CATALUNHA

Puigdemont desiste de ser presidente catalão e nomeia sucessor

Após parlamentar espanhol desistir de disputar eleição, sucessor não tem processos judiciais, o que favoreceria sua posse na próxima semana

Qui, 10/05/18 - 19h41

O líder separatista da Catalunha, Carles Puigdemont, anunciou nesta quinta-feira (10), na Alemanha, que desistiu de ser o presidente da região e nomeou um novato na política, Quim Torra, candidato à sua sucessão.

"Nosso grupo propõe o camarada deputado (catalão) Quim Torra para a presidência da Generalitat".

O governo catalão anunciou Puigdemont em um vídeo gravado na Alemanha e postado nas redes sociais no qual apontou como sucessor este editor de 55 anos sem experiência na política, mas muito engajado no movimento separatista.

Puigdemont encarregou Torra de seguir construindo a República Catalã - declarada sem efeito em 27 de outubro - e de respeitar o resultado do referendo de 1º de outubro, marcado pela violência policial e vencido amplamente pelos separatistas, mas com baixa participação.

Desconhecido de grande parte da sociedade catalã, Torra não tem processos judiciais abertos como os candidatos anteriores, razão pela qual poderia ser empossado na próxima semana no Parlamento catalão, controlado pelos separatistas.

"Honrado pela confiança recebida, aceito este encargo com responsabilidade e vontade de servir ao país", declarou Torra no Twitter.

Nativo da cidade costeira de Blanes, ao norte de Barcelona, tornou-se uma referência do ativismo separatista, chegando, inclusive, a presidir brevemente a influente entidade separatista Omnium Cultural antes de se unir à candidatura do "presidente Puigdemont", Juntos por Cataluña, para as eleições de dezembro.

Ele não tem vinculação direta com nenhum partido político, o principal aval de candidato em seu separatismo sem matizes:

"Sou advogado, editor, trabalhei minha vida toda pela liberdade de meu país", afirmou, em propaganda eleitoral do Juntos pela Catalunha.

"Seja qual for o candidato (...), o governo da Espanha lembra que tem a obrigação de respeitar a lei e estar em condição de cumprir com suas responsabilidades", limitou a apontar uma fonte do Executivo espanhol, acrescentando que a "Catalunha precisa de um governo legal e efetivo". 

Apesar de estar na Alemanha, devido a um processo de extradição da Espanha, que lhe acusa de rebelião e outros delitos, Puigdemont não tinha renunciado a recuperar o cargo.

O grupo parlamentar de Puigdemont, o Juntos pela Catalunha, o havia proposto no sábado passado como candidato à Presidência, mas o Executivo central de Mariano Rajoy conseguiu bloquear a posse ao recorrer na Justiça de uma reforma legal aprovada na Catalunha para permitir um governo à distância.

Com sua renúncia, o líder separatista, suspenso da Presidência regional por Rajoy após a frustrada declaração de independência do final de outubro, quer desbloquear a formação e um governo na Catalunha e terminar com seis meses de controle da região por parte de Madri.

Após seis meses de paralisia política, a rica região nordeste está em risco de celebrar novas eleições se não for empossado um novo presidente em 22 de maio.

Os defensores da separação obtiveram maioria absoluta do Parlamento catalão nas eleições de dezembro, mas suas tentativas de empossar um presidente foram bloqueadas pela Justiça.

Em janeiro, o Tribunal Constitucional proibiu Puigdemont de ser empossado à distância da Bélgica, onde havia se instalado após a tentativa frustrada de secessão.

E seus dois companheiros do Juntos pela Catalunha nomeados posteriormente, Jordi Sánchez e Jordi Turull, não receberam permissão judicial para deixar a penitenciária onde cumprem prisão preventiva acusados, assim como Puigdemont, de rebelião.

"Ficou claro diante do mundo a intolerância e a falta de respeito do Estado com a vontade dos cidadãos da Catalunha", disse Puigdemont em seu discurso, no qual incentivou o próximo executivo regional a construir um país independente.

A sessão de posse de Quim Torra deve ser celebrada no começo da semana que vem. O candidato conta a princípio com maioria para ser empossado graças ao apoio do Juntos pela Catalunha e o outro grande partido independentista, o Esquerda Republicana.

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