Democratas Suecos

Mulher encara 300 neonazistas e abre discussão sobre afrofobia 

Partido nacionalista, conservador e anti-imigração fomenta discurso de ódio na internet

Por Da redação
Publicado em 06 de maio de 2016 | 03:00
 
 
Imagem que vale por mil palavras. Tess Asplund de punho fechado em protesto contra neonazistas suecos DAVID LAGERLÖF/EXPO/TT NEWS AGENCY/PRESS ASSOCIATION IMAGES

A imagem de Tess Asplund de punho erguido, “peitando” o grupo de extrema-direita, está correndo. Entrevistada pelo jornal britânico “The Guardian”, Tess conta que não refletiu e agiu no momento. “Foi um impulso. Eu estava tão zangada, tive de sair para a rua”, confessa. “Só pensava: nem pensar, eles não podem marchar aqui. Nenhum nazi vai marchar aqui, não está correto”.

Depois da manifestação, Tess foi para Estocolmo e se esqueceu o assunto. Na segunda-feira, percebeu que a foto estava viralizando nas redes sociais. Agora, ela teme pelos seus 50 kgs de coragem – que lhe parecem pouco quando pensa nos “grandes e loucos” membros do grupo de extrema-direita. “Talvez não o devesse ter feito esse ato de protesto, quero paz e sossego”, desabafa.

O medo não é em vão. Tess afirma que as ações daquele grupo lhe são familiares e conta que alguns dos seus amigos já foram atacados e obrigados a mudar de casa. Ela mesma já recebeu telefonemas anônimos no meio da noite. “É difícil falar sobre o ódio. Sinto vergonha por termos esse problema. As autoridades dizem que é um país democrático. Mas estamos falando de nazistas! É horrível”, confessa.

A manifestação de domingo acontece num momento em que os movimentos de extrema-direita estão aumentando na Suécia, explica Daniel Poohl, editor da “Expo”, uma revista anti-racista sueca, na qual pertence o fotógrafo que captou a imagem viral.

O impacto da fotografia foi tal que os meios de comunicação suecos já a compararam a uma outra famosa imagem, capturada por Hans Runesson, em 1985, e que ficou conhecida como “a senhora com a mala”. Na imagem, hoje com mais de três décadas, uma mulher usa a sua mala para bater num skinhead do partido neo-nazi sueco, dissolvido em 2009.

retrocesso. As sondagens mostram que os Democratas Suecos, um partido nacionalista, conservador e anti-imigração, conquistaram 20% das intenções de voto dos eleitores e mantêm o poder no Parlamento, enquanto a proliferação do seu discurso se espalha por sites que incitam ao ódio.

“É no espectro mais extremista dessa ideologia que encontramos o Movimento da Resistência Nórdica”, explica Poohl. “Vivemos numa Europa onde as ideias de extrema-direita estão se tornando cada vez mais populares, mas também existe uma reação contra elas”, diz ele. “O gesto de Tess capturou um desses conflitos atuais”, analisa.

A Suécia rejeitou, no início deste ano, a entrada de mais refugiados e migrantes da Ásia e do Oriente Médio, alegando receio de que eles ameacem a segurança nacional, depois de terem sido registrados episódios de violência em centros de acolhimento de refugiados. Em janeiro, o país começou a recusar a entrada de migrantes sem documentos.

Preconceito

Suécia. As Nações Unidas consideram que a Suécia tem um problema específico de afrofobia. “O racismo foi normalizado no país. Pensava que a Suécia em 2016 seria mais aberta, mas alguma coisa aconteceu”, lamenta Tess Asplund.

Homenagem às vítimas de Auschwitz

Oswiecim, Polônia. Milhares de jovens poloneses e judeus de Israel, assim como mais de 40 países, se uniram ontem aos sobreviventes do campo de Auschwitz para participar de uma cerimônia em memória das vítimas. A “marcha dos vivos”, peregrinação celebrada todos os anos, reuniu milhares de pessoas no campo, onde estima-se que cerca de um milhão de pessoas tenham morrido.

A sobrevivente Feiga Schmidt Libman, 81, contou que sua avó, sua tia e suas primas morreram ali. Seu pai faleceu no campo de Dachau, na Alemanha. “Só quero que as pessoas saibam que o ódio mata”, disse Libman, que na época tinha 10 anos.

A marcha começou no povoado de Oswiecim, onde os nazistas construíram o campo em 1940. Os participantes passaram pelo portão de entrada e caminharam 3 3km até Birkenau, onde ocorreu o extermínio. Essa é a 28º edição da cerimônia, que coincide com o dia em que Israel lembra as vítimas.