Perda

Morre Roger Scruton, mais celebrado pensador conservador da atualidade

Depois de muitos anos sendo quase anônimo no Brasil, o filósofo se tornou recentemente uma espécie de celebridade editorial no país

Dom, 12/01/20 - 21h07
Roger Scruton era o maior pensador conservador da atualidade e morreu aos 75 anos | Foto: Instagram/reprodução

O filósofo Roger Scruton morreu neste domingo (12), aos 75 anos, segundo comunicado da família no site oficial do britânico.

O pensador, que esteve em São Paulo e em Porto Alegre no último mês de julho para conferências no Fronteiras do Pensamento, havia tido um câncer diagnosticado há seis meses, ainda segundo a mensagem da família.

Em entrevista à Folha no ano passado, o filósofo, pensador conservador mais celebrado da atualidade, disse: "Há mil coisas que podem ser chamadas de conservadoras, há mil coisas que podem ser chamadas de liberais. O que importa, no final, é o que você faz com elas".

"A esquerda se acha dona da verdade, e acham que devem nos calar. Na mídia social, eles podem fazer isso sem ter de fazer esforços de entendimento ou engajamento para convencer pessoas com argumentos", disse ele ainda na ocasião.

O escritor, que foi conferencista no prestigioso Birkbeck College, em Londres, é autor de cerca de 50 livros. Além de filosofia e política, o professor da Universidade de Buckingham escreveu sobre estética, e produziu para a rede BBC o documentário "Por que a Beleza Importa?".

Após anos de relativo anonimato no Brasil, com poucas de suas obras sendo traduzidas, Scruton havia se tornado nos últimos anos uma espécie de celebridade editorial no país, com quase 20 livros publicados, como "O que É Conservadorismo" (É Realizações), "Como Ser um Conservador", "A Alma do Mundo" e "Tolos, Fraudes e Militantes" (Record).

O totalitarismo era um dos temas de maior interesse de Scruton, que criticava a União Europeia como projeto por ver na comunidade o valor individual reprimido em favor de uma burocracia sem face. Na mesma linha, foi um dos apoiadores do brexit.

Nos anos 1970 e 1980, Scruton ajudou a montar uma rede de intelectuais dissidentes de regimes comunistas do Leste Europeu. Acabou banido da Tchecoslováquia, só para acabar condecorado pelo país após a redemocratização de 1989.

Em abril do ano passado, foi afastado do cargo de conselheiro de uma comissão do governo conservador britânico para melhorias urbanas por conta de uma entrevista à revista esquerdista New Statesman na qual, ficou provado depois, o jornalista havia editado frases para que parecessem racistas ou preconceituosas. Em julho, foi reconduzido ao posto.

"Usaram os mesmos métodos totalitários que eu combati no Leste Europeu, tiraram tudo de contexto. Tentaram me atingir sem que eu tivesse feito nada de errado, mas pelo que eu penso", disse ele sobre o caso à Folha.

Scruton recebeu o título de sir em 2016 por seus serviços à filosofia, ao ensino e à educação pública.

Scruton deixa a mulher, Sophie, e os filhos, Sam e Lucy.

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