prevalecerão", disse Trump, referindo-se a duas outras nações latino-americanas de esquerda que são alvo do governo Trump.

O desenlace foi denunciado como um "golpe de Estado" pelos governos de esquerda da América Latina, incluindo México, Cuba, Argentina, Venezuela e Uruguai. 

O governo russo, também aliado de Morales, disse que ações violentas da oposição forçaram Morales a sair, enquanto a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini e o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediram "moderação", "responsabilidade" e novas eleições.

Países como Colômbia, Peru e Paraguai também pediram uma transição pacífica e novas eleições.

A OEA convocou uma reunião extraordinária do Conselho Permanente nesta terça, a pedido de Brasil, Canadá, Colômbia, Estados Unidos, Guatemala, Peru, República Dominicana e Venezuela, informou a OEA em comunicado.

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