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Papa chega à Suécia para celebrações dos 500 anos da Reforma de Lutero

Francisco terá quatro compromissos públicos, entre homilias, discursos e angelus, e está previsto que ele também faça pronunciamentos em sua língua natal

Seg, 31/10/16 - 10h53
Papa Francisco ataca as 'fake news' | Foto:

O papa Francisco chegou  nesta segunda-feira (31) na Suécia para se encontrar com os protestantes por ocasião do aniversário de 500 anos da Reforma de Lutero e impulsionar um diálogo que continua difícil.

"É uma viagem importante" de um ponto de vista ecumênico, declarou o papa a jornalistas presentes no avião que o levou a Malmö, no extremo sul da Suécia.

Enquanto os teólogos luteranos e católicos continuam o seu lento diálogo doutrinal iniciado há 50 anos, a ambição do papa é se aproximar, através de ações concretas, os 1,2 bilhão de fiéis católicos de seus irmãos protestantes, neste caso com os luteranos (74 milhões de seguidores).

Em 31 de outubro de 1517, o monge católico alemão Martinho Lutero atacou o comércio pelo papa de "indulgências" pelo perdão dos pecados e um acesso mais fácil para o paraíso, colocando suas "95 Teses" na porta de uma capela de Wittenberg (sul de Berlim).

Ele foi excomungado e esta ruptura resultou em guerras religiosas sangrentas nas décadas seguintes.

A presença do papa para lançar um ano cheio de eventos em torno Lutero (particularmente na Alemanha) despertou o entusiasmo de todos aqueles que promovem a unidade dos cristãos em um mundo cada vez mais secularizado.

Mas não agrada a ala mais conservadora da Igreja. No início deste ano, o guardião do dogma no Vaticano, o cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller, havia considerado "que não existe nenhuma razão para celebrar" a Reforma, que "levou ao colapso do cristianismo ocidental".

Os eventos programados para esta segunda-feira no sul da Suécia foram simplesmente chamados de "comemoração conjunta" e não "celebração".

"Lutero deu um grande passo para colocar Deus nas mãos do povo", ressaltou o papa sobre o reformador que traduziu a Bíblia para o alemão.

Em uma entrevista publicada na sexta-feira em duas revistas jesuítas, na Suécia e no Vaticano, o papa insistiu também no "ecumenismo de sangue": "Quando os cristãos são perseguidos e assassinados, eles são porque são cristãos, não porque são luteranos, calvinistas, anglicanos, católicos ou ortodoxos".

Um diálogo difícil

O papa, que pronunciará uma homilia na catedral luterana de Lund, e entrará ao lado da primaz da Igreja Luterana da Suécia, Antje Jackelén, primeira mulher a ocupar o prestigiado púlpito de Arcebispo na Catedral de Uppsala.

Em uma entrevista ao jornal sueco Dagens Nyheter publicada nesta segunda-feira em seu site, o cardeal suíço Kurt Koch reconheceu que a organização das celebrações não correram de forma tão tranquila, pelo fato de que o interlocutor do Vaticano era uma mulher.

"É claro que para reconhecer os sacerdotes de outra Igreja não é uma vantagem. E isso porque não é possível para nós a ordenação de mulheres", disse o cardeal, presidente do Pontifício Conselho para a promoção da unidade dos cristãos que conduz o diálogo com os luteranos.

"Aceitamos é claro que uma mulher seja arcebispo. Mas é um obstáculo no caminho do reconhecimento da tradição desta Igreja", acrescentou.

Antje Jackelén também confirmou a complexidade de organizar as celebrações, sem discutir explicitamente este aspecto. "Por um lado, porque é um evento completamente inédito, por outro porque envolve muitos atores", disse ao jornal.

A Igreja do país escandinavo permite a ordenação de mulheres desde 1960, celebra o casamento entre pessoas do mesmo sexo desde 2009 e nomeou uma bispo lésbica em Estocolmo. Impensável para a Igreja Católica Romana.

No entanto, católicos e luteranos têm em comum o batismo e a Eucaristia, mesmo que este último tenha um simbolismo muito diferente em ambas as religiões.

Um encontro ecumênico em um estádio de Malmö, cujo tema central será a crise na Síria, será mais um dos destaques da visita do papa em um país que acolheu 245.000 refugiados entre 2014 e 2015.

Conheça alguns fatos sobre a Reforma Protestante

Nascido há quase 500 anos depois do desafio de Martinho Lutero à autoridade do Papa, o protestantismo agrupa uma miríade de Igrejas - luteranas, reformadas, evangélicas, etc.- integradas por cerca de 800 milhões de fiéis.

31 de outubro de 1517

É o ponto de partida do movimento da Reforma. Nesta data, o teólogo alemão Martinho Lutero difundiu suas "95 teses", frases curtas na quais criticava o comércio das indulgências - um sistema de perdão dos pecados da Igreja católica para financiar a construção da Praça de São Pedro no Vaticano - e questionava a autoridade do papa Leão X, que excomungou o monge em 1521.

A mensagem de Lutero se expandiu rapidamente pela Europa graças à imprensa.

Três facções principais

Originalmente, se distinguem três grandes facções na Igreja Reformada: as Igrejas luteranas herdadas do pensamento de Lutero, as Igrejas calvinistas (reformadas ou presbiterianas) e a Igreja anglicana.

O calvinismo designa a corrente inspirada pelo teólogo e reformador francês João Calvino, que concebeu, com um enfoque rigoroso, um novo modo de funcionamento da Igreja em Genebra, a partir de 1536.

O anglicanismo nasce de uma disputa política entre o rei da Inglaterra, Henrique VIII, e o papa Clemente VII, que negou, em 1530, cancelar seu casamento com Catarina de Aragão. Estruturada como a Igreja católica, a Igreja anglicana é considerada o meio do caminho entre o catolicismo e o calvinismo.

Múltiplas subdivisões

As ramificações da Reforma são múltiplas, dos anabaptistas e as congregações puritanas aos metodistas, batistas, evangélicos e pentecostais.

O Museu Virtual do Protestantismo distingue "cinco famílias principais": as Igrejas luteranas, reformadas, evangélicas, anglicanas e pentecostais.

A esta se acrescentam correntes paralelas, como os adventistas do sétimo dia, os unitaristas ou os menonitas, como os "amish" dos Estados Unidos, que rejeitam usar qualquer tecnologia moderna.

Três grandes princípios

A Igrejas protestantes se reúnem em torno de três princípios fundamentais: a preponderância da Bíblia ("a única Escritura"), a importância da fé ("a única Fé"), que se pratica de forma pessoal, e a noção de graça ("a única Graça"), que permite salvar o homem sem a noção de mérito e redenção do catolicismo.

Mais de 800 milhões de fieis

Repartidos em uma variedade de Igrejas, a quantidade de protestantes em todo mundo é difícil de avaliar, enfatiza a enciclopédia católica Théo.

O centro de pesquisas independente americano das religiões Pew Research Centre calcula que há cerca 801 milhões de protestantes em termos gerais no mundo, segundo relatório de 2011.

De acordo com um balanço do Museu Virtual do Protestantismo, os evangélicos seriam 500 milhões, os pentecostais, 200 milhões; os anglicanos, 70 milhões; os luteranos, 65 milhões e os reformados 50 milhões.

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Atualizada às 13h36