Tensão internacional

Primeiro-ministro do Iraque diz que Suleimani estava em missão de paz

O secretário de Estado dos EUA respondeu com ironia, chamando o general iraniano morto de 'senhor gentil' e 'grande diplomata'

Ter, 07/01/20 - 20h12
Segundo o primeiro-ministro iraquiano, o general Qassim Suleimani estava em Bagdá em uma missão de paz | Foto: AFP

O primeiro-ministro do Iraque, Adel Abdul Mahdi, afirmou que o general iraniano Qassim Suleimani estava em Bagdá em uma missão de paz quando foi assassinado pelas forças americanas na sexta-feira (3).

Mahdi disse que ele e Suleimani haviam marcado uma reunião para que o comandante levasse uma resposta do governo do Irã a uma mensagem dos sauditas e afirmou que o Iraque estava mediando a negociação de paz entre os dois países, com apoio dos Estados Unidos. Grande parte das tensões na região derivam da rivalidade entre os dois países.

Na última sexta (3), um ataque de drone ordenado pelo presidente americano, Donald Trump, matou Suleimani e outras nove pessoas perto do aeroporto de Bagdá, entre eles o iraquiano Abu Mahdi al-Muhandas, comandante de um grupo de milícias xiitas que atuavam no Iraque, com apoio de Teerã.

Em sessão do Parlamento iraquiano, no domingo (5), Mahdi disse que Suleimani havia viajado ao Iraque para encontrá-lo e entregar "a resposta à mensagem do governo saudita que nós levamos ao Irã, e estavam perto de chegar a acordos importantes a respeito do Iraque e da região". Mahdi – que é alinhado ao Irã – disse também que o presidente Trump havia telefonado para ele e pedido ajuda na mediação das negociações com o Irã.

Em entrevista coletiva, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, negou que Suleimani estivesse em Bagdá em missão de paz quando foi alvejado pelos EUA. "Existe algum histórico que indique ser remotamente possível que esse senhor gentil, esse grande diplomata, Qassim Suleimani, pudesse ter viajado para Bagdá para conduzir uma missão de paz?", ironizou Pompeo. "Sabemos que isso não é verdade. Isso é propaganda de Zarif", disse, referindo-se ao ministro das relações exteriores do Irã, Javad Zarif, que também afirmou que Suleimani estava em Bagdá em uma missão diplomática.

Indagado se havia uma ameaça iminente de ataque terrorista que justificasse a morte de Suleimani, como afirmou Trump, Pompeo disse que as ações do comandante iraniano "levariam, potencialmente, à morte de muitos outros americanos".

De acordo com a conta feita pelos Estados Unidos, Suleimani é responsável pela morte de 700 militares americanos em todo o mundo.

Ele chefiava a força Quds, a elite da Guarda Revolucionária do Irã.

O comandante estava por trás do apoio militar ao ditador sírio Bashar al-Assad, que trava uma guerra que já resultou em 500 mil mortes desde 2011, atua com o Hizbullah (milícia e partido político do Líbano considerado terrorista por vários países) e apoia as milícias xiitas no Iraque, que causaram muitas mortes de soldados americanos após a invasão do país, em 2003.

Na votação do Parlamento iraquiano, a maioria dos legisladores xiitas votou a favor da retirada das tropas americanas do país, enquanto muitos representantes curdos e sunitas boicotaram a sessão.

Em entrevista a uma TV iraquiana, Mahdi disse que ficou otimista com a possibilidade de mediação de negociações entre Irã e Arábia Saudita após uma visita aos sauditas em setembro de 2019.

O príncipe regente saudita, Mohammed bin Salman, enviou a Washington seu irmão mais novo, Khalid bin Salman, que é vice-ministro da defesa do reino. Khalid se reuniu com Trump nesta terça-feira (7), na Casa Branca. Segundo mensagem enviada pelo saudita ao jornal Washington Post, ele "enfatizou a importância de manter a estabilidade na região após os recentes acontecimentos no Iraque".

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