História contemporânea

Primeira guerra faz cem anos às sombras da crise na Ucrânia 

No dia 28 de julho de 1914, a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia

Dom, 27/07/14 - 03h00

O risco de que o conflito na Ucrânia evolua para uma Terceira Guerra Mundial, após a derrubada do avião da Malaysian Airlines, parece pouco provável, segundo especialistas. Um dos fatores que contribuem para isso são as lições deixada pela Primeira Grande Guerra, cujo início faz cem anos amanhã.

No dia 28 de julho de 1914, um mês após o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, ser assassinado por um extremista sérvio em visita à Bósnia, a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia e iniciou a Primeira Guerra Mundial.

Segundo Angelo Segrillo, professor de história da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e autor do livro “Os Russos”, o fato de os rebeldes pró-Rússia terem permitido os trabalhos de remoção dos corpos e destroços do avião na Ucrânia indicam que o clima de guerra deve ficar restrito ao país. “Já passamos por duas guerras mundiais e talvez tenhamos aprendido a não deixar esse tipo de conflito localizado escalar”, diz.

Outra lição deixada pela Primeira Guerra é o cuidado com as alianças. “Em um mundo em que haja sistemas de alianças – como por exemplo a Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) hoje – é importante não deixar que conflitos localizados possam escalar para guerras generalizadas envolvendo outros países”, afirma Segrillo, ressaltando um ponto em comum entre 1914 e os nossos dias.

Foi justamente um sistema de alianças que envolveu tantos países na maior guerra até então. “Como no início do século XX, o mundo estava organizado em dois grupos – Tríplice Aliança, com os impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomoano, e Tríplice Entente, formada por Inglaterra, França e Rússia –, o assassinato do arquiduque austríaco Francisco Ferdinando iniciou uma reação em cadeia envolvendo vários países na guerra”, explica o professor de história da PUC-Minas Alysson Parreiras Gomes.

A Primeira Guerra deixou também um enorme legado de heranças práticas (veja infográfico) e filosóficas. A mais importante delas, talvez, tenha sido a consciência do poder de destruição do homem.

“O que a Primeira Guerra mostra é que a capacidade humana, que pode criar tecnologias e facilitar a vida, também pode ser usada para destruir”, afirma Gomes. Para ele, o evento histórico tem função didática. “Ficou clara, em escala antes jamais vista, a nossa própria fragilidade humana, a nossa incapacidade de lidar com a diferença sem ser por meio da violência”, conclui.

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