Médico Sem Fronteiras

ONU diz que ataque contra hospital afegão pode ser crime de guerra

Governo do Afeganistão afirmou que as forças norte-americanas bombardearam hospital e ao menos 19 pessoas morreram; outras 37 ficaram feridas

Sáb, 03/10/15 - 16h40
Hospital do Médico Sem Fronteiras é bombardeado no Afeganistão | Foto: MSF / AFP

O chefe do escritório de Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra'ad al-Hussein, falou em "crime de guerra" ao comentar, neste sábado (3), o bombardeio que atingiu um hospital da organização Médico sem Fronteiras (MSF) em Kunduz, no norte do Afeganistão. 

"Esse evento profundamente chocante deve ser rapidamente, profundamente e independentemente investigado, e seus resultados devem ser tornados públicos. A seriedade do incidente é ressaltada pelo fato de que um bombardeio contra um hospital pode ser considerado um crime de guerra."

Para ele, o incidente "extremamente trágico, sem desculpas e possivelmente até criminoso".

Ao menos 19 mortos

O governo do Afeganistão confirmou neste sábado (3) que as forças norte-americanas bombardearam durante a última madrugada um hospital da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) na cidade de Kunduz, no norte do país, onde ao menos 19 pessoas morreram e outras 37 ficaram feridas.

Entre os mortos estavam 12 membros da organização, quatro pacientes adultos e três crianças.

A MSF disse que as vítimas mais graves foram transferidas para um hospital regional em Puli Khumri, a cerca de duas horas de distância.

De acordo com o porta-voz do Ministério da Saúde do Afeganistão, Wahidullah Mayar, o centro de saúde ficou "destruído quase em sua totalidade pelo fogo causado após o bombardeio dos EUA".

O porta-voz das tropas americanas no Afeganistão, o coronel Brian Tribus, reconheceu que um bombardeio dos EUA em Kunduz poderia "ter causado danos colaterais em uma instalação médica próxima", mas não entrou em detalhes ao acrescentar que o "incidente" estava "sob investigação".

Na última segunda-feira, os talibãs atacaram e tomaram Kunduz, uma cidade estratégica para as comunicações no norte do país, sua conquista mais importante desde que foram removidos do poder durante a invasão de americanos e aliados em 2001.

As tropas afegãs declararam que retomaram a cidade na quarta-feira em um contra-ataque que contou com apoio aéreo dos Estados Unidos, mas, desde então, os confrontos continuam na cidade.

Investigação em andamento

Algumas horas após o ataque, o secretário de Defesa dos EUA, Ash Carter, disse que já há uma investigação em andamento para esclarecer o motivo do bombardeio.

"Enquanto nós ainda estamos tentando determinar exatamente o que aconteceu, eu quero estender meus pensamentos e orações a todos os afetados. Uma investigação completa desse trágico acidente já está em curso, em coordenação com o governo afegão", afirmou.

"A área tem sido cena de uma intensa batalha nos últimos dias. As Forças Armadas dos EUA, em apoio às forças de segurança do Afeganistão, estavam operando na região, assim como o Talibã", continuou.

Cobrando explicações

Em um comunicado, a Médicos Sem Fronteiras afirmou que o mais provável é que o hospital tenha sido bombardeado por forças lideradas pelos EUA.

"Todas as indicações no momento apontam para o bombardeio ter sido realizado por forças da Coalizão Internacional", disse a organização.

"A MSF demanda por uma explicação total e transparente da Coalizão sobre suas atividades em Kunduz na manhã deste sábado."

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