Ataques na Síria

Putin adverte sobre 'caos nas relações internacionais'

Presidentes da Rússia e do Irã dizem que ataques comprometem possível acordo político

Por Da Redação
Publicado em 16 de abril de 2018 | 03:00
 
 
Manifestantes fizeram no sábado um protesto em frente à Casa Branca contra os ataques com mísseis realizados na Síria Mandel Ngan/AFP

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o do Irã, Hassan Rouhani, tiveram uma conversa por telefone para discutir as condições na Síria, após o ataque com mísseis realizado por Reino Unido, Estados Unidos e França. Um comunicado do Kremlin disse que Putin e Rouhani concordaram que as ações ocidentais prejudicaram as chances de se chegar a uma solução política para o conflito de sete anos que já matou pelo menos meio milhão de pessoas. “Esta ação ilegal afeta negativamente as perspectivas de um acordo político na Síria”, diz o comunicado.

Putin ressaltou que ações do tipo violam a Carta da Organização das Nações Unidas e “isso inevitavelmente gera caos nas relações internacionais”, segundo a nota. A agência estatal IRNA citou Rouhani: “Os EUA e alguns países do Ocidente não querem que a Síria atinja a estabilidade permanente”. Rouhani afirmou que tanto o Irã quanto a Rússia não deveriam permitir “o fogo de uma nova tensão” na região, acrescentando que os ataques aéreos na Síria foram uma “invasão”, voltada a “fortalecer terroristas derrotados”.

O Irã e a Rússia são aliados cruciais do presidente sírio, Bashar al-Assad, cujas forças foram acusadas de lançar um suposto ataque com armas químicas perto de Damasco, há uma semana, que levou ao ataque com mísseis de Reino Unido, EUA e França, no sábado (noite de sexta-feira, no horário de Brasília). Os três países insistiram que o ataques não visavam derrubar o presidente Bashar al-Assad ou intervir no conflito.

Sanções. A embaixadora dos EUA na Organização das Nações Unidas, Nikki Haley, afirmou nesse domingo (15) que o país imporá mais sanções econômicas contra a Rússia. O motivo é o apoio de Moscou ao presidente sírio e ao aparente uso de armas químicas. Nikki disse que o secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, anunciará nesta segunda-feira (16) as sanções, que afetarão companhias que “lidam com equipamento relacionado a Assad e o uso de quaisquer armas químicas”.

Em entrevista à rede CBS, Nikki afirmou que a Rússia precisa sofrer as consequências por proteger o regime de Assad. Ela lembrou que os russos vetaram seis resoluções do Conselho de Segurança da ONU sobre armas químicas. Nikki disse ainda que o fato de que Assad usava armas químicas como algo normal e que a Rússia encobre isso precisa parar. Ativistas da oposição síria e equipes de resgate afirmam que um ataque químico na cidade de Douma, perto da capital síria, matou mais de 40 pessoas em 7 de abril. O regime sírio nega.

Países europeus se posicionam

O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou nesse domingo (15) que o ataque militar realizado em conjunto com os EUA e com o Reino Unido contra alvos sírios foi realizado em retaliação ao suposto ataque químico, que teria sido feito a mando do governo de Bashar al-Assad. Em pronunciamento, Macron disse ter evidências de que Assad usou armas químicas contra seu próprio povo.

O presidente francês comentou que a ação foi uma “retaliação, não um ato de guerra”. Macron disse que os aliados tinham “plena legitimidade internacional para intervir” na Síria, porque os ataques eram sobre a aplicação do direito internacional humanitário. “Chegamos em um momento em que esses ataques se tornaram indispensáveis”.

Já o ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, afirmou que espera que os ataques aéreos na Síria resultem em um novo esforço para encontrar uma solução pacífica para o conflito. Maas disse que a investida dos países ocidentais contra o regime de Assad “deveria deixar clara para todas as partes a necessidade de retomar o processo político”.

Ele comentou que espera que uma “janela para o diálogo” tenha sido aberta com a Rússia, aliado mais próximo da Síria, agora que as eleições russas acabaram. A Alemanha não se juntou aos EUA, Reino Unido e França no ataque, embora a chanceler Angela Merkel tenha considerado o ataque “necessário e apropriado”.